Em visita ao Paraná, na última sexta-feira, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) Blairo Maggi falou ou então deixou nas entrelinhas muitas coisas que muita gente não queria ouvir. Mas que precisavam ser ditas. Que o Brasil está quebrado, sem contratações e sem novos investimentos. “Muitas coisas deveriam ser feitas e não foram. E não serão enquanto formos um governo provisório”, disse o ministro em referência às criticas que o governo temporário do presidente Michel Temer enfrenta pela falta de respostas rápidas à crise política e econômica que assola o país.
Outra posição firme e polêmica do ministro foi em relação à produção de tabaco. Sobre consultas e possíveis pressões do Ministério da Saúde para combater e reduzir o consumo, Maggi disse que essa história tem outro lado, o do produtor rural. São mais de 600 municípios e milhares de pessoas que produzem tabaco. E que como “promotor público para defender o agricultor”, ele não pode deixar de olhar para essa realidade. Sobre uma possível redução dos juros agrícolas, que foram reajustados na safra atual, falou que sonha em ver novamente taxas de 2,5% a 3% para financiar máquinas. Mas que agora não existe espaço para essa discussão.
Ciclos
Com autoridade de ministro, ex-governador e senador pelo estado do Mato Grosso, e principalmente de produtor rural, ele acredita que o agronegócio é o caminho para o país sair da crise. “Não tem chance de se recuperar pela indústria. Isso vai levar anos. O caminho é o agronegócio.” Conforme seu ponto de vista, a retomada com a rapidez necessária passa pelo setor. Uma avaliação correta, a considerar que o agronegócio é feito de ciclos, e ciclos curtos, que se renovam a cada ano. Talvez, o ciclo mais curto entre os todos os segmentos da economia brasileira.
A pergunta é como fazer isso? Até porque, o agronegócio também sofre os efeitos colaterais da crise na economia, com redução no consumo e aumento nos custos de produção. Além do efeito do clima, que somente na safra passada (2015/16) tirou mais de 10 milhões de toneladas o potencial produtivo das lavouras de grãos. A resposta estaria no estimulo ao mercado internacional, com um trabalho focado em ampliar os embarques e os destinos de proteína animal e vegetal, exportar mais soja, milho, carnes e derivados. Sua tarefa no ministério, diz o ministro, vai muito além de cuidar da produção. “Temos que vender.”
Ataque
E a estratégia está sendo montada. “Estamos nos estruturando para fazer um ataque ao mercado internacional”, afirmou Maggi. O objetivo é ampliar a participação do Brasil no comércio internacional do agronegócio. O país responde atualmente por menos de 7% de um mercado estimado em US$ 1 trilhão. No curto prazo, a meta é garantir pelo menos 10% desse comércio. Outro dado interessante e complementar está no balanço das exportações brasileiras. No primeiro semestre, o agronegócio foi responsável por metade de todos os embarques do período.
Para crescer em exportação, será necessário crescer em produção, o que não seria um problema, pelo menos não quanto à disponibilidade de terra. Com dados da Embrapa, o ministro fez um desenho da ocupação do território nacional: 60% de preservação; 13% de terras indígenas, 19% pecuária e 8% agricultura. Tanto a produção de carnes com de grãos pode aumentar dando maior produtividade à pecuária, com a consequente liberação de área para a agricultura.
Fórum de Agricultura 2016
Em sua quarta edição, o Fórum de Agricultura da América do Sul 2016 coloca em pauta e em debate a visão da nova gestão no Ministério da Agricultura. Com o tema “Nova estratégia para uma nova agricultura”, o fórum vai discutir cadeias produtivas, temas transversais como clima, tecnologia e infraestrutura, sempre sob a perspectiva do mercado. Não há como dissociar produção de exportação. Bem como exportação de modelos e estratégias comerciais. Das negociações em bloco, aos acordos bilateriais ou multilateriais, o Brasil precisa ter um horizonte, se posicionar no Mercosul e fora dele, sob pena de além de não avançar, perder espaço no comércio internacional.
O Fórum de Agricultura 2016, que vai discutir as tendências do agronegócio mundial e globalizado, sob a perspectiva sul-americana, ocorre em Curitiba, no Paraná, dias 25 e 26 de agosto, com a presença de palestrantes e ouvintes nacionais e internacionais.
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