Ao circular pelo Centro de Curitiba e estradas do Paraná já é possível ver barraquinhas de vendas de pinhão. O problema é que, mesmo que o pinhão esteja ‘bonito’, ele é ilegal e pode apresentar risco à saúde. A colheita e a comercialização só podem ser feitas a partir de domingo (1), conforme a portaria 046/2015 do Instituto Ambiental do Paraná.
“Essa é uma determinação do IAP que já tem três anos, em função de uma discussão que tivemos no Conselho Estadual do Meio Ambiente. Ela existe pelo risco de colher pinhão verde, não maduro”, explica o professor da UFPR Flavio Zanette, uma das maiores autoridades sobre araucárias no Brasil.
Segundo ele, regularmente algumas árvores começam a derramar pinhão em fevereiro, mas são poucas. “Só a partir da segunda quinzena de março é que começa a cair a variedade São José, bastante disseminada e com muitos exemplares”. Apesar disso, a determinação é que a colheita seja feita apenas em abril.
O motivo, explica o especialista, é que o consumo do pinhão precoce traz perigo à saúde humana, devido ao risco de fungos. “[O pinhão] precisa estar amarelo ou marrom, assim como a semente, e não esbranquiçado, como muita gente insiste em colher”, afirma. Zanette dá outra dica para que não haja riscos: a pinha precisa estar dura. Caso esteja marrom, mas mole, a pinha pode ter sido colhida verde e passado uma semana em um paiol até escurecer.
Pinhão mineiro?
A alegação de alguns dos vendedores do Centro de Curitiba é que o pinhão veio de Minas Gerais. Contudo, ainda assim a venda é ilegal.
“O pinhão em Minas Gerais realmente fica um mês mais maduro que o da nossa região. No entanto, eles não poderiam vender porque o mineiro somente pode ser vendido lá. Se fosse autorizada a venda aqui [no Paraná], logo iriam misturar com o nosso. Por isso, é contravenção vender antes de domingo”, alerta o professor.
‘Porte ilegal’
Comprar o produto antes do determinado, destaca Flavio Zanette, é um estimulo à transgressão. Além disso, a pessoa que for flagrada na venda, transporte ou armazenamento do pinhão antes de 1º de abril está sujeita a responder a processos administrativo e criminal, além de receber auto de infração ambiental e multa de R$ 300 para cada 60 quilos de pinhão.
“A participação da sociedade denunciando, e principalmente não comprando pinhão antes da data permitida, assim como pinhas verdes, é muito importante para garantir a perpetuidade das araucárias”, afirma o diretor de Restauração e Monitoramento Florestal do IAP, Francelo Mognon.
Safra de pinhão em 2018
No ano passado, a colheita de pinhão no Paraná foi próxima de 5 mil toneladas. Neste ano, contudo, a safra deve ser 30% menor, segundo a avaliação do professor Zanette. “Produtor no Paraná não temos nenhum, o que é comercializado é 100% extrativismo”, revela. “Com isso, a tristeza é que [a produção] tende a diminuir sempre”, completa.
Ele destaca que seria preciso um melhor trabalho e cita a cidade de Francisco Beltrão como exemplo, onde recentemente foi realizado o plantio de 250 mudas enxertadas na cidade. “Isso corresponde a três hectares de pomares para a produção de pinhão. A partir de 8 ou 9 anos, ele já inicia a produção, que segue até pelo menos aos 80 anos da árvore”, explica.
Para fazer a coleta, os técnicos do IAP dão algumas dicas: “O ideal é que o consumo seja somente dos pinhões em que houve a queda da pinha, pois, além do risco de queda que existe ao subir em uma árvore como a araucária, o fato do pinhão estar no chão mostra maior probabilidade da pinha já ter completado o seu ciclo de maturação”, explica Francelo Mognon.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
Deixe sua opinião