Longe dos escândalos que abalaram neste ano o prestígio e as finanças das grandes empresas do setor de carnes no Brasil, a central de cooperativas Aurora, com sede em Chapecó, Santa Catarina, pretende ocupar o espaço deixado pelos concorrentes, tanto no mercado interno como externo. E traça um planejamento ambicioso para os próximos cinco anos: “Queremos passar de 1 milhão para 2 milhões de aves abatidas por dia”, revela o presidente da Aurora Alimentos, Mário Laznaster.
Atualmente, a Aurora é o terceiro maior conglomerado industrial do setor de carnes do país. A cooperativa tem 8 frigoríficos de frango. A última unidade foi instalada em Mandaguari, no Norte do Paraná.
De maneira geral, a indústria de carnes, principalmente de aves e suínos, esqueceu 2016 ou, pelo menos, faz de tudo para não lembrar. Além da forte crise econômica, que afetou o consumo das famílias brasileiras, a cadeia foi fortemente impactada pelo alto preço do milho, que bateu na casa dos R$ 60 entre o segundo e o terceiro semestre do ano passado. A ração é responsável por mais da metade dos custos de produção desses animais, sendo que o milho é o insumo mais utilizado.
O cenário em 2017 é completamente o oposto, com safra recorde, a saca do cereal está cotada a R$ 25, preço que deu fôlego, principalmente para quem consome muito. Mesmo com um ano ruim no setor de aves, em 2016, a Aurora, que é formada por 23 cooperativas, registrou um aumento no número de abates, na produção e na exportação do animal.
“A Aurora é uma marca cada vez mais querida pelo consumidor interno e externo”, diz o presidente da empresa. Atualmente, são exportados 65% da produção. A empresa atende mais de 140 países. “Nós vivemos uma gangorra. No ano passado nós tínhamos um frango caro no mercado internacional. Hoje nós temos a carne mais barata do mundo”, diz.
No comparativo entre os anos de 2015 e 2016, a planta do Paraná foi a segunda unidade em crescimento de abates, com 15,4%. “O mercado nacional ainda vive uma retração. Na Aurora, nós não tivemos cortes, mas também não tivemos contratações e nem expansão de abates. Optamos em otimizar a produção e aumentar nossa produção”, conta Laznaster.
Na opinião do executivo, o mercado nacional e internacional tem espaço para avicultura, atividade que gera renda para 2.900 produtores cooperados da Aurora. “É uma vocação do país, que além de agregar valor, gera emprego e renda no campo. Tem um papel social imenso”, opina.
Em 2016, as aves foram responsáveis por 35,6% do faturamento da Aurora Alimentos, que atingiu R$ 8,5 bilhões. A cooperativa também atua na produção de suínos e no complexo de leite.
Dentro da porteira
O ano de 2016 também foi desafiador para o avicultor. Além do aumento considerável no custo de produção, ele teve muitas vezes dificuldades de honrar compromissos com bancos. Com juros altos de financiamento, muitos foram impedidos de fazer melhorias na estrutura da propriedade.
Cooperados da Aurora, os produtores Valdecir Silvestre e Adriane Flávia Silvestre contam que não tiveram dificuldades com o banco, embora o período não tenha sido fácil. Com uma granja em Quilombo, no Oeste de Santa Catarina, o casal produz 13,8 mil frangos há três anos.
“Os preços sempre poderiam estar melhores, mas não posso reclamar”, afirma Valdecir, que além da esposa, conta com a ajuda da filha nos cuidados diários com o aviário. “Minha intenção era ter mais um, mas no ano passado não foi possível”, emenda.
A história da família começou dentro da própria Aurora. Valdecir trabalha há quase duas décadas transportando frangos para cooperativa. Com uma pequena propriedade, pensou no frango como a melhor opção para ter uma rentabilidade extra. “Dá para um bom retorno”, conta.
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