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Pelo bem-estar animal, e pelo lucro, ele decidiu soltar as galinhas

Rildo Ferraz em um galpão de galinhas poedeiras livres de gaiola em São Bento do Una, Pernambuco | Marcos Tosi/Gazeta do Povo
Rildo Ferraz em um galpão de galinhas poedeiras livres de gaiola em São Bento do Una, Pernambuco (Foto: Marcos Tosi/Gazeta do Povo)

“Sempre coloquei na cabeça que não queria ser apenas mais um criador de galinhas”. Se há algo que dá para dizer com certeza sobre o catarinense Rildo Ferraz, radicado há 25 anos no Agreste de Pernambuco, é que ele não é um avicultor convencional. Ferraz tem 420 mil galinhas poedeiras criadas em sistema livre de gaiola, ainda sem ganhar um centavo a mais por isso – pelo contrário, o custo de produção é cerca de 30% mais caro. “Muita gente já me chamou de maluco, que isso não dá certo, não vai pegar, que é coisa de europeu que tem condições de pagar por um ovo mais caro”, conta.

Enquanto na Europa desde 2012 só são aceitos ovos de galinhas livres de gaiolas, no Brasil ainda não há legislação impositiva nesse sentido. Mas o fato é que os clientes estão às portas das granjas de Ferraz. Em três meses ele deve ter oficialmente a certificação de que suas galinhas são criadas fora de gaiolas, sem antibióticos e alimentadas com ração sem derivados de animais.

Com o selo em mãos, ele deve fechar contrato e começar a entregar ovos para grandes redes supermercadistas que já visitaram as criações. E aí a relação custo-benefício se inverterá. Em vez de perder de 20 a 25% do valor dos ovos – que desde o início, em fevereiro de 2017, são vendidos como se fossem convencionais – ele vai acrescentar esses percentuais ao preço de venda. “Eu quis começar a criação e ver o desempenho, se a produtividade valeria a pena, e até agora os resultados são positivos”, diz Ferraz, que ainda está de olho na possibilidade de exportar para a Europa e os Estados Unidos, devido à maior proximidade geográfica em relação ao eixo da avicultura brasileira, no Sul do País.

Habitat natural

A decisão de Ferraz em apostar nas galinhas poedeiras livres de gaiolas foi tomada após visitas a outros países. “A ave de gaiola fica dois anos sem poder bater as asas, sem ciscar e socializar com outras galinhas, que têm o seu próprio meio social. Minhas galinhas estão livres, podem bater as asas e se empoleirar. Fomos nós que trouxemos as aves para o sistema artificial. Mas a natureza delas é isso aí, é ciscar pelo chão, comer raiz, sementes e pedriscos. Estamos trazendo novamente as galinhas para seu habitat natural”, diz Ferraz, enquanto recebe nas pernas pequenas bicadas de galinhas curiosas soltas em um dos barracões que mantém no município de São Bento do Una.

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O mercado para ovos de galinhas livres de gaiolas só deve crescer nos próximos anos. No Brasil, as maiores fabricantes de maionese, por exemplo (Unilever, Cargill, Bunge, Hemmer e Kraft Heinz), já se comprometeram a eliminar o uso de ovos de galinhas engaioladas entre 2020 e 2025. Na mesma linha vão grandes redes de fast-food como McDonald’s, Subway, Habib’s, Burger King e Giraffas. O grupo Pão de Açúcar se comprometeu, até 2025, a comercializar apenas ovos de galinhas livres de gaiolas em suas marcas exclusivas, mesmo prazo adotado pela Bauducco para pães e panetones. As gigantes do setor avícola também vão mudar a chave: a JBS eliminará os ovos de galinhas em gaiolas em 2020 e, a BRF, em 2025.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) tem se posicionado no sentido de interpretar o movimento “cage-free” como um nicho de mercado, ressalvando que defende o bem-estar animal em todos os sistemas de produção. A vantagem do sistema convencional, segundo a ABPA, é ser sanitariamente mais seguro, já que os ovos não têm contato com o chão do aviário. Por outro lado, a criação em gaiolas reduz custos e possibilita oferta de uma fonte de proteína mais barata para toda a população.

Loja do frango

A resolução de Rildo Ferraz de “não ser apenas mais um criador de galinhas” se estende também para a comercialização dos frangos e ovos. Insatisfeito por ver os supermercados ficarem com a faixa maior do lucro (“eu ganhava 10 centavos por quilo de frango enquanto eles lucravam um real ou mais”), o avicultor decidiu partir ele mesmo para a venda de seus produtos. Ferraz já inaugurou 16 lojas exclusivas de frango e ovo pelo Agreste pernambucano – sempre próximas de terminais e lugares onde “circula o povão”.

As lojas da Frango Favorito seguem um padrão visual clean, estilo shopping center, com paredes de tijolinhos à vista e logomarca destacada em painel vermelho. Já faturam, cada uma, entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por dia, vendendo os cortes de frango até dois reais mais baratos que a concorrência. Para o ano que vem, o empresário planeja abrir outras dez lojas próprias, todas no Nordeste.

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