Na semana em que a colheita da safra de verão finalmente ganha ritmo, as máquinas ainda têm um vasto terreno a percorrer para começar a encher de soja os armazéns. Até o momento, as colheitadeiras retiraram do campo perto de 10 milhões de toneladas da oleaginosa em todo o país – apenas uma fração das quase 50 milhões de toneladas que já foram comprometidas pelos agricultores.
Com pouco produto disponível no mercado, os primeiros lotes que saem das lavouras estão sendo disputados pelos compradores, que chegam a oferecer quase R$ 80 pela saca do grão para entrega imediata. Mas, com pelo menos metade da safra já vendida, muitos produtores mostram-se resistentes em se desfazer de uma parcela maior da produção antes de concluir os trabalhos de colheita, conferiu a Expedição Safra durante roteiro pelo Centro-Oeste nas últimas semanas.
“A comercialização deu uma travada porque já tem muita coisa comprometida. Quem já vendeu agora vai esperar para negociar o restante mais para o final da colheita”, conta o analista da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Leonardo Carlotto Portalete. Segundo ele, 45% da produção de soja esperada para a temporada no MS foram vendidos antecipadamente, sendo que, deste total, 1 milhão (t) devem seguir para exportação até março.
Com a colheita ainda na fase inicial na propriedade que mantém em Naviraí, no Sul do estado, Nelson Antonini freou momentaneamente as negociações. Como um quarto de suas lavouras ainda depende de chuva, prefere manter a cautela. A soja precoce sofreu com o excesso de unidade no final do ano passado e as plantações, que receberam investimento para render 60 sacas/ha, devem fechar a temporada com média de 55 sacas/ha. “É preciso tomar cuidado para que os negócios fechados antes da colheita não acabem comprometendo uma parcela maior que o previsto da produção”, explica o produtor, que abriu os trabalhos de campo com 60% da safra comercializada.
Assim como em MS, a cautela diante da incerteza com os resultados da lavoura também tem travado as vendas no vizinho do norte. Com a colheita atrasada, a produção disponível ainda é reduzida em Mato Grosso, de apenas 2 milhões de toneladas. Mas o porcentual da produção que já foi comprometido é grande e alcança cerca de 15 milhões de toneladas, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).