Se no início da safra 2015/16 a perspectiva de ocorrência do fenômeno climático El Niño indicava um ano sem sustos para a soja, o Brasil entra na reta final da colheita com saldo positivo, mas abaixo do esperado pelos produtores. Depois de avaliar a situação das lavouras em 16 estados brasileiros, técnicos e jornalistas da Expedição Safra Gazeta do Povo apontam que o país terá uma oferta 3,7% maior da oleaginosa nesta temporada, chegando a 99,2 milhões de toneladas. O crescimento viabiliza um incremento de 6,4% na produção total de grãos, chegando a 215 milhões de toneladas, mesmo com uma retração de 6,3% no volume produzido de milho verão.
Milho safrinha alivia nova queda na área de verão
A safra 2015/16 confirma a tendência estabelecida nos últimos anos de redução no plantio de milho em campos de verão. Com preços convidativos para a soja e altos custos de produção na fase de implantação do cereal, cresce a cada ano a migração do milho primeira safra para a safrinha. Nos três estados da região Sul, que concentra a maior parte da oferta, a Expedição Safra sinaliza uma queda de 13% na área (para 1,62 milhões de hectares) e de 15% no volume (para 11,3 milhões de toneladas).
Confirmadas as expectativas de produtividade, a safrinha tende a rebater mais uma vez a queda na oferta de verão. A primeira colheita tende a render 29,9 milhões de toneladas (-6,3% ante 2014/15), enquanto a produção de inverno terá incremento de 2,3 milhões de toneladas (+4,3%), atingindo 56,7 milhões de toneladas. Assim, o Brasil colherá nas duas safras 86,7 milhões de toneladas -- 300 mil a mais do que no último ciclo. Embora favorável no aspecto da comercialização, a aposta no inverno é considerada prejudicial em termos técnicos, já que impede a rotação de culturas e favorece a manifestação de doenças e pragas, como os fungos de solo, apontam agrônomos e pesquisadores.
A expansão é sustentada por um incremento de 4,6% na área plantada de soja neste ano (32,7 milhões de hectares), permitindo um aumento na oferta mesmo em estados onde o clima não foi considerado o ideal. É o caso de Mato Grosso, líder nacional da produção, que colhe uma safra 1% maior (28,4 milhões de toneladas) mesmo com produtividade 2% mais baixa, próxima de 51 sacas por hectare. Agricultores mato-grossenses enfrentaram prejuízos regionais gerados pela escassez de chuvas nas fases de implantação e desenvolvimento das lavouras.
O balanço entre área e produtividade se repete no Paraná, segundo maior produtor da oleaginosa, mas sob outras condições climáticas. Com excesso de chuvas no plantio e na colheita, as lavouras tiveram o desempenho afetado pela combinação de alta umidade e baixa insolação. O estado colhe uma safra de 17,7 milhões de toneladas de soja (+3,5%). “As perdas só não foram maiores porque a tecnologia disponível hoje ainda nos permite atingir bons níveis de produção, mesmo em situações adversas”, pondera o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Paraná (Aprosoja-PR), José Sismeiro. Ele registrou queda de 15% na produtividade neste ano, com rendimento de 62 sacas por hectare em 450 hectares dedicados ao grão em Goioerê (Centro).
Mesmo com a recuperação dos principais produtores, nem todas as regiões escaparam de prejuízos. É o caso do Centro-Norte, que, mesmo com um incremento de 7% na área destinada à oleaginosa, colhe uma safra 6% menor neste ano. O potencial de largada estimado pela Expedição na fase de plantio já considerava quebra climática, mas os danos foram ainda maiores que o esperado. Com o regime de chuvas bagunçado pelo El Niño, as lavouras do polo agrícola que envolve os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia sofreram com a falta de umidade e altas temperaturas durante a maior parte do ciclo e a safra do Matopiba, que tinha potencial para 10,25 milhões de toneladas, acabou reduzida a 9,4 milhões de toneladas.
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