Como um autêntico mineiro desconfiado, seu Fernando Borges olha para o céu e, num tipo de “mandinga” que acertou com São Pedro, sopra uma, duas vezes em direção às nuvens, para espantar a chuva. “E funciona, viu, só não posso dizer como, isso é entre eu e ‘ele’”, avisa.
Seu Fernando, que é produtor em Uberaba (MG), plantou 1,5 mil hectares com soja na safra 2016/17 - aumento de 50% em relação à temporada passada - e quer garantir logo a produtividade média de 65 sacas por hectare (sc/ha), com 25% da área colhida.
É que a mesma chuva que, agora, pode estacionar as colheitadeiras, acabou não vindo – pelo menos não na quantidade ideal - em alguns pontos importantes da lavoura, em plena fase de enchimento de grãos. “Ficou uns 17 dias sem chover. E essa terra é boa demais, mas tem uma desvantagem: ela seca rápido. Eu acredito que o enchimento de grão não ficou muito desejável”, conta. “Essa parte da nossa área é mais concentrada, tem 500 hectares. Era para dar bastante, mas ela acabou sacrificando um pouco e agora só colhendo para ver. Quando você olha, parece que não perdeu nada, mas o grão vai perdendo peso”, complementa.
Com isso, o rendimento médio deve ser um pouco menor que na safra 2015/16, quando seu Fernando colheu 72 sc/ha. Ainda assim, o aumento expressivo da área compensa essa queda, além de amenizar os preços, que – ao lado da mosca branca e do oídio, que se espalhou a ponto de ligar o alerta – é o que mais preocupa o produtor. “Hoje a saca está em R$ 63, e nós fechamos a R$ 77, mas só 20% da produção. Perder R$ 14 na saca é complicado”, lamenta.
No entanto, para o presidente do Sindicato Rural de Uberaba, Romeu Borges de Araújo Junior, o câmbio é que vai ser determinante na rentabilidade. “Com o dólar abaixo de R$ 3, começa a ficar preocupante para exportação. E aí o preço interno cai. Se o dólar ficar na faixa de R$ 3,30 a R$ 3,50, os preços se equilibram e o produtor continua sendo remunerado”, salienta.
Segundo Romeu, diferentemente do que ocorreu com seu Fernando, a área de soja em Uberaba, no geral, teve um aumento mais discreto, na casa de 3%. Ao todo, os agricultores da região dedicaram 87 mil hectares à oleaginosa. Com clima favorável, as produtividades devem fechar em até 57 sc/ha, um ganho de 5% sobre o ciclo anterior.
E é a soja que deve garantir o “grosso” da produção em Uberaba já que, depois da quebra na safrinha do ano passado por causa da estiagem, muitos produtores devem desistir do milho – que está com os preços em baixa - e apostar no sorgo. “A gente percebe uma mudança de comportamento, foi muito frustrante. Podemos falar que a proporção está em ‘3 para 1’: vamos plantar mais sorgo do que milho, pelo medo de uma estiagem”, frisa Romeu.
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