“Às vezes nem é muito bom falar que a gente está produzindo tanto, mas não tem jeito, na agricultura não tem como mentir”, brinca o produtor Claudionor Nunes, de Uberlândia, no triângulo mineiro, um dos principais polos agrícolas de Minas Gerais.
De fato, é difícil escapar da projeção de safra recorde. Se o ditado diz que mineiro come pelas beiradas, na temporada 2016/17 até eles “atacaram” o prato inteiro de uma vez. “No ano passado, a produtividade média nossa ficou em torno de 55 sacas por hectare (sc/ha). Nesse ano, a gente não ouve falar de soja na casa das 60 sc/ha, já passou muito disso”, diz o presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, Thiago Soares Fonseca. “Eu mesmo, no ano passado colhi 61,2 sc/ha e fui um dos que mais produziram. Nesta safra, até agora, estou com 78,6 sc/ha de média”, acrescenta o presidente, que dedica 500 hectares à oleaginosa.
“Duas coisas foram fundamentais: a primeira é que a safra começou 20 dias antes, a partir de 5 de outubro já havia condição favorável. Muitos produtores já guardaram as plantadeiras já no final do mês. A segunda é que choveu nas horas certas e, na colheita, deu uma trégua”, conta Thiago. “Não sei se Deus é de Uberlândia, mas ando achando que é sim.”
Já o Claudionor frisa que, para os padrões da região, que não costuma apresentar médias de produtividade tão altas, o resultado do ciclo passado já havia sido muito bom. “Mas esse ano não é nem normal o que está acontecendo, é um negócio fora da curva. A gente nem sonha que volte acontecer, porque todas as variedades estão produzindo bem, nem agronomicamente tem explicação”, reforça o produtor, que está colhendo 75 sc/ha, numa área de 1,3 mil hectares. Para efeito de comparação, em 2016 o rendimento ficou em 64 sc/ha.
Com 85% da área colhida, Claudionor deve encerrar o trabalho já nas próximas semanas, mais de dez dias antes em relação ao ciclo anterior. A colheita antecipada, por sinal, aumenta a expectativa em torno da safrinha, que, no caso dele, teve o plantio finalizado ainda em fevereiro, nos 800 hectares cultivados com milho. Agora, o agricultor pretende recuperar o volume perdido depois do tombo na temporada passado, quando começou produzindo 135/ha e, no final, por causa da falta de chuva, fechou a média em 54 sc/ha. “A janela é importantíssima, é o principal fator para a safrinha”, completa.
Preços
Produzir mais e vender mais barato, ou produzir menos e conseguir preços melhores. Difícil é conseguir unir os pontos positivos dessa equação. Mas, ao menos em Uberlândia, a incerteza que “atormenta” os produtores de todo o país é encarada com mais otimismo, mesmo com a típica “desconfiança” dos mineiros. “Eu cheguei a vender a soja R$ 83/sc, mas meu caso é problema. Vendi 20% porque achei que ia subir mais ainda”, diz Thiago Fonseca. “Mas se você pegar o preço médio do ano passado, de R$ 72, e o preço de agora, de R$ 68, dá uma diferença de 6%. Aí, comparando com aumento de 28% de produtividade que eu tive, a produção é mais interessante”, complementa o presidente do Sindicato Rural de Uberlândia.
Já o Claudionor está vacinado em relação aos preços. Ele costuma dizer que nunca vai reclamar de cotação, porque, olhando os componentes de formação – Bolsa de Chicago, dólar e prêmios – é possível enxergar uma regularidade grande e negociar com mais segurança. No entanto, se já não reclamava antes, agora menos ainda, após a lição da última safrinha de milho.
É que, por pouco, o Claudionor não negociou uma parte considerável da produção do cereal quando os preços estavam relativamente melhores, na casa de R$ 30/sc, contando que iria produzir acima de 100 sc/ha. “Aí veio a quebra, produzi 49 sc/ha e teria que comprar milho mais caro no mercado para entregar o que faltou. Estaria pagando o prejuízo até hoje. Foi a melhor decisão da minha vida.”
Minas Gerais
Conforme levantamento inicial da Expedição Safra Gazeta do Povo, Minas Gerais deve produzir 4,28 milhões de toneladas de soja e 8 milhões de toneladas de milho, contando a safra de verão e a safrinha.
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