A semeadura sofreu atrasos em algumas regiões por causa do excesso de umidade no solo e pela demora em colher o trigo.| Foto: Daniel Castellano/GAZETA

O Rio Grande do Sul vive um excelente momento no agronegócio, especialmente quando se trata da soja. No ciclo passado, o estado colheu 16 milhões de toneladas, o maior volume da história. Nesta safra, os produtores querem repetir o desempenho, principalmente se o clima permitir, já que a área dedicada à oleaginosa é a mesma: 5,4 milhões de hectares.

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Antecipação

No RS, assim como no restante do país, a venda antecipada de soja patina e está em apenas 5% no estado. Geralmente, o índice é de 30%.

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Quando a Expedição Safra visitou o estado, na semana passada, 70% das lavouras de soja estavam semeadas e os produtores animados. “As condições das lavouras estão muito boas, por enquanto, não há relato de danos ou pragas”, afirma o gerente adjunto da Emater em Erechim, no Noroeste do RS, Neri Montepó.

Sem preço, trigo vira insumo

Os produtores gaúchos terminaram a colheita de trigo na última semana. Dados da Emater/RS estimam uma produção de 2,3 milhões de toneladas neste ano, 52% a mais que no ano passado, quando houve quebra. Embora satisfeitos com o rendimento (até 70 sacas/ha) e com a qualidade do cereal, os produtores reclamam do preço: R$ 28 por saca, bem abaixo do preço mínimo (R$ 38,65 ) estabelecido pelo governo. Em algumas regiões do estado, nem há cotação. Em vez de comprar o produto, cooperativas estão trocando trigo por insumos ou usando o cereal para quitar dívidas.

Em Cruz Alta, no Noroeste do Rio Grande do Sul, o produtor Ajadir Machiavelli terminou a colheita no fim de novembro. Ele brinca que, por enquanto, era melhor ter ficado em casa sem fazer nada do que ter plantado. “Com esses preços eu não pago nem os meus custos de produção”, reclama. Sem preço, a saída foi estocar a produção em silos enquanto termina de semear seus 3 mil hectares de soja e 650 hectares de milho.

O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor brasileiro do cereal, atrás do Paraná, que deve produzir 3,2 milhões de toneladas neste ano. Os preços estão em queda desde agosto, principalmente por causa da oferta mundial recorde. A situação motivou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a realizar leilões para garantir a produtores rurais o preço mínimo.

Para a maioria dos produtores, o plantio começou em outubro. A semeadura sofreu atrasos em algumas regiões por causa do excesso de umidade no solo e pela demora em colher o trigo. “A janela de plantio é mais extensa por aqui. Esses atrasos não são preocupantes e foram pontuais”.

A maior preocupação dos produtores é com o La Niña, evento climático caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, que provoca queda nas temperaturas e diminui as chuvas no Sul do Brasil. “Nós ainda não sabemos qual será a intensidade, mas é sempre um risco”, afirma o produtor de Cruz Alta, no Noroeste gaúcho, Tiago Rubert. Nesta safra, ele plantou 3,6 mil hectares de soja, 300 ha a mais que no ciclo passado. No entanto, espera uma produtividade menor: 53 sacas por hectare, 12 a menos do que na última safra. “Por enquanto, a nossa lavoura está se desenvolvendo muito bem. A semeadura foi boa. Vamos ficar atentos ao tempo”, diz.

Em Erechim, o produtor Marcelo Marostika também espera que o tempo não atrapalhe. Neste ano, ele terminou de semear 22 hectares de soja no fim de novembro. “Se o tempo nos ajudar neste ciclo, espero colher 60 sacas por hectare, a mesma quantidade do ano passado. Mas o clima está dando alguns sustos na gente”.

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Segundo o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Luiz Renato Lazinski, o La Niña está configurado, no entanto, em baixa intensidade. Ele explica que, no momento, o fenômeno está provocando chuvas irregulares, períodos de seca mais extensos e ondas de frio. “A preocupação dos produtores do Rio Grande do Sul tem fundamento. Em anos de La Niña, o estado costuma sofrer com veranicos longos”, afirma.

Expansão do milho

No Rio Grande do Sul, a área com cultivo de milho cresceu. Serão quase 900 mil hectares dedicados ao cereal nessa safra, 77 mil ha a mais do que no ciclo passado. Nas lavouras já semeadas, nas quais o milho está em estado vegetativo (80%), floração (20%) e enchimento de grãos (10%), produtores estão deslumbrados com a qualidade das plantas.

Em Cruz Alta, o produtor Ajadir Machiavelli plantou 650 hectares de milho, 150 a mais do que na safra passada. Ele espera colher 160 sacas por ha. “O clima colaborou, mais algumas chuvas e não teremos mais preocupação”, conta. O estado gaúcho espera colher 5,1 milhões de toneladas nesta temporada.

Na imagem, o rio Uruguai, que divide Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A Expedição Safra esteve nos dois estados para acompanhar o plantio de grãos.
Tratores fazem o plantio na palha do trigo. Até semana passada, a semeadura da soja estava em 70%.
Em Erechim, o produtor Marcelo Marostika também espera que o tempo não atrapalhe.
“Se o tempo nos ajudar neste ciclo, espero colher 60 sacas por hectare, a mesma quantidade do ano passado. Mas o clima está dando alguns sustos na gente”, diz Marostika.
Segundo meteorologistas, a preocupação dos produtores do Rio Grande do Sul tem fundamento: em anos de La Niña, o estado costuma sofrer com veranicos longos.
Apesar da expectativa de repetir o recorde da temporada passada, o produtor Tiago Rubert, de Cruz Alta, mantém a cautela por causa do La Niña.
“Nós ainda não sabemos qual será a intensidade, mas é sempre um risco”, afirma Tiago Rubert.
A semeadura da soja sofreu atrasos em algumas regiões por causa do excesso de umidade no solo e pela demora em colher o trigo.
O preço do cereal, por sinal, não tem dado conta nem dos custos de produção, por isso muitos produtores preferem estocar o trigo.
Em tom de brincadeira, Ajadir Machiavelli, de Cruz Alta, diz que, com o preço atual - R$28 por saca de 60kg - era melhor nem ter saído de casa.
O milho ganhou espaço no ciclo 2016/17: são 900 mil hectares cultivados com o cereal, 77 mil a mais que na última safra.
Ajadir Machiavelli é um dos produtores deslumbrados com a qualidade das plantas. Ele plantou 650 hectares com o milho.
“O clima colaborou, mais algumas chuvas e não teremos mais preocupação”, diz Machiavelli.
No detalhe: sementes de soja.
O trem espera pela safra: as vendas antecipadas estão em apenas 5%, quando o normal, para esta época do ano, seria 30%.
A Expedição Safra segue agora com uma série de agendas técnicas.
Terceiro maior produtor de soja do país, o RS colheu uma safra excelente no ciclo passado; e espera repetir a dose, se o clima permitir .