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expedição safra

Agricultores arregaçam as mangas e constroem estradas e pontes por um terço do preço

Em cinco anos, mais de 800 km de estradas vicinais foram recuperados pelos produtores rurais na Bahia | Divulgação/Abapa
Em cinco anos, mais de 800 km de estradas vicinais foram recuperados pelos produtores rurais na Bahia (Foto: Divulgação/Abapa)

Neste ano os agricultores do Oeste da Bahia vão inaugurar os primeiros 33 km da “estrada da soja” asfaltados com recursos próprios, no município de São Desidério, além de construir três pontes em estrutura de concreto para otimizar o escoamento da safra de grãos. A estimativa é que as obras custem um terço dos preços praticados pelo mercado.

“Diminuímos os custos do asfalto, por exemplo, comprando os insumos diretamente da Petrobras e contratando uma empresa para fazer a usinagem. A gente sempre tenta fazer compra direta para diminuir as despesas”, diz Luiz Stahlke, coordenador da Patrulha Mecanizada mantida pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) em parceria com a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Colegas deste curitibano formado em agronomia pela Universidade Federal do Tocantins brincam dizendo que, na prática, ele é o “subsecretário de Obras da Bahia”.

A patrulha dos produtores rurais conta com 30 equipamentos pesos-pesados, como pás carregadeiras, escavadeiras hidráulicas, patrolas, rolos compactadores e micro-ônibus para transportar 31 funcionários próprios. A intenção, segundo Stahlke, não é ocupar o lugar do poder público, mas agir de forma complementar. “Os municípios da região são muito grandes, há muita demanda junto às prefeituras e ao governo para obras de infraestrutura. Se não houver parceria, ninguém dá conta”, afirma.

Parte dos recursos da Patrulha Mecanizada é transferida pelo governo do Estado – que deposita em um fundo créditos de ICMS dos agricultores – e outra parte vem das prefeituras e do próprio bolso dos produtores. “Quando o agricultor faz as contas do custo do frete das estradas ruins em termos de sacas por hectare, ele vê que vale a pena gastar um pouco para arrumar a estrada”, assegura Stahlke.

Em cinco anos, a patrulha já recuperou e cascalhou 800 km de estradas vicinais na região dos municípios de Barreiras, Luis Eduardo Magalhães, São Desidério, Correntina, Jaborandi, Formosa do Rio Preto, Canápolis e Baianópolis. Até a operação tapa-buracos em rodovias estaduais tem sido coordenada pelos produtores.

O trecho que agora será asfaltado, no distrito de Roda Velha, já vem sendo preparado há pelo menos duas safras. No primeiro ano, os produtores levantaram a plataforma de aterro. Depois, fizeram a base de cascalho. Agora virá a pavimentação. Para a construção das três pontes estão reservados R$ 2 milhões. As obras começam ainda neste mês de abril, devendo ser finalizadas num prazo de dois a seis meses. A ponte em Formosa terá o padrão exigido para uma rodovia estadual, enquanto as outras duas atenderão as necessidades de estradas vicinais.

Todos os projetos da patrulha - que tem orçamento de R$ 10 milhões por ano - são discutidos, planejados e aprovados pelos produtores, que acompanham o levantamento de custos e estabelecem as contrapartidas.

Desafios e gargalos

O presidente da Aiba, Celestino Zanella, produtor rural de Cascavel que migrou para a Bahia em 2003, lembra que a região é rica em oportunidades mas também em desafios. “São Desidério tem o segundo maior PIB agrícola do País e Formosa está seguramente entre os dez primeiros. Mas a região da Coaceral possui 250 mil hectares e ainda não tem energia elétrica. Celular até 15 anos atrás só pegava no centro de Barreiras e em nenhum outro lugar”.

Água em abundância é uma das maiores riquezas da região Oeste da Bahia, que conta com cerca de 150 mil hectares irrigados. Em parceria com o governo do Estado, com as universidades federais de Viçosa, da Bahia e do Rio de Janeiro, e com a Universidade de Nebraska, a Aiba contratou um estudo internacional para estabelecer um projeto de governança das fontes d’água.

“Queremos saber exatamente quanta água existe disponível na superfície e no subterrâneo, qual é o potencial do aquífero de Urucuia. Com base nas informações desse estudo, teremos um projeto científico e sustentável para utilização da água. Se o estudo mostrar que estamos irrigando demais, vamos diminuir. Particularmente, acho que podemos ter muito mais áreas irrigadas”, afirma Zanella, que cresceu ajudando o pai em plantações irrigadas ao lado do rio Timbó, em Santa Catarina.

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