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Cícero, o baiano que pegou carona na ‘revolução dos sulistas’

Cícero Teixeira comanda as operações da Fazenda Santo Ângelo, no município de Luis Eduardo Magalhães | Daniel Caron/Gazeta do Povo
Cícero Teixeira comanda as operações da Fazenda Santo Ângelo, no município de Luis Eduardo Magalhães (Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo)

Entre os anos 80 e 90 ondas de migrantes de sulistas, principalmente gaúchos e paranaenses, invadiram o Oeste da Bahia atraídos pelo baixo preço das terras e o sonho de produzir grãos no Cerrado.

A maioria da população local, dos pequenos agricultores aos empresários do comércio e serviços, apenas assistiu, com algum espanto e incredulidade, a chegada dessas hordas de agricultores dispostos a quebrar paradigmas.

O baiano Cícero José Teixeira, que trabalhava numa cooperativa, enxergou de imediato o que muitos ainda levariam anos para perceber. “Eu vi a revolução acontecer e peguei carona. A maioria dos meus conterrâneos deixou a oportunidade passar. O bonde passou e eles não embarcaram”, recorda. Cícero economizou o que pôde, vendeu casa e carro para investir em terra, na época ainda barata. “Meu pai me chamou de maluco por vender minha casa”.

Quando criança, Cícero ajudava a família na agricultura de subsistência, plantando milho com enxada. Mas o que ele via era completamente diferente. “O pessoal chegou com muita determinação. Nem a Embrapa acreditava que dava para produzir soja no Cerrado, os bancos não queriam financiar, todos achavam que era impossível a agricultura por aqui. Havia o tabu de que só o que prospera no Cerrado são as emas”.

Hoje Cícero José Teixeira e a esposa Neuzelita da Silva Teixeira tocam uma propriedade de 941 hectares nos Campos Gerais do município de Luis Eduardo Magalhães, 300 deles irrigados. Nos talhões com pivô central, a produtividade neste ciclo foi de 103 sacas por hectare. A média da propriedade, que já colheu toda a soja, alcançou 80 sacas, bem acima dos resultados na região, em torno de 60 sacas. “Aqui ainda sou pequeno agricultor. Os mais antigos ainda não entendem como é possível essa pujança, como pode um empreendimento ter 5 mil, 30 mil, até 50 mil hectares”, observa.

“Com o Cícero, o copo está sempre meio cheio. Realmente, existem poucos que agiram como ele, que se tecnificaram e cresceram junto com a agricultura da região”, diz o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Celestino Zanella, que migrou de Cascavel no início dos anos 2000. “Mas hoje já existem pequenas propriedades de moradores locais, na região do vale, produzindo mamão, banana, alface hidropônica. Tem gente plantando 70 hectares de hortifrutigranjeiros e empregando até 40 funcionários”, acrescenta Zanella. A Aiba hoje representa 1400 produtores rurais e promove desde a reparação de dezenas de quilômetros de estradas, com recursos dos próprios agricultores, até estudos internacionais para assegurar o uso racional da água do aquífero Urucuia e dos rios que cortam a região. Atualmente, o Oeste da Bahia possui 150 mil hectares irrigados.

Para os conterrâneos e empreendedores de todo o País, Cícero avisa que um novo bonde está passando. “Temos mão de obra, temos matéria-prima e não estamos muito distantes dos grandes centros consumidores do Nordeste. Investimentos da agroindústria é o que precisamos agora. Transformar o milho em frango e carne, agregar valor aos produtos. Queremos ver acontecer aqui o que já é realidade no Oeste do Paraná, onde os grãos são transformados em proteína animal”.

Como diferencial para os investidores, o produtor destaca a cordialidade baiana. “O pessoal do Sul sempre foi muito bem acolhido. Se não fosse a hospitalidade baiana, talvez eles não tivessem ficado, talvez a região não tivesse crescido tanto”. No caso da família do produtor, a integração foi plena. As duas filhas dele são casadas com migrantes gaúchos.

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