Ela se tornou a “queridinha” dos agricultores. Mas no Triângulo Mineiro a soja está em alerta. E não é uma doença ou praga que ameaça o cultivo. São as lavouras de cana, cada vez mais presentes na região.
Em 2010/11, a área de plantio era de 660 mil hectares de cana em Minas Gerais. Cinco anos depois, já eram 867 mil, segundo a Conab.
“Se por um lado a soja tomou áreas de pastagem, a cana também vem tomando o lugar da soja, permitindo cinco a seis cortes sem replantio. Em nossa região [de Uberlândia] já temos muitas usinas sem um pé de cana, fazendo o arrendamento com agricultores”, afirma Osvaldo Guimarães Neto, diretor superintendente da cooperativa Certrim, em Uberaba.
Raul Arcanjo, de Uberaba, foi um dos agricultores que se ‘rendeu’ à cana-de-açúcar. “Tomei uma área de pasto e um pouco da soja. Como a minha região é muito arenosa, fica complicado o plantio de soja, então busquei diversificar nas áreas de renovação”, afirma. O produtor possui 400 hectares de cana e 140 de soja, que após a colheita devem se juntar às demais. A estratégia dele é, após cinco cortes, fazer um plantio de soja para rotação no terreno.
Supervisor técnico da Certrim, Rodrigo Gordura confirma o avanço. “Em um raio de 80 km de Uberaba temos dez usinas”, afirma. Ele conta que há lavouras com áreas de renovação a cada sete anos. “É para rodar folha estreita (cana) com larga (soja)”, conta. A estratégia é feita para evitar a monocultura e perder a qualidade do solo.
A rentabilidade, segundo Gordura, pode ser superior – e com a garantia de risco assumida pelas usinas. Para Arcanjo, a vantagem é a facilidade: “Além de dar menos trabalho, a soja é difícil até para conseguir o seguro [rural]”.
E o milho?
Enquanto a soja enfrenta a concorrência da cana, a ‘guerra da soja contra o milho’ parece vencida. Apenas entre os cooperados da Certrim, a área de plantio de milho verão reduziu em 40%, estima Guimarães Neto. E como houve atraso no plantio da soja, devido à estiagem que abateu Minas Gerais em outubro de 2017, a safrinha (segunda safra) também ficou comprometida.
Diretor do Sindicato Rural de Uberlândia, Claudionor Nunes de Morais é exemplo disso. Ele foi um dos primeiros a realizar o plantio de soja no ano passado, já está colhendo a variedade precoce e evita o plantio de milho verão em Minas – estado com maior produção do cultivo no verão. “Vou plantar milho para a safrinha até o dia 28 de fevereiro. Depois, vou plantar sorgo”, explica o produtor, que também é membro da Comissão Nacional de Grãos da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária).
Além do atraso, na região, a opção pelo sorgo também é econômica. “[O plantio] é mais barato e resistentes a estragos. Hoje faltam sementes de sorgo no mercado. Já a de milho, qualquer semente você encontra. O povo está transferindo para o sorgo”, conta Claudionor.
Mas não é apenas o milho safrinha que sofrerá as consequências do atraso de outubro. A produtividade da soja pode cair. O diretor do sindicato estima uma leve redução de 72 sacas por hectare da safra 16/17 (considerada a safra perfeita em todo o Brasil) para algo próximo a 70 na atual. A comercialização antecipada também vem sendo menor na região. Tomando novamente a propriedade de Claudionor como exemplo, atualmente, 25% da soja foi comercializada. No ano passado, neste mesmo período, 50% já estava negociada.