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Expedição Safra

Do sal à soja: europeus querem firmar Paraguai como novo primo rico do Mercosul

A presença cultural é tão marcante, que grande parte das placas está em alemão, idioma que também é falado em rádios e ensinado nas escolas. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
A presença cultural é tão marcante, que grande parte das placas está em alemão, idioma que também é falado em rádios e ensinado nas escolas. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

O Paraguai quer mais. Desde 2010 o país apresenta crescimento médio de 5,8%. O maior da América do Sul. Em 2018 não será diferente: o ‘primo rico’ do Mercosul espera crescer 3,4%, acima dos 2% esperados pelo Brasil. E a agropecuária tem um papel fundamental neste cenário. Responsável por 30% da riqueza produzida pelo país, o setor pretende expandir, principalmente na área de grãos. É aqui que entra o Chaco.

Com uma área de 1,30 milhão de quilômetros quadrados de florestas e planícies, o Chaco está localizado entre Argentina, Bolívia e Paraguai. Neste último, são 400 mil km², mais de 50% do país. Ao todo, a região tem 22 milhões de hectares. Embora algumas áreas sejam tão áridas que o sal “brote” do chão, alimentando inclusive indústrias, há 8 milhões de hectares com potencial para agricultura. O movimento ainda é pequeno, mas vai subir nos próximos anos. Em todo o Paraguai, a estimativa da Expedição Safra é de que 4,6 milhões de hectares sejam cultivados com soja, milho e trigo.

Em Loma Plata e Filadelfia, no departamento de Boquerón, cidades mais antigas e estruturadas, a pecuária de corte e de leite está bem consolidada. Quase toda carne e lácteos consumidos no país saem de lá pela ruta 9. As lavouras brotaram há pouco tempo. É o que conta o engenheiro agrônomo Wilbert Harder, da Cooperativa Chortitzer. “Há dez anos, não havia cultura de cultivar soja e milho na região. Mas hoje é uma alternativa rentável e provavelmente será a atividade que mais vai crescer aqui”, explica.

Esta região do Chaco paraguaio, conhecida como Chaco Central, foi colonizada por menonitas da Alemanha, Rússia, Ucrânia e do Canadá, no início do século 20. A presença cultural é tão marcante, que grande parte das placas está em alemão, idioma que também é falado em rádios e ensinado nas escolas. Segundo o último Censo realizado no país, em 2016, 30 mil menonitas moram no Paraguai. Eles criaram cooperativas agrícolas que produzem diferentes cortes de carne bovina, além de lácteos. A produção, nos dois casos, é exportada para diferentes países através dos portos hidroviários de Assunção e Concepción.

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Para Harder, as principais dificuldades para o desenvolvimento da agricultura estão no clima e infraestrutura. Com um regime de chuvas bem consolidado, o Chaco não recebe chuvas entre os meses de março e dezembro, o que impede os produtores de fazerem mais de uma safra por ano. A infraestrutura ainda é precária, as cooperativas, por exemplo, são responsáveis pela educação, distribuição de energia, hospitais e boa parte da economia das cidades. A estrada que liga a capital à região também não é adequada para o escoamento.

Por outro lado, o solo tem uma alta concentração de fosforo, silício e matéria orgânica, o que permite o plantio sem a utilização de fertilizantes, reduzindo os custos de produção em quase 40%. “O custo de produção é de 1,2 mil quilos [da produtividade por hectare]. No restante do país é de 1,8 mil kg”, conta o produtor Maik Esau, da cooperativa Fernheim, de Filadelfia. Ele cultiva 340 hectares de soja. “As chuvas têm ajudado. Nos últimos dois anos, o índice pluviométrico passou de 1.200 mm, enquanto a média é 800 mm”, diz o engenheiro agrônomo Lenard Dyck, da cooperativa Fernheim.

A chuva tem garantido boas produtividades para região. Mesmo que o número de lavouras ainda não seja expressivo: são pouco mais de 50 mil hectares para os grãos, contra 1,5 milhão para pecuária. “A média de produtividade ficou em 2.300 kg por hectare. Mas houve produtores que conseguiram colher 3.000 kg, 3.500 mil kg, acima da média nacional”, conta Dyck. “Os produtores de grãos no Chaco tem um perfil mais jovem. A transformação é lenta por uma questão cultural, os menonitas não lidam bem com mudanças radicais. Aos poucos, no entanto, o grão vai ganhar espaço”, complementa.

Além da soja e do milho, as duas cidades são grandes produtoras de sorgo, gergelim e amendoim. Inclusive, no caso do último, o produto é exportado para diferentes países, mas principalmente para Europa.

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