Ninguém quer mais saber dele. O milho está, definitivamente, perdendo espaço em Minas Gerais. A área de plantio chegou a cair 40% em algumas regiões. Mas o milho tem um refúgio: a propriedade de Júlio Cesar Pereira Junior, e de seu pai, em Uberlândia. Por lá, essa cultura ainda é uma aposta.
Claro, a soja, carro chefe da agricultura, também tem amplo espaço: foram cultivados 3080 hectares, contra 535 de milho para a safra de verão. Mas para respeitar o calendário de plantio e dar tempo de semear quase 2000 hectares para o milho safrinha (segunda safra) foi preciso arriscar.
Mesmo com o tempo seco, Pereira Junior colocou sementes de soja precoce na terra na virada de setembro para outubro. “Esse ano foi atípico porque só choveu dia 27 de outubro. Mas quando choveu, não precisei replantar”, garante Pereira. Como resultado, ele já colheu 45% da área de soja e não perdeu tempo: imediatamente semeou a segunda safra de milho.
“A safrinha é um negócio dentro do meu negócio. Quanto tinha só a soja, era uma renda. Agora sempre vejo o segundo semestre como uma oportunidade para captar dinheiro. Quando tivemos dois anos ruins (em 2014 e 2015), foi a safrinha que salvou a gente”, destaca.
Histórico: safrinha em Minas Gerais
Há pouco tempo, realmente, o milho vinha dando lucro. Em 2016, o preço do milho disparou, acima dos R$ 40 por saca. No ano passado, veio a queda. E engana-se quem pensa que o Pereira Júnior teve prejuízo. O produtor fez negócios a R$ 25, enquanto agricultores em estados como o Mato Grosso vendiam por R$ 15.
“Eu não olho o preço. Tenho é que produzir mais e melhor. O preço é consequência”, reforça, garantindo a importância da alta produtividade.
A produção da segunda safra de milho começou em Minas há cinco anos. Agora, muitos já vêm desistindo devido à volatilidade de preços. Pela decisão de se manter forte no negócio, muitos produtores do Triângulo Mineiro acham que Pereira Junior está maluco. Contudo, o “louco do milho” enxerga nessa situação uma janela de mercado.
Os argumentos de Pereira são consistentes: a ascensão das produções de aves e suínos, além da ótima localização geográfica para logística e a qualidade das terras mineiras são diferenciais competitivos em relação a outros estados.
Levando-se em conta o trabalho diferenciado realizado na propriedade, com agricultura de precisão - entre outros elementos tecnológicos -, e o fato de que na lei da oferta e procura o agricultor pode ser um dos poucos, no futuro, a ter o milho disponível para venda, a probabilidade de o “louco do milho” estar certo é, no mínimo, elevada.