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Expedição Safra

Pioneiro da soja diz como saiu da geada negra com o maior negócio do Brasil

Como diferencial, o agricultor e empreendedor apresenta uma virtude em relação a muitos colegas: paciência. | Giorgio Dal Molin/Gazeta do Povo
Como diferencial, o agricultor e empreendedor apresenta uma virtude em relação a muitos colegas: paciência. (Foto: Giorgio Dal Molin/Gazeta do Povo)

Dia 18 de julho de 1975: uma geada negra assola o Norte paranaense e a família Araújo vê seus cafezais serem destruídos na região de Londrina. Mas um de seus herdeiros, Ricardo, viu no desastre uma oportunidade: deixar o café e apostar, então, em uma novidade, a soja.

Daquela década em diante, a oleaginosa virou a rainha não só da região Norte, mas também do estado e ganhou a preferência dos agricultores brasileiros, sendo, inclusive, o principal item da balança comercial brasileira. No entanto, como um bom pioneiro, Ricardo Araújo revela como, ano após ano, vem fazendo sua produção melhorar, seja em períodos de alta, como na última safra (quando chegou a 70 sacas por hectare, contra uma média nacional próxima de 65), seja em tempos em que o grão não está tão atraente nos balcões de negociação.

Como diferencial, o agricultor e empreendedor apresenta uma virtude em relação a muitos colegas: paciência. “O produtor quer que o período bom continue sempre e o ruim nunca mais aconteça, mas sabemos que não é assim. Só tivemos uma safra boa [na temporada passada] porque São Pedro ajudou, e não porque o produtor se tecnificou para melhorar o plantio”, opina.

Dicas de produção

Neste sentido, ele percebe alguns erros simples, mas que podem ser fatais quando o assunto é produção. “Nas primeiras chuvas de setembro, teve um pessoal que correu para plantar, e deixou a semente mais suscetível [a problemas]. Essa soja se desenvolve mal”, explica ele. Com o solo ainda sem condições ideais, muitos agricultores da região tiveram que fazer o replantio para garantir a safra. Situação bem diferente da propriedade de 850 hectares de Araújo:

“Nossos primeiros plantios foram em outubro”, lembra o gerente da propriedade, Osvaldo Domingues Teixeira. Eles seguiram com semeaduras subsequentes, aproveitando o clima das semanas posteriores, o que deve garantir uma boa produção. “Devemos começar a colher a soja em março. O milho, em abril”, completa Teixeira. Milho, aliás, que está sendo essencial para manter as boas condições das terras de Ricardo Araújo:

“A maioria não faz a rotação do solo, mas toda safra de verão 25% da minha terra vai para o cultivo de milho”. Ele faz isso mesmo que o milho esteja a preços baixos, para garantir a qualidade de todas as safras de verão.

“Em um ano o milho estava a R$ 40 [a saca] e muitos pensaram que era uma maravilha. Neste, chegou a R$ 15. É o mercado”, ressalta o agricultor, novamente exercitando a paciência. No inverno, a estratégia é outra: 25% milho, 50% trigo e os 25% restantes para os chamados ‘cultivos mortos’, garantindo uma boa rotação no solo.

Cada vez menos milho

Antônio Sampaio, vice-presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP), também reforça o alerta do colega para a rotação, e opina que os agricultores só respeitariam essa ‘regra básica’ em caso de políticas obrigatórias, como o vazio sanitário: “Eu mesmo sou um dos poucos que faz a rotação. Quero ver na safrinha, se tivermos uma nova frustração será uma catástrofe total”.

Além desse problema, a expectativa para nova safra não é tão boa quanto a anterior, mas ambos os agricultores afirmam: o produtor estava acostumado aos altos preços da soja. Uma solução para isso, eles dizem, pode ser a venda antecipada. Tanto Araújo quanto Sampaio negociaram ao preço de R$ 70 por saca – um bom valor já que a média atual está em R$ 67 na região de Londrina, segundo o vice-presidente da SRP.

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