Terceiro maior produtor de carne suína e de aves do Brasil, o Rio Grande do Sul tem um problema: baixa produção de milho, principal insumo de ração animal, que precisa ser importado de outros estados. E não vai ser na Safra 2017-18 que este problema será solucionado: apenas 12% da área de produção de grãos será de milho.
A estimativa é da Emater - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. “Estamos praticamente com uma situação de monocultura [na safra de verão]. O que mais me tortura como técnico é não convencer o produtor com argumentos técnicos, como a proposta de rotação de cultura (benéfica para o solo). O produtor vê apenas a questão financeira”, argumenta Alencar Paulo Rugeri, assistente técnico em Culturas da Emater Rio Grande do Sul.
Enquanto a área de cultivo de soja, praticamente concluída no estado, deve superar os 5,5 milhões hectares, a de milho deve ficar em 731 mil hectares, estima a Emater. Essa alta diferença está levando, inclusive, o estado a debater a necessidade de inserção de um período de vazio sanitário, como já acontece em outros estados, para diminuir as chances de pragas e fungos da soja, como a ferrugem asiática.
Exemplo paranaense
Rugeri reconhece que a remuneração da soja é superior e mais interessante ao produtor, mas destaca que o milho, mesmo com preços baixos, poderia gerar mais insumos para as produções da pecuária. “Temos a corda esticadíssima. É assustador”, afirma. Neste sentido, ele destaca que o Rio Grande do Sul deveria seguir o exemplo de outro estado do Sul, o Paraná.
“O estado tem uma agroindústria com potencial parecido com o Paraná na transformação de proteína vegetal em animal, e o milho é a conversão disso. Meu sonho é ver o Rio Grande do Sul fazer uma safra de milho e uma de soja como no Paraná”, diz Rugeri, referindo-se à segunda safra, basicamente formada de milho no estado paranaense e produzida durante o inverno.
Se somadas as duas safras, a produção de milho do Paraná é próxima de 15 milhões de toneladas, segundo o segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), contra aproximadamente 5 milhões do Rio Grande do Sul, conforme dados da Emater RS.
Apesar disso, mesmo que o Paraná ainda seja autossuficiente em milho, a área de produção do grão vem caindo no estado. A primeira safra de milho deve reduzir quase 40%, com área de cultivo 35% menor, segundo o Deral. A segunda safra de milho caiu menos em 2017: 11% em área e 7% em produção.
Produtividade da soja
Após uma safra altamente produtiva, com condições climáticas altamente favoráveis, a estimativa é que a produtividade seja menor no Rio Grande do Sul, o que é normal na opinião de Rugeri. “Estamos com condições normais, nada fora dos padrões”, afirma.
Vice-presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), Gedeão Pereira destaca que “nossa safra será efetivamente menor porque teremos problemas de natureza climática”. A chegada do fenômeno climática La Niña, contudo, não é considerada um empecilho por Rugeri: “Alguns fatores mostram que, das 14 piores safras, cinco foram em anos de La Ninã, e outras [em condições] normais. Claro que são períodos em que chove menos, mas existem muitos outros fatores que afetam a produtividade”.
No total do estado gaúcho, a produção de soja atingiu 18,5 milhões de toneladas de soja na safra 2016/2017. A projeção para o novo período (2017/2018) é de 16,7 milhões de toneladas - 10% a menos. Em 2018, espera-se um rendimento médio de 3 mil quilos por alqueire de soja. Na safra anterior, o rendimento ficou próximo a 3,5 mil quilos.