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TECNOLOGIA EMBARCADA

Bem nutrida e tropicalizada, soja brasileira mostra-se mais resistente ao calor

Agricultor de Dourados, no Mato Grosso do Sul, avalia conformação de pé de soja  antes da colheita | Michel Willian /Gazeta do Povo
Agricultor de Dourados, no Mato Grosso do Sul, avalia conformação de pé de soja antes da colheita (Foto: Michel Willian /Gazeta do Povo)

As lavouras do estado de Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, foram castigadas pela estiagem e um calor intenso nesta safra. Normalmente, seria a receita para colheitas desastrosas. No entanto, graças ao avanço tecnológico das plantações, muitos produtores vão acabar registrando recordes de colheita.

Um exemplo é o produtor Alexandre Di Domenico, que cultiva soja em cerca de 16.000 hectares no nordeste do Mato Grosso. Ele constatou que neste ciclo a produtividade deve aumentar 10%, alcançando uma média de 3.600 quilos por hectare. E isso apesar de seus campos de soja terem enfrentado quase 20 dias sem chuva entre dezembro e janeiro.

“A situação hoje é diferente de até poucos anos atrás”, diz Domenico, entrevistado num encontro de produtores no município de Querência. O uso mais frequente de calcário tem ajudado a multiplicar o potencial de produtividade da região. “Os agricultores vêm de uma sequência de boas colheitas e aproveitaram para investir bastante na qualidade do solo”, diz Domenico.

O volume das colheitas globais de soja disparou nos últimos anos graças a avanços na tecnologia de sementes, herbicidas e outros insumos. Safras abundantes têm ajudado a manter a inflação relativamente sob controle, mesmo com as mudanças climáticas aumentando os riscos de estiagens, ondas de calor e tempestades. No Brasil, colheitas recordes nas últimas temporadas também impulsionaram os lucros dos produtores, permitindo que investissem mais na qualidade de seus cultivos.

Itamar Dagnese, que cultiva soja em cerca de 2.300 hectares em Canarana, está colhendo uma média de 3.900 kg por hectare neste ano. Apesar de o resultado ser 15% maior do que a média histórica recorde no país – registrada no ano passado – Dagnese não está completamente satisfeito. “Poderíamos estar colhendo 4.200 kg por hectare, se não fosse a seca”, diz. “Estamos aumentando a produtividade, mas os custos também estão subindo”.

Ainda assim, o clima desfavorável causa danos às lavouras, especialmente nos casos em que os produtores optaram por variedades de ciclo mais curto. As colheitas médias no estado podem acabar ficando 2% abaixo do obtido no ano passado, segundo o analista André Debastiani, da Agroconsult.

Debastiani e outros técnicos visitaram as lavouras no leste do estado há poucos dias, para verificar o potencial produtivo. As colheitas um pouco menores devem ser mais do que compensadas pelo aumento da área plantada, projetando-se um volume final de 33 milhões de toneladas, contra 32,3 milhões do ano passado.

“Os produtores investiram em suas lavouras e os solos estão se mostrando cada vez mais resilientes a condições estressantes”, afirma Debastiani. Ainda que as lavouras no Paraná e no Mato Grosso do Sul tenham sido severamente atingidas pelo calor, o total da safra brasileira de soja deve chegar a 115 milhões de toneladas, o segundo melhor resultado da história. “Apesar dos problemas, ainda teremos uma grande safra”, conclui Debastiani.

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