![Bem nutrida e tropicalizada, soja brasileira mostra-se mais resistente ao calor Agricultor de Dourados, no Mato Grosso do Sul, avalia conformação de pé de soja antes da colheita | Michel Willian /Gazeta do Povo](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/02/9c5fda190fec0a3b24220b3420141095-gpLarge.jpg)
As lavouras do estado de Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, foram castigadas pela estiagem e um calor intenso nesta safra. Normalmente, seria a receita para colheitas desastrosas. No entanto, graças ao avanço tecnológico das plantações, muitos produtores vão acabar registrando recordes de colheita.
Um exemplo é o produtor Alexandre Di Domenico, que cultiva soja em cerca de 16.000 hectares no nordeste do Mato Grosso. Ele constatou que neste ciclo a produtividade deve aumentar 10%, alcançando uma média de 3.600 quilos por hectare. E isso apesar de seus campos de soja terem enfrentado quase 20 dias sem chuva entre dezembro e janeiro.
“A situação hoje é diferente de até poucos anos atrás”, diz Domenico, entrevistado num encontro de produtores no município de Querência. O uso mais frequente de calcário tem ajudado a multiplicar o potencial de produtividade da região. “Os agricultores vêm de uma sequência de boas colheitas e aproveitaram para investir bastante na qualidade do solo”, diz Domenico.
O volume das colheitas globais de soja disparou nos últimos anos graças a avanços na tecnologia de sementes, herbicidas e outros insumos. Safras abundantes têm ajudado a manter a inflação relativamente sob controle, mesmo com as mudanças climáticas aumentando os riscos de estiagens, ondas de calor e tempestades. No Brasil, colheitas recordes nas últimas temporadas também impulsionaram os lucros dos produtores, permitindo que investissem mais na qualidade de seus cultivos.
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Itamar Dagnese, que cultiva soja em cerca de 2.300 hectares em Canarana, está colhendo uma média de 3.900 kg por hectare neste ano. Apesar de o resultado ser 15% maior do que a média histórica recorde no país – registrada no ano passado – Dagnese não está completamente satisfeito. “Poderíamos estar colhendo 4.200 kg por hectare, se não fosse a seca”, diz. “Estamos aumentando a produtividade, mas os custos também estão subindo”.
Ainda assim, o clima desfavorável causa danos às lavouras, especialmente nos casos em que os produtores optaram por variedades de ciclo mais curto. As colheitas médias no estado podem acabar ficando 2% abaixo do obtido no ano passado, segundo o analista André Debastiani, da Agroconsult.
Debastiani e outros técnicos visitaram as lavouras no leste do estado há poucos dias, para verificar o potencial produtivo. As colheitas um pouco menores devem ser mais do que compensadas pelo aumento da área plantada, projetando-se um volume final de 33 milhões de toneladas, contra 32,3 milhões do ano passado.
“Os produtores investiram em suas lavouras e os solos estão se mostrando cada vez mais resilientes a condições estressantes”, afirma Debastiani. Ainda que as lavouras no Paraná e no Mato Grosso do Sul tenham sido severamente atingidas pelo calor, o total da safra brasileira de soja deve chegar a 115 milhões de toneladas, o segundo melhor resultado da história. “Apesar dos problemas, ainda teremos uma grande safra”, conclui Debastiani.
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