Ao longo da última década, a soja se transformou na principal cultura de verão do país. Atualmente, o milho verão ocupa apenas 5,49 milhões de hectares no Brasil, contra 36,83 milhões de hectares da oleaginosa. A safrinha, milho que sucede a soja na lavoura, ocupa 11,80 milhões de hectares. Produtividade, preço, tecnologia e custo de produção são alguns dos fatores que explicam essa mudança no campo, que atingiu todos os estados brasileiros, mas com algumas diferenças.
Santa Catarina, por exemplo, também vai produzir mais soja do que milho. No entanto, é o único estado da federação em que houve aumento de área dedicada ao cereal na safra verão. O estado também tem a menor diferença entre as áreas de soja e de milho do Brasil. Serão 560 mil hectares de cereal (220 mil ha para silagem) e 700 mil ha de oleaginosa.
A resistência do milho verão no estado está ligada à cadeia de proteína animal. Santa Catarina é o maior produtor de suínos do país e o segundo maior de aves. Essas atividades consomem aproximadamente sete milhões de toneladas de milho por ano – sendo que, mais de quatro milhões de toneladas são trazidas de outros estados.
Segundo o secretário de Estado da Agricultura e da Pesca, Airton Spies, pela primeira vez no estado a produtividade média do milho vai passar de 10 toneladas por hectare. “Os produtores investiram pesado em tecnologia. Em sementes de maior potencial genético, em adubação. Acredito que vamos ter uma produção muito boa”, diz.
Dados do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), estimam que Santa Catarina deve colher 2,77 milhões de toneladas de milho na safra 2018/19, 8% mais que na temporada anterior. Para o secretário de agricultura, a aposta no cereal está ligada aos preços. “Como Santa Catarina sempre consumiu muito milho, o cereal aqui tem muita liquidez. E isso anima o produtor”, diz. Santa Catarina, diferente de outros estados, pode fazer safrinha de soja, ou seja, o produtor catarinense pode aplicar na lavoura a sucessão milho-soja. No estado, 12% das lavouras de soja e 60% das lavouras de milho foram semeadas.
De acordo com o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), Enori Barbieri, mesmo o aumento de área e produtividade no milho, a safra catarinense como um todo não deve ter grandes alterações. “Por causa dos custos de produção, a expectativa é de que a Safra 2018/19 seja semelhante à anterior”, diz. “Os produtores têm conhecimento de que os estoques mundiais de grãos estão acima do normal, portanto, será um ano de menor rentabilidade do que na safra anterior”, afirma.
Barbieri conta que o custo de produção aumentou, principalmente em decorrência da greve dos caminhoneiros, que impactou diretamente no preço do frete dos insumos e fertilizantes. A alta do dólar foi outro fator crucial para esse aumento. Quando o assunto é preço, revela, os produtores não estão animados. “Eles não tiveram tantas oportunidades de fazer bons contratos antecipados por causa da elevação do dólar. Apenas quem tem estoque físico conseguiu vender. Essa situação travou o mercado”.
Na opinião do secretário Airton Spies, a safra, no geral, será muito boa. “A previsão é de clima bom. O plantio está dentro do esperado. E com um investimento tecnológico muito alto, os produtores vão ter boas médias de produtividade e uma produção satisfatória. Será uma safra cheia”, afirma.
É o que espera o produtor Gilson Korkedt, de Coronel Freitas. Neste ano, ele está apostando no milho. Dos 49 hectares, 39 serão cobertos com o cereal. “Eu espero uma safra boa, melhor do que no ano passado. O clima neste ano está melhor. O meu milho já está se desenvolvendo muito bem”, diz, enquanto aplica ureia nas lavouras dedicadas ao cereal.