Era uma vez a história de um mar verde. Por lá, sequer tem praia. Mas entre outubro e janeiro, existe um oceano de soja. E dentro desse mar fica uma ilha. Nela estão algumas das últimas mudas de milho plantadas para a temporada de verão, um alimento raro nessa época e que pode virar comida, ração e até mesmo etanol.
Quem cuida dessa ilha é a família Grimm. Ou melhor, as herdeiras da propriedade do Sr. Valdir Grimm, um ‘agricultor raiz’ que ajudou a despertar em Letícia e Luana o interesse pela agricultura. Hoje Valdir está tranquilo. Com ambas formadas em agronomia, elas são a terceira geração a tocar esse barco.
Mas é claro elas não fazem isso sozinhas, já que a ilha é grande. São 300 hectares de milho verão e outros 1.800 hectares que engrandecem o mar de soja de São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul. Com a ajuda de 11 escudeiros, Letícia explica o porquê ainda aposta no milho, já que no município são raras as ilhas com o grão:
“É importante para fazer rotação de cultura”, destaca. Na safra seguinte, os 15% a 20% da área da propriedade utilizados para o milho no verão trazem nutrientes melhores para o solo que receberá o plantio da soja. Ou seja, essa ilha de milho auxilia na produtividade. “Muitos [produtores] hoje só plantam soja [no verão], mas até três anos atrás, um terço da área era de milho”, afirma.
Faz sentido: em 2016, o preço do milho batia a casa de R$ 31 na região. No ano seguinte, despencou para menos de R$ 20. “Mas é importante [manter o plantio variado] até para não colocar todos os ovos na mesma cesta”, diz Letícia. Durante o inverno, elas variam o plantio, com palhada, milho e, nabo e aveia. A técnica se chama cobertura de solo, adequando o terreno para quando vier a soja, o carro chefe de 100 entre 100 produtores da região.
Tais pais, tais filhas
A família Grimm é um dos exemplos de sucessão no campo em São Gabriel do Oeste. Outro é a família de Sérgio Marcon, agricultor e pai de duas filhas: uma segue a carreira de medicina e a outra de administração. O curso do pai? Administração. “As mulheres estão cada vez mais presentes no campo”, afirma Sérgio. Ele garante: o gosto pelo empreendedorismo agrícola foi natural e ele torce para que a filha toque as terras da família.
Com os Grimm, o sonho de Sérgio já é realidade. As filhas de Valdir dizem que também não foram forçadas pelo pai e se encantaram pelo campo naturalmente. Mas apoio não faltou. Nunca.
“Meu pai tem a cabeça muito aberta e aceita muito bem as novas ideias. Fizermos até cursos [de sucessão no campo] juntos. Um deles foi em gestão”, diz Letícia. Já Luana, caçula da família, tem duas inspirações: além do pai, a irmã mais velha.
“A gente vem planejado tudo juntas, eu e a Letícia. Meu pai entendeu muito bem a questão da sucessão. Mas eu entrei por amor aos negócios, nunca ele nos induziu. Para ele, foi uma surpresa”, garante Luana.
Sérgio Marcon tem uma explicação para a continuidade: “Aqui nós vamos seguindo o trabalho das gerações anteriores, de nossos pais. Tanto o meu sobrinho quanto a minha filha começam a gerir as nossas propriedades. Nós estamos acompanhando, mas as tomadas de decisões já são por nossos sucessores”. O sobrinho dele é agrônomo de formação.
Entre as inovações trazidas pelas novas gerações estão as novas tecnologias. Letícia mostra no campo um iPad, em que monitora e faz anotações sobre as condições das lavouras e calcula as necessidades dos terrenos. Além disso, os equipamentos agrícolas são equipados. Tem GPS e outros recursos que atendem e melhoram a produção. Resultado: mais produtividade, maior rentabilidade e duas ou mais gerações aprendendo juntas.
PT se une a socialistas americanos para criticar eleições nos EUA: “É um teatro”
Os efeitos de uma possível vitória de Trump sobre o Judiciário brasileiro
Ódio do bem: como o novo livro de Felipe Neto combate, mas prega o ódio. Acompanhe o Sem Rodeios
Brasil na contramão: juros sobem aqui e caem no resto da América Latina
Deixe sua opinião