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Mesmo ameaçado pela ferrugem, Paraguai deve emplacar mais uma safra cheia

 | Kiko Sierich/
(Foto: Kiko Sierich/)

No ciclo 2018/19, o Paraguai deve obter, pela sexta vez consecutiva, uma safra cheia. A regularidade de chuvas foi a marca do plantio neste ano e o tempo úmido deve seguir até a colheita, com a chegada do fenômeno climático El Niño, no início de 2019.

Mais umidade é ótima notícia para o desenvolvimento das lavouras, mas também é campo fértil para a proliferação dos esporos do fungo da ferrugem asiática. O controle da doença é o principal foco de atenção no Paraguai. “A ferrugem chegou mais cedo neste ano e deve pressionar bastante, exigindo mais aplicações. O custo da ferrugem é um ponto importante, numa média nacional, a gente tem percebido uma aplicação a mais de fungicida em toda a soja do Paraguai. Se nós perdermos a corrida para a ferrugem, ela vai tomar nosso dinheiro no final da safra”, resume Sidnei Neuhaus, gerente de Marketing da Agrotec, empresa de fomento à produção e tecnologia agrícola no Paraguai.

Nos últimos dois anos, os focos de ferrugem da soja no Paraguai apareceram no final de novembro e em dezembro. Neste ciclo, no entanto, Neuhaus aponta que os primeiros relatos da doença surgiram já há quatro semanas. Ele acredita que, cedo ou tarde, o Paraguai irá adotar a estratégia do vazio sanitário na safra de inverno, como no Brasil, em que não é permitido o plantio de soja nesse período. “Esse é um cenário muito provável, que o próprio produtor perceba esse impacto no seu custeio, e reveja seu sistema produtivo, priorizando realmente a safra principal de soja, que é a maior, a mais importante e que mais remunera”.

Neuhaus foi um dos palestrantes da cerimônia de lançamento da etapa da Expedição Safra 2018/19 no Paraguai, nesta quinta-feira, 22/11. Agricultores brasileiros e paraguaios se reuniram na Agro Expo Coopasan, em Pinga Morã, a 100 km da fronteira com o Brasil, para acompanhar a largada da 13ª edição do levantamento técnico-jornalístico promovido pelo Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo. As projeções locais e o cenário global da produção de grãos foram tema de debates entre especialistas e produtores. O coordenador da Expedição Safra, Giovani Ferreira, destacou de onde deve vir o próximo salto de desenvolvimento do país vizinho. “Não tenho dúvidas que é a logística que vai dar impulso ao Paraguai nas próximas décadas, pelo ganho de competitividade no uso das hidrovias e das carreteiras (rodovias) no escoamento das safras. É daí que virá o novo boom paraguaio, mas isso não quer dizer que se possa descuidar da lição de casa: é preciso manter o alto nível tecnológico das lavouras, o manejo correto e o aproveitamento de novas áreas agrícolas”.

Para os próximos dez anos, a projeção é que o terceiro maior produtor de grãos da América do Sul, após Brasil e Argentina, deve aumentar em até 50% o volume de suas colheitas de milho e soja. Atualmente, o país produz 9,7 milhões de toneladas de soja e 4,2 milhões de toneladas de milho.

Na opinião de Sidnei Neuhaus, da Agrotec, os ganhos dos produtores terão de vir, necessariamente, pelo aumento da eficiência. “Em termos de preço, ou seja, de dólar por bushel, não temos muito para onde correr. Ser mais eficiente, diminuir custos e aprimorar a tecnologia, esse será o caminho da rentabilidade”.

Na avaliação do meteorologista Luiz Renato Lazinski, do INMET, “o clima nesta temporada será favorável para os grãos, tanto na safra de verão como na safrinha”. “Em termos de clima, acho que será um ciclo melhor até do que no ano passado”.

Acostumada a fazer negócios com produtores paranaenses, a cooperativa Castrolanda está em casa no Paraguai, onde a agricultura é liderada por ‘expatriados’ paranaenses. “Entender como está o mercado de soja, as tendências em diferentes regiões, é importantíssimo. A gente não pode olhar e atuar apenas na nossa área, por que o mercado de soja tem uma dinâmica que atravessa continentes”, disse Jackson Pereira, representante da cooperativa na feira paraguaia.

O produtor Gladecir da Silva nasceu em Santo Antonio do Sudoeste, no Paraná, há 45 anos, mas desde os três de idade mora no Paraguai. Está otimista com a produtividade dos 200 hectares da propriedade, totalmente dedicados à soja no ciclo de verão: “Estou colhendo em média cerca de 70 sacas por hectare. Se não faltar chuva, espero repetir esta produtividade que alcancei no ano passado”, comenta. Em função da ocorrência de alguns focos de ferrugem mais cedo nas lavouras, Silva já estima que, neste ciclo, deverá fazer uma quarta aplicação de fungicida para tentar controlar a doença.

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