Em Guarapuava, cidade símbolo do Terceiro Planalto do Paraná, o inverno não terminou, pelo menos no campo. Na região, as principais culturas desta época – cevada e trigo – ainda estão nas lavouras. Por enquanto, apenas 4% dos 36 mil hectares de trigo foram colhidos. No caso da cevada, o ritmo é ainda mais lento: só 1% dos 40 mil hectares dedicados ao cereal foi capturado pelas colheitadeiras.
Assista à entrevista com o produtor Josef Stutz
Localizada a mais de 1.100 metros de altitude, a cidade é uma das mais frias do Paraná. Bastante suscetível a geadas, inclusive no ano inteiro, o município é, tradicionalmente, o último a colher os cereais de inverno e a plantar soja. “Nós já tivemos registros de geadas em diferentes épocas do ano, tanto em fevereiro quanto em setembro, outubro”, conta o engenheiro agrônomo Rodrigo Luiz Martins, da Tampa AgroConsultoria.
Segundo o engenheiro agrônomo Josef Pfann Filho, presidente da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas, a dessecação de cobertura para plantio de soja está atrasada. “Mas a melhor época ainda não aconteceu. Alguns produtores estão tentando ganhar tempo para ter menos problema com ferrugem. O pessoal está tentando plantar milho mais cedo para tentar plantar feijão depois”, diz.
Neste ano, as chuvas dos últimos dias têm sido outro fator agravante, segundo Márcio Mourão, coordenador de assistência técnica da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa). Com 460 produtores associados, a Agrária é a maior cooperativa da região e referência nacional na produção de cereais de inverno. “As chuvas atrapalharam um pouco. Sim, houve atraso, mas não comprometeu a qualidade dos cereais e nem a produtividade”, diz. Mourão conta que a expectativa para o trigo é de 3,5 mil kg por ha; e de 4 mil kg/ha na cevada. “O grosso da colheita dos cereais e do plantio de soja na região é na primeira quinzena de novembro”, explica.
Clima favorável
O produtor Josef Stutz, da colônia Entre Rios, em Guarapuava, não vê a hora de colher o trigo e a cevada para começar o plantio de soja. “Estamos esperando o clima colaborar”. Neste ano, ele plantou 25 hectares de trigo e 60 de cevada. “Já plantei o milho e vou semear 90 ha de soja”. Ele está animado com a possibilidade de alcançar os mesmos rendimentos do ano passado. “Consegui 74 sacas por hectare na soja e 250 sacas no milho. O investimento é para alcançar o mesmo ou ultrapassar as marcas”, conta.
O milho verão, na região não existe safrinha, é uma cultura com muito potencial produtivo. O clima e a altitude fazem com que a região tenha produtividade semelhante à dos Estados Unidos. “Mesmo assim é uma cultura muito arriscada. O milho vem perdendo muito espaço para soja. Os custos são altos e os preços muito baixos se comparados com a soja”, diz o produtor Pellisson Kaninski. Engenheiro agrônomo, ele conta que por opção não produz cereais de inverno, apenas aveia para cobertura. Neste ano, ele vai semear 170 hectares de soja. “No ano passado, por causa do mofo branco, nós tivemos uma produtividade média em torno de 3,2 mil kg/ha. Neste ano, esperamos 4 mil kg/ha”.
A Agrária trabalha com uma safra de verão estimada em 90 mil hectares de soja e 40 mil de milho. “Os custos de produção subiram um pouco, principalmente nos fertilizantes. Nós tivemos alguns atrasos por causa da greve dos caminhoneiros e o tabelamento do frete, que continua sendo uma grande incógnita”, diz Mourão. “Mas a expectativa é de uma safra cheia”, complementa. Atualmente, 15% da safra de soja dos cooperados foram comercializadas no mercado futuro. No mesmo período do ano passado, o volume era 30%.
Vice-chefe do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), o engenheiro agrônomo Edson Perez Guerra diz que o El Niño, fenômeno climático marcado pelo excesso de chuvas, porém mais esparsas, pode prejudicar o controle de ervas daninhas e de fungos, além do ataque de lagartas. “O plantio pode ser um pouco mais complicado. O produtor tem que ficar atento”, afirma.
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