| Foto: Divulgação/

Foi na Amazônia brasileira que um grupo de estudantes alemães teve a ideia de desenvolver um aplicativo para identificar, através de imagens captadas pelo celular, que tipo de praga ou doença está atacando uma planta.

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Os jovens trabalhavam num projeto internacional de cinco anos (2011 a 2016) – envolvendo 17 institutos de pesquisa e universidades – sobre emissão de gases de efeito estufa e sustentabilidade das atividades agrícolas. Mas logo perceberam que o que mais preocupava os agricultores era como identificar e enfrentar pragas, doenças e deficiências nutricionais de suas lavouras.

“Havia muita carência de assistência técnica e informação transparente para os produtores, que tinham que se virar sozinhos com seus problemas”, diz Korbinian Hartberger, diretor da firma alemã PEAT, de Berlim, desenvolvedora do aplicativo Plantix.

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Hoje o app Plantix, lançado pelos pesquisadores alemães em 2015, tem 500 mil usuários ao redor do mundo, cerca de 80 mil deles no Brasil. A ferramenta, disponível na plataforma Android e com versão web, trabalha com algoritmos de “machine learning” para distinguir, a partir de sintomas nas folhas, raízes e galhos, quais as causas dos danos causados às plantas.

Se a detecção do problema da planta não for automática, o aplicativo redireciona a dúvida para um especialista 

O aplicativo pode fazer um diagnóstico analisando apenas uma fotografia. O scanner já consegue identificar 300 tipos de problemas que afetam mais de 30 culturas. O banco de dados abrange desde culturas comerciais como soja, milho, algodão, banana, mandioca, tomate, pimentão e laranja, até plantas ornamentais e hortaliças cultivadas em áreas urbanas.

Somente no Brasil, segundo Hartberger, o banco de dados contém mais de 500 mil fotografias de doenças, pragas e deficiências nutritivas em plantas. E cada usuário que cadastra uma planta doente acrescenta mais informação ao programa de inteligência artificial.

Segundo os desenvolvedores, o índice de acertos do aplicativo varia de 80% a 100%. “Nos casos em que uma lavoura ou doença não está mapeada, ou em que não conseguimos identificar o problema, a comunidade Plantix pode ajudar. No Brasil, trabalhamos com apoio de técnicos da Fitocon, uma startup de consultoria agrícola remota, controle de pragas e produção orgânica”.

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Plantão de especialistas

A cada hora, no Brasil, o aplicativo responde em média 20 novas perguntas. Quando o diagnóstico a partir da foto apresentada não é automático, a ferramenta sugere encaminhar o problema para um especialista. Aí entra o trabalho da Fitocon, com sede em Florianópolis. Duas biólogas e uma engenheira agrônoma interagem 9 horas por dia com os usuários.

“Aqui no Brasil atendemos muitas dúvidas sobre problemas que afetam cítrus, tomate e olerícolas. Na comunidade mundial, a busca é grande em relação a pragas no algodão, soja e milho. Tem muitos outros técnicos que participam como usuários e também respondem as dúvidas. É bom para a comunidade e é bom para o técnico, que está divulgando o trabalho dele”, diz Caroline Luiz Pimenta, agrônoma com doutorado em Ciências pela UFSC.

Caroline observa que as “plantonistas” do Plantix não fazem receituário online de defensivos agrícolas, até por que a legislação brasileira não permite. “Nossa política é sempre indicar uma intervenção voltada para o orgânico, a aplicação de causa bordalesa ou óleo de neem, por exemplo, ou um manejo cultural, como poda ou adubação. Quando precisa mesmo de um defensivo agrícola, a gente orienta para procurar um agrônomo de sua região”.

Folha com doença melanose do cítrus 

A reportagem do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo baixou o aplicativo e fez contato com alguns usuários, para avaliarem a utilidade da ferramenta. “É muito bom para nós, técnicos”, disse Francisco Carlos, técnico agrícola que postou uma foto de cajus esbranquiçados perguntando “Que doença é essa?”. A resposta veio da bióloga Juliana Mattana, da Fitocon. “Isso é oídio do cajueiro”, respondeu, fornecendo em seguida um link de notícia da Embrapa sobre como combater a doença fúngica. Já o extensionista da Emater-PR Carlos Alexandre Harold disse que ainda estava “em fase de testes com o aplicativo” e que ainda não tinha uma opinião formada.

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O próximo melhoramento no aplicativo será um “guia da lavoura”, que orientará o produtor sobre o ciclo produtivo, informando sobre o melhor momento para aplicar fertilizantes, de prestar atenção em certas pragas e adotar boas práticas agronômicas.

“Em alguns anos”, diz Hartberger, “acredito que poderemos fazer uma detecção automática da maioria das doenças, já indexadas em nossa livraria virtual, reunindo informações sobre sintomas, causas, fatores indutivos, métodos de controle e prevenção”. O aplicativo se propõe a ser sempre gratuito para os usuários, buscando gerar receita ao compartilhar com companhias agrícolas a expertise na detecção de doenças. É compatível, por exemplo, com drones e equipamentos de agricultura de precisão.