A lentidão na exportação de grãos pelo Porto de Paranaguá compromete a imagem do Brasil no mercado internacional e represa a produção de verão no campo. Os armazéns estão abarrotados, informam grandes cooperativas que atuam no Paraná. E com perspectivas de uma safra cheia no inverno – puxada pelo milho –, a tendência é de que a situação fique ainda pior. O cenário atual remete à safra 2009/10, quando parte da colheita estadual teve de ser estocada emergencialmente em ginásios de esportes em cidades do interior. Em Mato Grosso, as montanhas de grãos ficam a céu aberto, pois há baixo de risco de chuvas por cerca de cinco meses por ano.
O sistema Carga Online, adotado pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), organiza a chegada dos caminhões e o carregamento dos navios no litoral, mas tem dificultado a vida de quem trabalha no campo. “O sistema evita a fila no porto, mas retém os grãos nos armazéns das cooperativas. Isso é arriscado às vésperas do início da safra de milho”, ressalta o presidente da cooperativa Integrada, de Londrina, no Norte do estado, Carlos Murate. A capacidade de armazenagem da cooperativa – de 900 mil toneladas – está totalmente comprometida. Ao longo dos próximos meses, os associados da cooperativa devem enviar outros 800 mil toneladas de grãos.
A C.Vale, de Palotina, no Oeste do estado, foi obrigada a recomprar 60 mil toneladas de soja de um compromisso de 200 mil toneladas firmado ainda no início do ano. “Recompramos e vendemos no interior porque os importadores nem sequer conseguiram nomear a carga que deveria ser embarcada. O atraso é de 50 dias no porto”, explica Valentim Squisatti, gerente do departamento de operações e mercado da cooperativa. Das 140 mil toneladas ainda negociadas, apenas 60 mil toneladas seguiram para o litoral. O restante não tem data para embarcar. “Infelizmente está tudo represado”, afirma Squisatti.
Os armazéns instalados no estado começaram o ciclo 2012/13 praticamente vazios. Com a quebra na safra norte-americana no ano passado, o Brasil assumiu a liderança nas exportações globais de soja e milho, reduzindo os estoques internos. Diante do consumo internacional aquecido, o setor produtivo elevou suas apostas neste ano. Houve aumento de área e, com a ajuda do clima, uma supersafra está se confirmando em todo o país, exceto no Nordeste.
No Paraná, a produção será de 15,2 milhões de toneladas de soja e 6,6 milhões de toneladas de milho, segundo levantamento da Expedição Safra Gazeta do Povo. Cerca de 90% da área da oleaginosa e 80% do cereal estão colhidas.
“Se tudo ocorrer bem [clima favorável] os navios de grãos que aguardam em Paranaguá devem ser carregados em dois meses”, ressalta Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Para evitar fila de caminhões na estrada que liga a capital ao litoral, como nas temporadas anteriores, a Appa enrijeceu as regras do sistema Carga Online.
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