O governo federal e caminhoneiros não chegaram a um acordo nesta quarta-feira (22) sobre o pedido da categoria para tabelamento do preço do frete, e representantes dos motoristas anunciaram uma paralisação a partir de zero hora de quinta-feira (23).
"O Brasil vai parar", gritaram em coro os caminhoneiros, após reunião na sede da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
"Algumas reivindicações foram atendidas pelo governo, mas a principal delas, que pedia um preço mínimo do frete, não avançou", disse o presidente da Associação dos Transportadores Autônomos e Motoristas (Abtram), Neori “Tigrão” Leobet. Ele explica que o setor também pede que a tabela seja vinculada as flutuações no preço do óleo diesel. Dentre as demandas atendidas está o prorrogamento por 12 meses no prazo para pagamento de financiamentos para a compra dos caminhões
Tigrão, que também é presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Ponta Grossa e Campos Gerais (Sinditac), conta que a decisão de fazer nova paralisação partiu dos próprios caminhoneiros e não dos sindicatos ligados à categoria. “O pessoal saiu da reunião chateado, nervoso. Está faltando diálogo”, afirmou.
"Os representantes do governo disseram que há empecilhos jurídicos para uma tabela impositiva [de frete], e a categoria não quer uma tabela apenas referencial", disse o representante dos caminhoneiros autônomos do Centro-Oeste, Gilson Baitaca. Os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e o dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, participaram da reunião representando o governo.
Rosseto não respondeu diretamente se acha que a greve será menos intensa do que a de fevereiro, mas disse estar seguro de que "a ampla maioria da categoria vai apoiar as propostas apresentadas pelo governo". Ele lembrou que o governo sancionou a Lei dos Caminhoneiros que prevê a isenção da cobrança de pedágios por eixo suspenso e disse que a tabela referencial proposta pelo governo é um "forte instrumento" para a negociação dos preços de fretes. Também reiterou que a tabela impositiva, demandada pelos caminhoneiros, não tem amparo legal e teria dificuldades para implementação. "Entre dezenas de conquistas, há um único ponto em que não houve concordância", disse.
Impasse
As indústrias que contratam frete, especialmente aquelas que trabalham com produtos agrícolas, são contrárias a um tabelamento e sugeriram a criação de uma bolsa de fretes para dar transparência ao setor. O argumento é de que além de ser inconstitucional, a prática contraria a livre concorrência e a livre iniciativa, e poderia elevar a inflação.
Especialistas no tema também avaliam que definição de um preço mínimo é inviável. “A frota de caminhão aumentou e a economia desabou. Ou seja, a oferta está maior que a economia exige. Se fizerem uma tabela, ela será descumprida”, aponta o consultor logístico Luiz Antonio Fayet.
Representantes dos agricultores de Mato Grosso, uma das regiões mais afetadas pelos protestos, acreditam que a nova greve não será tão intensa como foi a anterior. "Não acredito que eles consigam, ao menos de imediato, paralisar novamente na intensidade que estavam. A comunicação entre eles está muito divergente para paralisarem novamente", analisou Antônio Galvan, presidente do Sindicato Rural de Sinop, no norte de Mato Grosso.
Crise anunciadaAntes da reunião o presidente da Federação Nacional das Associações de Caminhoneiros e Transportadores (Fenacat) Luiz Carlos Neves, já confirmava a possibilidade de novos protestos. “Vamos esperançosos em uma solução. Caso não ocorra, já está tudo esquematizado e os bloqueios começam na quinta-feira”, afirmou.
Protestos de caminhoneiros em fevereiro paralisaram dezenas de rodovias, afetando exportações brasileiras e a movimentação de cargas no país. O prejuízo estimado foi de R$ 700 milhões para a indústria de carnes de aves e suínos, devido a interrupção de abates e restrições no transporte de insumos e produtos. Em algumas granjas os animais chegaram a morrer de fome. No caso da pecuária, os produtores foram obrigados a descartar parte do leite oriundo das ordenhas, pois a coleta foi inviabilizada. Também houve desabastecimento de combustível em várias cidades do país, o que contribuiu para um pequeno atraso na colheita da safra de grãos.