Os agricultores brasileiros alcançam uma receita bruta média 7% maior do que os argentinos com o plantio do milho. Mas os hermanos riem por último, e melhor, por que quando são descontados os custos de produção, eles ficam com um lucro que é quase o dobro do obtido pelos brasileiros. Direto ao ponto: enquanto por aqui a lucratividade média é de US$ 196,76 por hectare, os vizinhos obtêm renda líquida de US$ 387,79 na mesma área plantada.
Os dados fazem parte de um levantamento de custos entre 2010 e 2016 apresentado pelo economista Antônio da Luz, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, durante o Fórum Nacional do Milho na feira agropecuária Expodireto, que começou nesta segunda-feira (05/03) no município gaúcho de Não-Me-Toque.
“O milho é um produto agrícola cuja demanda só vai aumentar nos próximos anos, com um mercado crescente em todo o mundo. Ou seja, vale a pena produzir. Mas os custos de produção no Brasil ainda são muito elevados. Em relação aos principais produtores, como Estados Unidos, Argentina, Ucrânia e Rússia, a tonelada de milho mais cara para o agricultor é a nossa”, afirmou Antônio da Luz.
Entre os vilões do custo de produção no Brasil estão os gastos com fertilizantes, praticamente o triplo do que despendem os argentinos (US$ 360,24 contra US$ 123,29 por hectare) e as despesas com defensivos agrícolas (US$ 70,27 contra US$ 59,48).
Quando a comparação é com os Estados Unidos, maior produtor mundial, a diferença também é expressiva. A tonelada do adubo cloreto de potássio foi no ano passado 53% mais cara no Brasil (US$ 333,76 contra 217,50). Em relação ao fosfato diamônio (DAP), o preço ficou 44% mais elevado aqui em 2017 (US$ 510,97 contra US$ 354,33 nos EUA). E fechando a clássica composição de fertilizantes NPK, a ureia custou em 2017 para os agricultores brasileiros 80% mais do que para seus congêneres americanos (US$ 401,58 contra US$ 223 a tonelada).
É mais barato também comprar máquinas agrícolas nos vizinhos do Mercosul. Um trator de 65 cv, entre os mais utilizados, custa 20% mais no Brasil do que no Uruguai, por exemplo.
Quando a comparação chega aos defensivos agrícolas, alguns disparates chamam a atenção. O fungicida Dithane, que é fabricado no Brasil, sai aqui 34% mais caro do que o mesmo produto brasileiro vendido no Uruguai. O herbicida Goal BR, igualmente fabricado no Brasil, custa 144% mais em solo nacional do que depois que cruza a fronteira. E, finalmente, o exemplo mais gritante: o inseticida Karate ou Zeon 50CS, fabricado no Brasil, custa US$ 26,30 aqui e US$ 5 no Uruguai – uma diferença de 426%.
“Não é culpa dos produtores, não é sequer culpa das empresas que produzem os defensivos. Quem cria todo esse embaraço é o próprio país, o governo, que não promove a abertura comercial. Os uruguaios e argentinos podem cruzar a fronteira e comprar o defensivo onde bem entenderem, mas nós, brasileiros, não podemos, e isso favorece os preços absurdos”, critica o economista da Farsul.
Outro problema apontado por Antônio da Luz são as políticas de preço mínimo que, segundo ele, têm ajudado muito o milho safrinha do Centro-Oeste, mas acabam “sendo um desastre para o milho gaúcho”. Apesar de ter produtividade média maior do que os mato-grossenses (10.800 kg/ha contra 7800 kg/ha), o custo operacional no Rio Grande do sul é 50% maior do que no estado do Centro-Oeste (R$ 3.975,51 contra R$ 2.655,05 por hectare, em 2017). Os gaúchos gastam 46% mais com fertilizantes e 17% mais com defensivos do que os matogrossenses.
A lucratividade média é maior no Centro-Oeste, alcançando R$ 424,34 por hectare contra R$ 323,01 por hectare nos pampas. Na hora de apoiar o escoamento da produção, diz o economista, essa vantagem dos matogrossenses se acentua, visto que em 2017 eles receberam a maior parte dos R$ 706 milhões gastos para apoiar o escoamento de 1 milhão de toneladas para o Sul. “O milho pode ter futuro, mas não com esses problemas”, desabafa o economista.”
Na avaliação de Rogério Kerber, presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do Rio Grande do Sul (Fundesa), o Sul se encontra numa encruzilhada em relação ao milho. Os gaúchos terão um déficit de milho em 2018 na ordem de 2,2 milhões de toneladas e, os catarinenses, de 4 milhões de toneladas.
“O Paraná, que tem forte produção de milho, também vem reduzindo a área plantada e se depara com um crescimento extraordinário na produção de aves e suínos. A maior região produtora fica no Brasil Central, mas a exportação pelo Arco Norte do país vai nos deixar como o local mais distante para abastecimento”, avalia Kerber.
A saída pode estar em algum outro grão de inverno, como trigo ou triticale. “Cerca de 14 milhões de hectares da região Sul ficam atualmente em pousio, sem nenhuma cultura de inverno. Há avaliação de um trigo com finalidade de ração, que tem potencial de produzir o dobro, cerca de 6 mil kg por hectare. Esta é uma solução que começa a ser trabalhada, por sugestão da própria Embrapa”, observa. Outro alívio logístico, devido à proximidade, deve vir da Argentina, mas não nesta safra, por causa das pesadas perdas com a seca. “Estamos mesmo numa encruzilhada”, resume Kerber.
O consultor Carlos Cogo, também palestrante do Fórum Nacional do Milho, afirma não ter dúvidas que 2018 será um ano de preços altos para o milho. A quebra na safra argentina, de 43 milhões de toneladas para menos de 36 milhões, deverá abrir espaço para exportações brasileiras. Os Estados Unidos, por outro lado, segundo Cogo, tem um excedente exportável menor neste ano. “Some-se a isso um risco climático maior, uma segunda safra plantada mais atrasada, e estamos criando um ambiente para tempestade perfeita. Isso irá penalizar as cadeias produtivas de aves, suínos e leite”, avalia.
Na opinião de Cogo, o momento é oportuno para negociar o milho. “O produtor sempre deve vender o produto na alta. Esse é um ótimo momento para vender o produto, você abastece o mercado e está realizando o lucro num nível bastante elevado”, finaliza.
*O jornalista viajou a convite da LS Tractor.