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Cooperativa ressurge para brigar com grandes players do mercado do leite

Sede da Confepar, em Londrina, que agora pertence à Cativa | Divulgação/Cativa
Sede da Confepar, em Londrina, que agora pertence à Cativa (Foto: Divulgação/Cativa)

Nas últimas semanas, o produtor de leite Paulo Maciel, presidente da Cooperativa Agroindustrial de Londrina (Cativa) tem respondido com frequência à mesma pergunta: “Como pode uma cooperativa singular comprar uma central de cooperativas?”

A Cativa não só comprou a central Confepar por R$ 30 milhões de outras cooperativas parceiras no Norte e Sudoeste do Paraná (Colari, Copagra, Cocafé, Cofercatu e Coopleite), como começou um plano de expansão para conquistar associados e fazer captação de leite nos estados vizinhos de Santa Catarina e São Paulo. Em Santa Catarina já são 380 cooperados e, em São Paulo, 120.

De saída, a Cativa se tornou a maior captadora singular de leite do Paraná, com 850 mil litros por dia, só sendo superada pelo Pool Leite, liderado por três cooperativas dos Campos Gerais - Castrolanda, Frísia e Capal - que captam 1,5 milhão de litros diariamente.

Tudo é uma questão de foco. “A dinâmica do leite é diferente da produção de grãos, em que o mercado regula os preços. No leite é uma briga diária, tem que ser ágil e atuar bem próximo do produtor. No sistema anterior, de uma cooperativa central, nós ficávamos no meio e não tínhamos poder de nada, só representação política”, diz Paulo Maciel, mais conhecido como Paulinho da Cativa.

“Todos os produtores de leite que estavam nas outras cooperativas vieram para a Cativa e nós saímos de 6 mil e poucos cooperados para mais de 10 mil”, acrescenta. O segredo estaria em oferecer “tudo o que o produtor precisa”, desde ração própria, fábrica de sal mineral e assistência técnica, até uma rede de 21 lojas de produtos agropecuários.

A jogada da Cativa de voltar a ser independente e verticalizar a atuação no leite deu resultados rapidamente. O faturamento saltou de R$ 30 milhões em janeiro para R$ 49 milhões em março. Montante que, mantido, deve ser mais do que suficiente para fazer frente à dívida de R$ 15 milhões assumida para fechar o negócio, e que será paga em prestações pelos próximos cinco anos.

Ao comprar a Confepar – que deixará de existir dentro de um ano e meio – a Cativa espera obter uma economia operacional de R$ 9 milhões até dezembro. O cálculo é feito com base na otimização de uma série de estruturas administrativas que eram duplicadas, como departamentos de compras, jurídico, logística, contabilidade e recursos humanos.

Para o especialista no mercado de leite da AgriPoint, Valter Galan, o movimento da Cativa segue a tendência de consolidação de posições no mercado brasileiro, notadamente com a entrada de grandes multinacionais como a Lactalis (francesa), Lala (mexicana) e Leprino (americana).

“As cooperativas também tendem a aumentar as alianças entre si e consolidar suas operações, para também obter ganhos em escala e competir com as grandes empresas do setor. Os movimentos para São Paulo e para Santa Catarina fazem muito sentido. São Paulo é um dos maiores centros consumidores de lácteos do país e Santa Catarina é um dos estado que mais cresce na produção de leite no país”, aponta Galan.

Projeto maior

Para o presidente do Sistema da Organização das Cooperativas do Paraná, José Roberto Ricken, “um projeto grande começa a tomar corpo”. “Na atividade do leite, é preciso centralizar e profissionalizar, porque se ficar apenas no jogo do varejo, a remuneração do produtor é muito baixa e não cobre nem os custos”, afirma. “A Cativa passa a ter um potencial de captação de 2 milhões de litros de leite por dia, numa região temperada e de pequenos produtores, para onde o leite está migrando. Consideramos essa operação estratégica para o cooperativismo do Paraná”.

Fundada há 54 anos, a Cativa produz leite longa vida, iogurte, bebida láctea, manteiga, creme de leite e leite em pó. Retomou da Confepar a marca própria, Cativa, e manterá a marca Polly em seu portfólio. Em 2013, a imagem da Confepar no mercado foi abalada em um escândalo de adulteração do leite captado no Rio Grande do Sul e misturado com água, ureia e amônia. Um veterinário da Coopleite, filiada à Confepar, foi condenado a 11 anos de prisão. “Aquilo foi um problema localizado no Rio Grande do Sul e a própria empresa mostrou à Justiça que não teve culpa nenhuma nas fraudes”, afirma Paulo Maciel.

Antes mesmos de “virar a página” da Confepar, a Cativa, que atua em 188 municípios do Paraná, começou uma ofensiva para expandir a área de captação de leite para São Paulo e Santa Catarina. Já está em seis municípios paulistas, na região de Penápolis, e em outros 20 municípios do oeste catarinense, na região de São Lourenço e Treze Tílias. “No interior de São Paulo buscamos o leite a uma distância de 200 a no máximo 300 km, ou seja, consideramos que a matéria-prima está bem próxima de casa. E estamos prestes a fechar uma parceria forte para produzir Longa Vida também em São Paulo”, aponta Paulinho.

O leite em pó é o carro-chefe da empresa. Essa posição está sendo reforçada com assinatura de contrato para fornecer 100 mil litros de leite em pó, por dia, para uma trader da Índia. A intenção é elevar o contrato para 300 mil litros diários, diz o presidente da cooperativa. Pela mão dos indianos, vencedores de licitações internacionais, o leite em pó brasileiro deverá chegar a países africanos como Argélia e Nigéria.

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