Noticiado por toda a imprensa internacional, o escândalo das carnes brasileiras também ganha as páginas da revista britânica The Economist, que chega às bancas e aos assinantes no fim de semana. A revista destaca com o intertítulo “carne morta” que o episódio prejudica duas das maiores empresas do País e que Chile, China e União Europeia, entre outros, proibiram parte ou toda a importação do produto. A publicação brinca que, mesmo em meio aos recentes escândalos corporativos no País, este último é de “embrulhar o estômago”.
A publicação revela que na sexta-feira passada, 17, quando os brasileiros se preparam para fazer o “tradicional churrasco de fim de semana”, a Polícia Federal acusou alguns dos maiores produtores de carne do País de subornarem inspetores para fecharem os olhos em relação a práticas sujas. Estas práticas incluem reembalagem com nova data de vencimento do produto, modificação da apresentação de presunto de aves por soja e uso excessivo de aditivos potencialmente prejudiciais.
A operação policial “Carne Fraca”, relatou a The Economist, pode reduzir as exportações brasileiras de carne, no valor de US$ 13 bilhões por ano, e prejudicar seus dois grandes produtores mundiais de carne, a JBS e a BRF. A revista também cita o empenho do presidente Michel Temer, dias depois em levar 27 diplomatas dos principais mercados de exportação do País para uma churrascaria em Brasília. “Logo depois, no entanto, China, União Europeia (UE), Chile e Coreia do Sul que, juntos, consomem um terço da carne brasileira vendida no exterior, disseram que proibiriam algumas ou todas as importações do Brasil até que pudessem acalmar dúvidas sobre seu regime de inspeção.”
As reações da China e do Chile provocaram uma angústia particular, segundo a revista. Isso porque, ao contrário da UE, que restringiu produtos apenas das 21 fábricas que estão sob investigação, os países proibiram toda a carne brasileira de atravessar suas fronteiras até novo aviso. A Economist salienta que, em março, as ações da JBS, maior exportadora de carne do mundo, e da BRF, maior produtora mundial de aves, perderam um sexto de seu valor de mercado. Como outras empresas envolvidas no caso, ambas as empresas negam as irregularidades. Os preços das ações mostraram uma recuperação parcial depois que a Coreia do Sul desistiu da proibição.
A reportagem explica que a maioria das unidades de produção de carne sob investigação pertence a concorrentes muito menores do que a BRF ou a JBS: apenas uma das dezenas de plantas detidas pela BRF está sob suspeita e o mesmo ocorre com a JBS. “No entanto, o dano à reputação das empresas pode levar muito tempo para ser reparado”, salientou a publicação.
A revista comenta também que o esforço para evitar estragos maiores para o mercado está em andamento, com as autoridades e os frigoríficos brasileiros tentando tranquilizar os clientes no País e no exterior. A The Economist cita os argumentos dos defensores da indústria: o de que os abatedouros suspeitos constituem uma fração minúscula de 5 mil unidades desses estabelecimentos no Brasil e que apenas 33 funcionários do Ministério da Agricultura foram apanhados pela polícia, de uma burocracia de cerca de 11 mil servidores.
“De fato, tanto a JBS quanto a BRF já reduziram os relacionamentos exagerados com o governo dentro de seus negócios”, avalia o semanário, acrescentando que esse recuo foi julgado como essencial quando embarcaram em expansões globais bem-sucedidas na última década. A revista cita que as empresas sabem quanto tempo leva para reconstruir a confiança dos consumidores na esteira de um escândalo e lembra que alguns europeus ainda cheiram a carne britânica 19 anos depois que a Grã-Bretanha eliminou a doença da vaca louca. Os Estados Unidos apenas liberaram a entrada carne brasileira no ano passado, depois de duas décadas de negociações.