O empresário Abilio Diniz fechou um acordo com os fundos de pensão Petros (Petrobras) e Previ (Banco do Brasil) para tentar apaziguar os ânimos na BRF e reverter a forte desvalorização das ações da gigante formada pela fusão de Sadia e Perdigão.
Nesta quinta-feira (5), Abilio deve renunciar à presidência do conselho de administração em uma reunião extraordinária. Em contrapartida, os fundos se comprometeram a alterar a chapa que propuseram para o colegiado, permitindo que o empresário indique dois representantes.
Luiz Fernando Furlan, ex-ministro da Indústria e um dos herdeiros da Sadia, fica na presidência do colegiado interinamente até a aprovação do novo conselho em assembleia marcada para 26 de abril. A partir daí, assume um desafeto de Abilio: Augusto Marques da Cruz Filho, ex-CEO do Pão de Açúcar e presidente do conselho da BR Distribuidora.
A trégua entre os sócios da BRF foi motivada pelo péssimo desempenho das ações, que caíram expressivamente por conta das investigações da Operação Carne Fraca, dos prejuízos provocados pela má administração e da briga no comando da empresa.
Os papeis subiram 1% para R$ 23,15 nesta terça-feira (3), mas permanecessem num patamar muito baixo. Se confirmada sua saída, Abilio deixará a BRF com as ações valendo praticamente metade do que quando entrou.
No dia 9 de abril de 2013, quando o empresário assumiu a presidência do conselho da BRF, os papeis estavam em R$ 45,80. Na época, ele se uniu ao fundo Tarpon para substituir Nildemar Secches, que reconstruiu a Perdigão e a fundiu com a Sadia.
Abilio prometia levar as ações da BRF para R$ 100 em cinco anos, mas equívocos na administração e a conjuntura desfavorável levaram a companhia ao primeiro prejuízo da sua história. O empresário então perdeu o apoio dos fundos, que decidiram tirá-lo do comando.
Sem mais brigas
Conhecido pela disputa de anos com o ex-sócio Casino no Pão de Açúcar, dessa vez, Abilio aceitou um acordo, desde que houvesse mudanças no novo conselho.
Deixarão de fazer parte da chapa o investidor Guilherme Affonso Ferreira e o executivo Roberto Funari, e será mantida Flávia Almeida, vice-presidente da Península e braço direito de Abilio. Ele terá direito ainda a escolher mais um conselheiro, cujo nome não está definido.
Abilio também tentou excluir o advogado Francisco Petros, representante da Petros do conselho da BRF, mas não conseguiu. Os dois tiveram vários embates nos últimos meses.
Ainda há dúvidas sobre qual será o futuro do presidente-executivo da BRF, José Aurélio Drummond, escolhido pelo conselho em novembro do ano passado com apoio de Abilio.
O empresário vem pressionando para mantê-lo no cargo, sob o argumento de que é preciso evitar mais turbulência, e os fundos de pensão deram um sinal nesse sentido ao concordar em tirar Funari da chapa. O executivo era o preferido de Petros e Previ para a presidência executiva da BRF na época da nomeação de Drummond.
A decisão final, no entanto, caberá ao novo conselho que só assume no fim de abril. “Os acionistas não vão mais interferir na gestão da BRF. Nosso papel é indicar o conselho e os conselheiros serão os responsáveis por manter ou mudar a gestão”, disse à reportagem Walter Mendes, presidente da Petros.