Ex-bancário e funcionário público de carreira que ajudou a criar o Plano Real, chegou ao cargo de ministro de Estado e dirige a segunda maior empresa do País, Pedro Parente é um executivo discreto e rigoroso, admirado pelo mercado e odiado pelos sindicalistas.
Dois fatos dos últimos dias corroboram esse entendimento. Quando o nome dele foi anunciado para o comando da BRF, na quarta-feira (18/04), as ações da empresa dispararam na Bolsa, valorizando R$ 1,7 bilhão em um único dia. Mas quem acessar o site da Federação Única dos Petroleiros vai se deparar com a seguinte manchete: “Sexo explícito na Petrobras: Parente entrega tudo sem pudor” – um ataque aos planos de Parente (atual presidente da companhia) de privatizar algumas refinarias.
Ex-ministro da Agricultura no governo Lula, e da Previdência de Fernando Henrique Cardoso, Reinhold Stephanes defende o posicionamento do ex-colega da Esplanada dos Ministérios. “O Parente está certo. Essa abertura de mercado é boa, até para se ter a concorrência como um parâmetro de qualidade para a Petrobras. Quem é contra essas medidas, normalmente, são os sindicatos estatais, que por sua vez são vinculados aos partidos de esquerda, que tentam sustentar a tese da estatização para sobreviver”, diz Stephanes.
Outro político que conviveu com Parente na época de FHC, o ex-diretor geral de Itaipu e “tucano histórico” Euclides Scalco não poupa elogios ao executivo. “É uma das personalidades brasileiras de maior capacidade administrativa que já conheci na vida. Ele é eclético. Já dirigiu a Bunge da América Latina, recuperou a RBS no Rio Grande do Sul e agora está mostrando sua eficiência na Petrobras. Onde ele for, a coisa vai funcionar. E bem”.
Para o economista Ricardo Amorim, Pedro Parente tem uma virtude reconhecida pelo mercado e que sempre marcou sua atuação, tanto no governo quanto na iniciativa privada. “Ele tem a capacidade de colocar a casa em ordem. Acontece hoje na Petrobras e foi a mesma coisa na Bunge. E quando esteve no governo, pegou uma situação fiscal muito difícil e conseguiu também arrumar”.
Segundo o economista, não se devem esperar medidas contemporizadoras com Parente no comando. “Não se coloca a casa em ordem sendo bonzinho. Nesse momento, uma série de medidas impopulares e duras precisam ser tomadas na BRF. Foi por isso que houve reação positiva do mercado financeiro à indicação dele para a companhia. O histórico dele é pegar situações desarrumadas, às vezes caóticas, e tomar medidas duras para reverter isso”.
Quanto às críticas de que Pedro Parente terá dificuldades para dirigir a Petrobras e a BRF, Amorim lembra que, na empresa de alimentos, ele irá definir metas, e não administrar as questões do dia a dia.
No início de 2014, ao deixar a Bunge, Pedro Parente saiu com uma “carta de recomendação” da empresa. “A liderança do Pedro produziu impactos transformadores na Bunge Brasil,” disse à época Soren Schroder, CEO mundial da companhia. “Ele realizou uma ampla reestruturação nas operações no Brasil, construiu um time de líderes de alta performance e multiplicou os resultados nesse período. Supervisionou a integração das usinas do grupo Moema à Bunge e toda a operação de venda do negócio de fertilizantes no Brasil. Pedro deixa uma Bunge Brasil unificada, simplificada e focada.”
Breve histórico
Pedro Pullen Parente nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de fevereiro de 1953, filho de Isabel Francisca Pullen e Oswaldo dos Santos Parente.
1971- Ingressa no Banco do Brasil, através de concurso público e transfere-se, dois anos depois, para o Banco Central.
1976 – Gradua-se em Engenharia Eletrônica pela Universidade de Brasília.
1985-86 - É nomeado secretário-geral adjunto do Ministério da Fazenda.
1987-1988 – Passa por várias funções executivas na Secretaria do Tesouro Nacional. Nesse período, participou da concepção e da implantação do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).
1989-90 – Assume como secretário de Orçamento e Finanças do Ministério do Planejamento.
1990- 1991 – Nomeado presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
1991 – Assume a Secretaria de Planejamento do então Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, durante a Presidência de Fernando Collor de Mello.
1993-94 – Atua como consultor do FMI, indo morar nos Estados Unidos.
1995-1999 – No governo de FHC, ocupa o cargo de secretário executivo do Ministério da Fazenda, na gestão de Pedro Malan. É o responsável pela renegociação das dívidas dos Estados e estimula os governadores a adotarem programas de privatização das empresas públicas.
1999- Assume o Ministério de Orçamento e Gestão. Em julho do mesmo ano vai para a Casa Civil, onde permanece até o final do governo.
2001 – Após a crise energética, com apagão em várias partes do País, Pedro Parente foi nomeado para conduzir a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica – apelidada de Ministério do Apagão.
2002 – Coordena a equipe de transição do governo FHC para o governo Lula.
Após deixar o governo, atua na iniciativa privada, no conselho de administração de empresas como a TAM, a ALL – America Latina Logística, e a Kroton Educacional. Foi vice-presidente executivo do Grupo Rede Brasil Sul de comunicações. De 2010 a 2014, foi presidente da Bunge. Em maio de 2016 assume a presidência da Petrobras, onde permanece até hoje.
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