O ex-gerente da unidade da BRF de Carambeí (PR) Luiz Augusto Fossati negou em depoimento à Polícia Federal que aves contaminadas pela Salmonela pullorum tenham sido exportadas.
Suas declarações, tomadas na terça-feira (6), foram anexadas nesta quarta (7) aos autos do processo que apura fraudes na BRF.
Investigações que resultaram na deflagração da 3ª fase da Carne Fraca, na segunda (5), identificaram que setores de análises da BRF e cinco laboratórios credenciados junto ao Ministério da Agricultura fraudavam resultados de exames, informando dados fictícios ao SIF (Serviço de Inspeção Federal).
O objetivo, segundo a Polícia Federal, era diminuir os níveis da bactéria salmonela, que impediriam a exportação dos produtos para mercados externos de controle mais rígido.
À Polícia Federal, Fossati disse que só se lembra de um episódio em que o SIF detectou salmonela em lotes de frango. Na ocasião, afirmou que as aves contaminadas foram descartadas para abate sanitário.
Segundo ele, os produtos foram aproveitados para consumo nos termos indicados pelo SIF, provavelmente para cozimento, não podendo ser destinados à exportação.
Fossati se entregou para a polícia nesta terça. Ele não havia sido encontrado na segunda, dia em que a operação foi deflagrada.
Nesta quarta, o delegado Maurício Grillo pediu a expedição do alvará de soltura do ex-gerente. Grillo afimou que já foram estabelecidas todas as medidas que dizem respeito a Fossati, inclusive a coleta de declarações.
Fraudes
Nesta quarta, também falou à Polícia Federal Natacha Mascarello, analista de qualidade da empresa. Ela confirmou adulterações em rótulos de premix, um composto para rações.
Natacha afirmou que a rotulagem precisava ser alterada porque poderia haver uma fiscalização do Ministério da Agricultura. Ela disse que não sabe informar se os produtos retirados da rotulagem continham substâncias que poderiam prejudicar a saúde animal ou humana.
Após a coleta do depoimento, a Polícia Federal também pediu a soltura de Tatiane Alviero, ex-funcionária da BRF na unidade de Chapecó (SC), que também confirmou fraudes envolvendo o premix. Ela foi ouvida na terça-feira.
Em e-mails coletados na investigação, Tatiane explica as situações em a empresa burlava solicitações de auditoria. Nas mensagens, questionada sobre a possibilidade de respeitar a lei, ela afirma que era uma estratégia da empresa realizar as fraudes.
Em seu depoimento, a ex-funcionária disse que a fraude era de conhecimento dos supervisores da fábrica e que “a fábrica só pensava em produzir, e ter produtividade”.
Ela afirmou que as fórmulas do composto nem sempre atendiam a regulação do Ministério da Agricultura e que, por esta razão, era necessário adequar o rótulo.
Tatiane disse, ainda, que sempre que indicava irregularidades, seus superiores respondiam: “é uma estratégia da empresa”. A ex-funcionária já deixou a prisão.
Outro lado
Em nota, a BRF diz que a companhia “segue as normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos, e há mais de 80 anos a BRF demonstra seus compromissos com a qualidade e segurança alimentar, os quais estão presentes em todas as suas operações no Brasil e no mundo.”
Sobre a acusação de adulteração da premix, a empresa diz que os processos de produção seguem normas técnicas e que as fábricas da BRF que produzem premix são registradas e certificadas, sendo que as informações são auditáveis por clientes, Mapa e outros órgãos fiscalizadores.
A última auditoria do ministério na BRF ocorreu em outubro de 2017. A BRF destaca que os emails revelados pela investigação em curso são de 2015 e que o teor das mensagens está sendo investigado pela empresa.
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