“Quantidade não é qualidade. Não queremos simplesmente unir as pessoas, mas uni-las por um tema de interesse mútuo, que pode ser soja, milho, agroecologia ou pecuária. Somos muito mais focados. Quem ficar enviando correntes será excluído”.
As afirmações do estatístico e doutor em agronomia Guilherme Ferraudo definem a essência da proposta da rede social YouAgro, criada há quatro meses por um grupo de amigos egressos de algumas das principais universidades ligadas ao agro no País – federal de Viçosa, Unesp, Esalq e FGV.
Desde o lançamento em dezembro, o aplicativo YouAgro, disponível nas plataformas Android e iOS, vem recebendo 24 novas adesões por dia, totalizando hoje 2645 usuários. Neste período, foram feitos mais de 1000 posts e 1700 comentários em 90 grupos de discussão.
A estratégia é conseguir que profissionais, professores, técnicos e grupos de extensão de universidades sejam fontes de conteúdo relevante.
“O agro é um nicho. As pessoas vão encontrar o que querem mais rapidamente. Temos uma curadoria. Se o usuário publica fake news, ele é advertido e poderá ser eliminado da rede”, explica Ferraudo.
Os primeiros grupos foram criados pelos próprios desenvolvedores da plataforma, para mostrar aos usuários como funciona o YouAgro. A ideia, segundo Ferraudo, foi mostrar às pessoas que “colaborar é mais importante do que competir”.
O que não falta é diversidade de assuntos do mundo agro na nova rede social. Desde agricultura digital, análise de big data e agrometeorologia, até grupos sobre amendoim, criação de abelhas, piscicultura, armazenagem de grãos, mirtilo, centrais de abastecimento, comercialização de safra, marketing, crédito rural, máquinas agrícolas e camarão da Malásia.
O que o YouAgro não quer é perder o foco. Segundos os criadores, qualquer pessoa é bem-vinda, mesmo que seja para aprender mais sobre o mundo agro. Esqueça as selfies e os textões com mensagens filosóficas, ideológicas ou religiosas. Aqui o povo quer discutir indicadores digitais do solo, tijolos de bagaço de cana, vírus em lavouras de cebola, profundidade dos danos causados por percevejos, dificuldades no milho safrinha, bezerros f1 versus bezerros mestiços, marketing rural, agricultura sintrópica e pulverização eletrostática.
No entanto, como em qualquer rede social, alguns grupos ainda não decolaram. O grupo de Emprego, Estágio e Trainee, por exemplo, ainda não teve nenhuma postagem. O de Etanol, apenas um compartilhamento. O de agricultura digital, em contrapartida, tem 338 membros e 28 postagens.
Qualquer pessoa pode aderir ao YouAgro e começar um grupo. Mas o incentivo dos desenvolvedores é para que especialistas impulsionem as discussões. Caso de Diego Siqueira, criador do grupo de Agricultura Digital, que é especialista em geofísica aplicada à ciências agrárias e ambientais, modelagem matemática, big data e gestão da pesquisa. “Às vezes no whatsapp ou no Facebook você recebe notícia bacana, mas gigante. Nós procuramos postar coisas já mastigadas e objetivas, feitas por especialistas com muito crédito na área”, destaca Siqueira.
Os sócios investiram R$ 200 mil para iniciar o YouAgro e, por enquanto, ainda não tiveram retorno financeiro. A startup foi selecionada pelo Sebrae para um programa intensivo de apoio, com duração de quatro meses. “Ainda não estamos faturando. Este é um dos desafios junto ao Sebrae, encontrar uma forma de trazer dinheiro. Outro desafio, como qualquer rede social, é o engajamento das pessoas. A tendência é para redes sociais de nichos. O agro é o nosso nicho ”, aponta Guilherme Ferraudo.