Imagine a seguinte situação hipotética: uma sala escura e dois cestos tampados; num deles, há R$100; noutro, uma jararaca, pronta para dar o bote. E então, você acha que vale a pena se arriscar? E se, em vez de R$100, fossem R$ 100 mil? Ainda não? Mas e se você ganhasse uma lanterna e, do lado de fora, estivesse um médico com o antídoto contra o veneno da cobra, caso você desse o azar de abrir o cesto errado?
O exemplo simples, porém efetivo, foi usado pelo Diretor de Produtores Rurais do Itaú BBA, Carlos Ortiz, para explicar a relação entre risco, benefício e informação, durante o 1º Workshop sobre Financiamento à Agricultura organizado pela entidade, em São Paulo (SP).
Atualmente, segundo Ortiz, há duas formas principais de se financiar a agricultura empresarial: uma com dinheiro controlado, que vem do governo e soma aproximadamente R$ 40 bilhões; outra com recursos do próprio mercado, que giram em torno de R$60 bilhões. Juntas, elas financiam cerca de 65% da produção de soja no Brasil ou 96% dos cultivos de algodão, conforme um cruzamento de dados do próprio banco.
O problema apontado pelo diretor do Itaú é que, sobretudo nos recursos controlados, o engessamento da máquina pública ainda atrapalha o processo. A destinação do dinheiro é pré-definida para custeio, estoque e outras finalidades. “Quando há verba e não há demanda, acaba sobrando recurso em uma área e faltando em outra. Não é simples remanejar”, ressalta. É como se, na sala escura com os cestos, você corresse todo o risco para pegar apenas uma parte do dinheiro, porque, naquele horário, só aquela quantia era permitida.
Mais caro, menos eficaz
Além da perda de eficiência, a burocracia eleva custos: a obrigatoriedade de ter todos os bens assegurados para emprestar dinheiro junto ao BNDES, por exemplo, onera a transação. “É importante evitar fraudes, mas algum campo de manobra ajudaria muito”, diz Ortiz.
Já no lado de dentro da porteira, faltaria qualificação na gestão das propriedades, de acordo com o diretor do Itaú, o que também deixa o financiamento mais caro, mesmo com os recursos privados. Pense na sala escura novamente: você preferiria entrar com ou sem a lanterna? Neste caso, informação também vale dinheiro. “A maioria dos produtores ainda não tem contabilidade detalhada ou balanço auditado. É uma barreira. Isso deixaria mais bancos interessados. Quanto mais alternativas, mais barato seria”, explica.
Desfazer as amarras– com mais liberdade tanto para o banco quanto para o produtor - e apostar em tecnologia podem ser saídas, diz Ortiz. A utilização de imagens de satélite na avaliação de fazendas é um exemplo de como pode otimizar o processo, mas ainda é pouco: “uma plataforma eletrônica comum com as dívidas agrícolas e outra para uniformizar os dados das propriedades ajudaria muito”, completa.
*O jornalista viajou a convite do Itaú BBA.
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