Conforme as mudanças climáticas aquecem os oceanos, muitas espécies de peixe devem diminuir em tamanho - algo em torno de 30% -, de acordo com um estudo de cientistas canadenses. Peixes não crescem sem oxigênio, e será difícil para eles conseguir a substância em quantidade suficiente a partir das águas mais quentes, pontua a pesquisa.
Diferentemente dos mamíferos, os peixes têm “sangue frio”. Quer dizer que o organismo deles não consegue controlar a temperatura corporal. Quando a água dos oceanos se aquece, o metabolismo desses animais acelera e, com isso, necessita de mais oxigênio para manter as funções básicas do corpo. Os peixes respiram através de suas guelras, que são capazes de obter oxigênio a partir da água, e, em contrapartida, liberam gás carbônico. Porém, a superfície das guelras não cresce no mesmo ritmo que o resto do corpo de um peixe.
“Há um ponto em que as guelras não conseguem fornecer oxigênio suficiente. Então, os peixes simplesmente param de crescer”, afirma um dos autores do estudo, William Cheung, diretor científico do Programa Nereus, uma colaboração entre a Fundação Nippon, do Japão, e a Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.
Coautor do trabalho, Daniel Pauly - que atua no “Mar ao Nosso Redor”, uma iniciativa de pesquisa da universidade canadense – explica que os peixes são limitados por suas guelras, de acordo com a quantidade de oxigênio que elas conseguem extrair a partir da água. “Com as temperaturas crescentes, os peixes precisam de mais oxigênio, mas não conseguem”, frisa.
Isso poderia acertar em cheio a indústria da pesca, resultando em perdas estimadas em 3,4 milhões de toneladas a cada 1°C que a temperatura sobe no planeta, segundo Cheung. “Em algumas regiões, como nos trópicos, as perdas seriam ainda maiores”, afirma. “Isso terá um impacto significativo na disponibilidade de peixe para a população.”
Os cientistas estão começando a desvendar uma das grandes controvérsias nos trabalhos a respeito do clima.
Em um artigo de opinião publicado em 2013, pesquisadores britânicos analisaram dados de longo prazo sobre os peixes no Mar do Norte (que fica entre o Reino Unido e a Escandinávia). Eles chegaram à conclusão de que espécies como o haddock e a solha diminuíram de tamanho nas últimas décadas, “e tal redução foi significativamente relacionada ao aquecimento do oceano nessas regiões, mesmo depois que os efeitos da pesca foram corrigidos”, diz Cheung.
A escassez de oxigênio irá prejudicar todo o ecossistema oceânico, particularmente as espécies maiores na cadeia alimentar, acrescenta. “Peixes grandes comem peixes pequenos”, pontua o estudioso. “Eles são afetados porque suas presas são afetadas.”