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Fim da criação de perus no Paraná: os compradores sumiram

 | Henry Milléo / Gazeta do Povo
(Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo)

É o fim da linha para a criação de perus no Paraná. O estado que já foi líder nacional no segmento vai abater nas próximas semanas os últimos perus produzidos comercialmente.

O encerramento de toda uma cadeia produtiva é reflexo do embargo imposto em maio pela União Europeia a produtos de origem animal de 20 frigoríficos brasileiros, incluindo a unidade de abate de perus da BRF em Francisco Beltrão.

A BRF anunciou que até meados de agosto irá encerrar as operações envolvendo perus no Sudoeste paranaense, por tempo indeterminado. Segundo a Associação de Avicultores do Sudoeste do Paraná (Avisud), 420 famílias que vivem diretamente da atividade vão ficar sem a principal fonte de renda. “É como o desemprego. Mas a diferença é que os trabalhadores têm direitos e, nós, não”, diz Valmir Andretto, criador de 20 mil perus na região.

A possibilidade de os criadores de peru migrarem para a produção de frango está praticamente descartada. Além de o setor também não passar por um momento favorável, devido às restrições à exportação, “são no mínimo R$ 200 mil em equipamentos para adaptar o barracão” - assegura o avicultor Adimir Pastre, também de Francisco Beltrão.

Durante audiência pública no Senado, realizada neste mês, o vice-presidente Global de Eficiência Corporativa da BRF, Jorge Lima, havia antecipado os efeitos da crise. “Essa cadeia de perus vai estourar, temos que parar”, afirmou, acrescentando que, com o embargo europeu, a BRF não tinha mais “onde vender” as aves.

Apesar da paralisação na linha de produção da ave no Paraná, em nota a BRF ressaltou que todas as demais atividades do complexo fabril - processos de frango, rações, filial de grãos e as matrizes de peru - serão mantidas.

“A revisão também não altera os investimentos da ordem de R$ 18 milhões previstos para a unidade de Francisco Beltrão, destinados a diversos projetos de melhorias como a ampliação da área da câmara de estocagem”, destaca o comunicado.

Não foram confirmados quantos trabalhadores terão as atividades suspensas. A companhia avalia a possibilidade de absorver parte da equipe da linha em outros processos produtivos na mesma unidade ou em unidades próximas, dependendo da disponibilidade, mobilidade e existência de posições equivalentes. “A empresa informa ainda que os termos contratuais vigentes serão honrados junto aos atuais integrados. A BRF irá acionar todos os produtores da localidade nas próximas semanas para comunicar os próximos passos”, ressalta a empresa.

Acerto difícil

Segundo o avicultor Valmir Andretto, a BRF ofereceu indenizar os integrados com o valor de um lote de aves, tendo como base a média de alojamentos dos últimos três meses. A empresa também se propôs a assumir as dívidas contraídas em bancos, comprovadamente relacionadas a investimentos nos aviários. “Mas teve gente que vendeu caminhão, vendeu terra, usou recursos próprios para investir. Será que esses vão perder tudo?”, pergunta-se Andretto.

Numa reunião nesta quarta-feira (27), os avicultores decidiram que ninguém vai rescindir contrato individualmente com a empresa. “O acordo terá de ser coletivo. Se fosse problema do avicultor, que não tivesse cumprido com as normas da empresa, daí sim, podiam dar aviso prévio e pronto, acabou. Mas o que aconteceu foi problema deles, foi fraude de laudos envolvendo a empresa”, acrescenta, referindo-se ao motivo alegado pela União Europeia para embargar as exportações brasileiras (fraude em laudos de salmonela).

Há cerca de duas semanas a BRF já havia decidido fechar a unidade de produção de perus no município de Mineiros, em Goiás, também por causa das restrições dos mercados externos ao produto brasileiro. O frigorífico tinha sido interditado após a Operação Carne Fraca, em março do ano passado, devido a um esquema de corrupção envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura no Paraná e em Goiás.

Na unidade da BRF em Francisco Beltrão, segundo a Avisud, eram abatidos 800 mil perus por mês, com 90% dos volumes destinados à exportação. “Eles (BRF) vendiam o peru a R$ 14,50 o quilo para a Europa. É um produto caro, que não tem muitos mercados”, destaca Andretto. O abate de aves para abastecer o Natal, segundo o produtor, deve passar a ficar concentrado na planta da BRF em Chapecó, Santa Catarina.

A criação de perus teve seu auge no Paraná em 2009, quando foram abatidas 14,1 milhões de aves; no ano passado o número já estava reduzido para 8,7 milhões.

Nesta sexta-feira, 29, às 13h30, haverá uma reunião de negociação entre uma comissão de avicultores e a direção da BRF, na unidade da empresa em Francisco Beltrão.

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