Primeiro a Averama, de Umuarama (Noroeste), depois a Globoaves, de Cascavel (Oeste), e agora o GTFoods, de Maringá (Norte). Nos últimos três meses a crise no setor de aves já afeta ou ameaça 15 mil empregos diretos no Paraná. O número considera os postos de trabalho que foram eliminados ou que podem ser fechados nesses três grupos/abatedouros. Não está nesta conta o efeito colateral desse revés, com impacto em um ambiente econômico e doméstico que atinge outros milhares de pessoas, fornecedores e prestadores de serviços da cadeia de insumos, além dos produtores integrados ao sistema produtivo e à indústria.
O caso mais delicado, pelas cifras e pelos empregos envolvidos, veio à tona na semana passada, com o pedido de recuperação judicial do GTFoods. Detentor de várias indústrias e marcas no setor de alimentação, o grupo ganhou notoriedade nos últimos anos com uma estratégia agressiva de atuação e posicionamento no mercado. Foi então que o faturamento do grupo começou a dar saltos significativos. Saiu de R$ 1,18 bilhão em 2013 para R$ 1,84 bilhão em 2015. De janeiro a junho de 2016, faturou R$ 1,11 bilhão. Em apenas seis meses, um resultado equivalente a mais de 80% da receita obtida em 2013, com um endividamento na casa dos R$ 530 milhões versus o potencial de faturamento, uma relação que pelos números parece equilibrada.
Ou seja, pelo menos aparentemente o problema não está na capacidade de faturamento, mas de pagamento, condição primeira ao enquadramento no processo de recuperação judicial, que tem como objetivo evitar a falência de uma empresa. E se a questão não é necessariamente receita e sim fôlego para honrar suas dívidas, onde estaria o desequilíbrio? O motivo mais aparente seria a crise de escassez do milho, que elevou sobremaneira a cotação do cereal. Mas porque isso atinge o mercado de carnes? Porque 60% do custo do frango esta na ração, que tem o milho como principal matéria-prima. De 2015 para 2016, a cotação do cereal teve variação entre R$ 20 e mais de R$ 40/saca de 60 quilos.
A dívida do GTFoods então é grande. Mas também é relativamente baixa diante da receita consolidada e da previsão de faturamento para 2016. O alerta, no entanto, que vem da Averama, da Globoaves e da GTFoods não significa que o mercado está ruim. Ao contrário, o mercado vai bem, obrigado. Está passando por uma crise? Sim, está. Mas uma crise cíclica, comum à agricultura e pecuária, bem como a outros segmentos da economia. Não se pode ignorar que também há uma crise de planejamento da cadeia. Tem a ver com o milho, mas também com a gestão da atividade de aves, do sistema de produção da avicultura.
A falta de milho foi apenas o pavio de uma crise que tem a ver com falta de estratégia e visão integrada de toda uma cadeia produtiva. Não dá para produzir carne sem produzir milho. E se a produção de milho cresce, é porque cresce a produção de carnes – e também a exportação do cereal. A produção de carne precisa se proteger tanto quanto a produção de grãos. E o que não falta hoje são ferramentas para isso. Se não é possível limitar o custo de produção ou garantir a cotação da carne, é possível segurar o preço do insumo, no caso proteger o preço do milho de oscilações fora da curva. E quem tem que fazer isso não é apenas o produtor do milho, como também quem consome o cereal.
É preciso melhor organizar esse mercado. Uma responsabilidade pública e privada. Tem a ver com políticas públicas, mas também com planejamento e gestão, com a profissionalização do negócio. Se o Brasil é o maior exportador de frango do mundo e o Paraná é o maior embarcador do país, é porque evoluímos. Mas se ainda há problemas internos de liquidez do negócio, é porque precisamos evoluir mais e que essa evolução precisa ser constante.
A recuperação judicial do Grupo GTFoods foi deferida pela Justiça através da 3ª Vara Cível de Maringá na última sexta-feira. A decisão suspende, por prazo determinado, todas as ações e execuções judicias por parte dos credores do grupo. E também revoga o acautelamento do segredo de Justiça do processo.
Fórum de Agriculura
Não por acaso, produção de carnes será um dos temas em debate durante o Fórum de Agricultura da América do Sul 2016, evento que ocorre na próxima semana, em Curitiba. O setor será colocado em discussão a partir de um conceito sistêmico, de cadeia de produção, onde é a integração e a interação entre grãos e carnes é que vão garantir a sustentabilidade do negócio. Da produção ao mercado, especialistas vão mostrar como o Brasil se consolida como um dos maiores fornecedores mundiais de proteína animal. Eles vão abordar os desafios, políticos e econômicos, para ampliar o consumo interno e conquistar novos e grandes mercados internacionais.
Organizado pelo Agronegócio Gazeta do Povo e com a presença de representantes de mais de dez países, em sua 4ª edição o Fórum de Agricultura da América do Sul ocorre dias 25 e 26 de agosto, no Museu Oscar Niemayer. Informações e inscrições em www.agrooutlook.com
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