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O ‘pão com ovo’ da África do Sul vai ter sabor brasileiro

Com produção em colapso por causa da gripe aviária, o país vê no Brasil a solução para abastecer seu próprio mercado de ovos. | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Com produção em colapso por causa da gripe aviária, o país vê no Brasil a solução para abastecer seu próprio mercado de ovos. (Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo)

Maior exportador mundial de frango (e com folga), quando o assunto é ovo, o Brasil não chega nem perto dos líderes do setor. Hoje, dos 39,18 bilhões de ovos produzidos no país (o equivalente a 2.419 mil toneladas), nem 0,5% é enviado para fora.

Em volume, os embarques correspondem a modestas 10,4 mil toneladas, quase 30 vezes menos em relação aos números da Turquia, a maior exportadora segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

Entretanto, o setor tem se empenhado para mudar esse cenário. Com o projeto Brazilian Egg, encabeçado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), empresas do país vêm participando de feiras internacionais em busca de novas oportunidades.

De acordo como presidente da ABPA, Francisco Turra, o desempenho pouco expressivo se comparado a outros segmentos da avicultura é resultado, em parte, da produção também considerada baixa, menor, por exemplo, que a dos Estados Unidos e até a do Japão (2.520 mil toneladas). “O Brasil tem um nível grande para ser preenchido no consumo interno”, afirma.

Em média, cada brasileiro come 190 ovos por ano. Muito? O consumo mundial é de 230 unidades e, no México, onde se come mais ovo do que em qualquer outro canto do planeta, o índice chega a 360. “Há um consumo reprimido por uma série de mitos”, ressalta o presidente da ABPA, fazendo referência à ideia de que a proteína aumentaria, por exemplo, os riscos de doenças do coração. “Mas os mitos estão caindo, temos um aumento do consumo interno acumulado em 10% nos últimos três anos.”

Depois de colocar a casa em ordem, a meta é expandir o alcance da produção nacional. Hoje, o produto brasileiro chega a 50 países e rende anualmente US$ 110 milhões. Os Emirados Árabes Unidos são os principais clientes, com 6,3 mil toneladas no ano passado, mas vão ganhar companhia. No começo de novembro, a África do Sul confirmou que está interessada nos ovos do Brasil e empolgou o mercado, em especial a Netto Alimentos, empresa do interior de São Paulo que costurou o acordo com os sul-africanos.

Com produção em colapso por causa da gripe aviária, o país vê no Brasil a solução para abastecer seu próprio mercado. “Um de nossos clientes falou que há dois meses não precisavam de ovo por lá. Agora, estão precisando desesperadamente. Eles perderam 30% da produção, porque as galinhas morreram. Oito de nove províncias estavam condenadas”, conta o gerente de vendas internacionais da Netto, Júlio Cézar Carvalho.

Não por acaso a pedida da África do Sul é alta: 25 contêineres – cada um com 22 toneladas de ovos em casca - por semana. Na calculadora, os carregamentos representariam, em um ano, cerca de 10% de tudo o que o Brasil exporta atualmente. “É um momento bom, temos a chance de crescer muito. Um só cliente encomendando 25 contêineres por semana... É quase uma operação militar”, frisa o gerente da Netto.

Novos Mercados

A negociação com os sul-africanos empolga não só pelo volume, mas por colocar o Brasil em evidência. “Existe um aceno de países da América Central e até dos Estados Unidos [para importar], só que é um processo longo até se ter um certificado zoosanitário internacional”, salienta Francisco Turra. “E não seria nada estranho se o nosso produto chegasse à Europa também. Eles tiveram uma série de problemas com ovos contaminados”.

Capacidade, o gerente da Netto garante que tem. “Agora é que estamos começando a exportar: por mês, são quatro contêineres para dois clientes na Arábia Saudita e dois contêineres para os Emirados Árabes”, pontua. “Podemos processar 5 milhões de ovos por dia, só que hoje trabalhamos com até 1,5 milhão de ovos, porque depende muito da demanda.”

Com um mercado interno mais robusto e rotas se abrindo no exterior, os produtores também se animam. Em Bastos, cidade do Oeste paulista onde as galinhas botam nada mais nada menos do que 18,7 milhões de ovos por dia (quase 25% da produção nacional), as notícias têm sido bem recebidas. “Há poucas pessoas mandando para fora, pois existem muitas regras. [Se novos mercados se abrirem], aí vale a pena, a concorrência vai ser grande com o pessoal de grande porte se interessando”, prevê o presidente do sindicato rural da cidade, o avicultor Katsuhide Maki. A esperança dele – e de todos ali - é de que ninguém mais precise pisar em ovos para falar com otimismo do futuro.

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