O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, visitou nesta sexta-feira áreas devastadas por enchentes no no estado de Queensland e constatou o início de tempos difíceis para os pecuaristas do país. “Estou falando em 5 a 10 anos para reconstruir a cadeia de gado de corte da Austrália”, afirmou Morrison, após se reunir com comerciantes e fazendeiros da região.
As estimativas oficiais ainda não foram finalizadas, mas fontes da indústria da carne australiana calculam que pelo menos 500 mil cabeças de gado morreram por causa da inundação sem precedentes nos primeiros dias de fevereiro. O serviço meteorológico australiano informou que, num período de 12 dias, a região de Townsville, na costa nordeste, recebeu mais de 2 mil milímetros de chuva.
“Estive com famílias que residem nesta terra há várias gerações, que construíram rebanhos do melhor gado do mundo, em décadas de melhoramento genético”, disse o primeiro-ministro à rede pública de televisão ABC. “Ver tudo isso varrido e encoberto pela lama, que agora se transforma em terra revirada, mostra que há muitas feridas que precisam ser saradas por aqui”, acrescentou.
Seca e depois dilúvio
O que começou com uma chuva bastante aguardada, depois de vários anos de estiagem, acabou se transformando em catástrofe. Na medida em que o aguaceiro não parou de cair, as inundações na costa nordeste do país mataram milhares de cabeças de gado, varreram a fonte de renda de comunidades rurais inteiras e ameaçam agora um dos setores econômicos mais importantes do país.
Cerca de 20 milhões de hectares em Queensland - equivalente a todo o estado do Paraná - foram inundados. Terras que até pouco tempo atrás estavam rachadas pelo sol receberam precipitações equivalentes a dois anos de chuva acumulada.
Milhares de carcaças de bovinos afundadas na lama vão surgindo, na medida em que água começa a baixar. Georgie Somerset, presidente da associação AgForce de produtores rurais de Queensland, disse que o feno para alimentar o gado ilhado pela inundação estava sendo levado, literalmente, “um fardo de cada vez”
“A força e a intensidade da tragédia que estamos vendo torna difícil acreditar que, há poucos dias, os fazendeiros estavam eufóricos com a chegada das primeiras chuvas significativas, depois de cinco anos. Essa euforia deu lugar ao horror e à devastação provocados por uma enchente nunca vista”, diz uma nota distribuída pelo diretor executivo da AgForce, Michael Guerin.
Segundo Guerin, muitos produtores não perderam apenas seu ganha-pão, mas ficaram também com dívidas impagáveis. “O que me preocupa agora são os próximos dois a cinco anos e como faremos para que essas pessoas se levantem e possam retomar suas empresas, reconstruir as benfeitorias e as cercas de suas propriedades. Enfim, para que possam voltar ao negócio”, diz Somerset.
O governo de Queensland anunciou mais de US$ 100 milhões em ajuda emergencial, além de outros US$ 3 milhões para serviços de apoio psicológico e de saúde aos atingidos pela inundação. O primeiro-ministro Morrison disse, nesta sexta-feira, que primeiro ouviria as necessidades da comunidade antes de anunciar medidas de apoio de longo prazo. “Há questões relacionadas a dívidas, perdas de gado, fluxo de caixa - estamos cientes de tudo isso. E estamos mais cientes do que nunca de que precisamos anunciar o melhor plano de apoio possível”, afirmou.
Âncora
A economia australiana é fortemente ancorada pela criação de gado, que se concentra, na maior parte, na região de Queensland. O país é o terceiro maior exportador de carne bovina, destacando-se em cortes de vitelo. No ano fiscal de 2017, a Austrália exportou cerca de 1 milhão de toneladas de carne vermelha para 78 países, entre eles Japão, Estados Unidos, Coreia do Sul, China e Indonésia. O Brasil, maior exportador mundial, embarcou em 2018 1,64 milhão de toneladas.
Em Townsville, ao norte de Queensland, a enchente elevou o risco de doenças. Segundo o jornal Sydney Morning Herald, uma mulher morreu da infecção rara conhecida como melioidose, causada por uma bactéria normalmente encontrada no solo. Outros nove casos de melioidose foram registrados após a inundação.
A Austrália tem convivido com extremos climáticos: janeiro foi o mês mais quente da história do país. Segundo o serviço nacional de meteorologia, a temperatura do continente se elevou em 2 graus Celsius desde 1910, o que tem feito aumentar ondas de calor e estiagens severas. Dos dez anos mais quentes registrados na Austrália, 8 ocorreram de 2005 para cá.
No mês passado, uma onda de calor espalhou incêndios florestais no sul da Austrália, com temperaturas na faixa de 46 graus em Adelaide. No sudeste do país, as temperaturas à noite alcançaram 35,5 graus, as mais quentes do globo para esta época. Próximo a Santa Teresa, no Norte, mais de 50 cavalos selvagens foram sacrificados, por estarem à beira de morrer de fome e de desidratação.
Explosões em Brasília tem força jurídica para enterrar o PL da Anistia?
Decisão do STF que flexibiliza estabilidade de servidores adianta reforma administrativa
Lula enfrenta impasses na cúpula do G20 ao tentar restaurar sua imagem externa
Xingamento de Janja rouba holofotes da “agenda positiva” de Lula; ouça o podcast