| Foto: Divulgação/CRV Lagoa

“Deixará saudades”. “Prestou memoráveis serviços”. “Foi um dos melhores de sua geração!” A morte de alguns bois provoca condolências típicas de funeral de seus criadores humanos e, não se espante, pode até fazer pecuaristas verterem lágrimas de tristeza pelo adeus ao “ente querido”.

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Afinal, como não chorar quando morre um boi que, somente em vendas de sêmen, rendeu ao criador mais de R$ 10 milhões ao longo de 10 ou 12 anos de vida reprodutiva útil? “Visitei nos Estados Unidos uma cabana que tinha túmulo e até estátua em homenagem a um touro Angus que deu muito lucro à propriedade”, diz o criador gaúcho José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus.

O reconhecimento dos pecuaristas aos touros “top” de genética costuma vir ainda em vida. Ao envelhecer, esses bois ganham aposentadoria e ficam soltos para cobrir vacas no pasto, até que ocorra a morte natural. Em alguns casos, os criadores mandam embalsamar a cabeça do touro para guardar como lembrança na sala de estar.

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Um dos touros que mais recebeu condolências, recentemente, foi Donato Naviraí, um nelore mineiro de Uberaba, falecido no dia 16 de novembro de 2017, aos 13 anos de idade.

“Foi um touro que vendeu muito sêmen e, se não tivesse morrido, com certeza passaria das 500 mil doses. Donato era um desses touros que fazem filhos com cara de negócio. Estava tendo uma curva descendente, daí morreu, acabou dando um respiro e voltou a vender bem”, conta Rafael Jorge Oliveira, gerente da Alta Genetics, uma das maiores empresas de sêmen bovino no país.

Atualmente, o marketing das empresas busca valorizar mais o trabalho dos criatórios – um portfólio de sêmen de alta genética – do que os campeões das pistas de feiras, que viram celebridades bovinas. “Um líder de sumário hoje é até mais valorizado do que um campeão de pista”, assegura Oliveira. A propósito, Sumário de Touros é uma espécie de ranking dos melhores de uma raça, conforme a capacidade de transmitir aos descendentes os atributos genéticos mais valorizados.

Touro Rem USP: em apenas dois anos, venda de sêmen rendeu quase R$ 700 mil

 

Mas não tem jeito. Sempre haverá touros que saem do anonimato entre milhões de consortes e garantem o lugar no hall da fama bovina. O touro Rem USP, por exemplo, da fazenda Remanso, do município sul-mato-grossense de Rio Brilhante, vendeu US$ 104 mil em ampolas de sêmen em 2016 e outros US$ 110 mil em 2017. E continua na ativa, para alegria do seu dono.

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Não basta ter os melhores atributos genéticos, seja para gado de corte ou gado leiteiro, se o sêmen do boi não tiver altos índices de fertilidade. “O melhor touro é o que emprenha, tem que deixar bezerro. Não adianta ser o número 1 do sumário, se o sêmen dele não emprenha a campo”, aponta Oliveira.

Nesse mercado de alta genética, os astros locais são os bois brasileiros da raça Nelore, que se destacam em relação aos conterrâneos das raças europeias ou taurinas – como Angus, Hereford e Charolês. “É que o melhor Nelore do mundo está aqui mesmo. Nos taurinos, a gente está brigando ainda, temos que usar sêmen importado para melhorar o nosso rebanho. Mas um dia chegaremos lá”, brinca José Roberto Weber.

Apesar de os nativos mais famosos serem Nelores, a maior demanda, atualmente, é pela genética Angus. Os bois dessa raça responderam por metade das 8,4 milhões de doses de sêmen vendidas no país em 2016 para a bovinocultura de corte. Cerca de 70% do total é importado.

Zorzal, o touro Angus argentino que tem milhares de descendentes no Brasil

 

Os criadores chegam a pagar R$ 1500 por uma dose de sêmen do touro argentino Zorzal, o Angus que mais fez sucesso nos últimos anos. “Quase já não existe mais sêmen dele. O Zorzal era excepcional. Mas por R$ 100 é possível comprar uma ampola de sêmen de belíssima qualidade, e tem touros comerciais que custam de R$ 12 a R$ 15 a dose”, assegura Weber.

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Entre os zebuínos, nenhum se igualou ainda a Backup, destaque da bateria Nelore da CRV Lagoa, que morreu no início de 2016, aos 15 anos. Sozinho, ele movimentou uma receita bruta de pelo menos R$ 25 milhões em venda de sêmen. Foram quase 1 milhão de doses produzidas e comercializadas e 450 mil filhos espalhados pelo mundo (450 mil mesmo, não é erro de digitação). “Se tivesse que pagar pensão, estaria enrolado”, brinca o gerente da CRV Lagoa, Caio Tristão.

Backup era prepotente. Na linguagem genética bovina, isso é uma virtude. “Era um prepotente, ou seja, tinha a capacidade de imprimir muito de suas características aos descendentes, independentemente do rebanho ou da vaca escolhida”, aponta Tristão.

Donato Naviraí, de Uberaba, morreu no auge da fama e poderia ter chegado a 500 mil doses de sêmen vendidas

 

O busto de Backup – campeão mundial na produção de sêmen da raça Nelore – foi empalhado e está hoje na sede da CRV Lagoa, em Sertãozinho. Curiosamente, mesmo sendo pai de 450 mil filhos, Backup nunca chegou a namorar uma vaca de verdade. Todo o sêmen produzido foi retirado por meio de uma vagina artificial. A morte súbita, ainda em atividade, impediu que desfrutasse a merecida aposentadoria.

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