Fachada do Tecpar: laboratório do instituto que produzia kits diagnósticos de brucelose e tuberculose bovina paralisou atividades em dezembro passado. As demais atividades da entidade estão normais.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Já faz quase um ano que a produção de kits de diagnósticos de brucelose e tuberculose bovina foi paralisada no Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). Enquanto o laboratório que atendia 90% da demanda nacional aguarda recursos para retomar as atividades, outro concorrente vem tomando esse mercado: o Instituto Biológico de São Paulo (IB).

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Em maio, o Tecpar estava na expectativa da obtenção de recursos do Governo Federal para readequar as instalações, como noticiou a Gazeta do Povo. Seis meses depois, nada mudou, como conta o diretor presidente do instituto paranaense, Julio Cesar Félix:

“Suspendemos a produção até que o Ministério da Agricultura (Mapa) tome uma posição. Há cerca de 20 dias, conversei pessoalmente com o Ministro [Blairo Maggi], que ficou de dar uma resposta”.

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Após uma auditoria do órgão federal, em setembro de 2016, o Tecpar teve de parar a fabricação dos kits antes do fim do ano e solicitou verbas para adequação. A alegação do governo é de que não há dinheiro para o investimento no laboratório, que fabricava os kits a preço de custo.

Enquanto o Paraná produzia quase 10 milhões de kits por ano, em São Paulo, a produção era próxima a 3 milhões anuais - neste ano, já deve ficar perto de 4 milhões, segundo estimativa do IB.

“Nós também fomos pegos de surpresa com a notícia da paralisação do Tecpar, pois tivemos que cobrir parte dessa produção e do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose, que está mais restritivo e prevê 12 milhões de doses para dar conta do rebanho nacional”, afirma o responsável técnico pela produção paulista, Ricardo Jordão.

Como o instituto paulista ainda não consegue fornecer a maior parte dos kits para os produtores rurais, o Ministério da Agricultura precisou adotar emergencialmente a importação de kits do Uruguai e da Argentina. A medida, que seria paliativa, tornou-se definitiva neste ano, o que impactou diretamente no preço, segundo Jordão: “O importado custa quase 50% a mais que o produto nacional”.

Impacto econômico da brucelose

Segundo o IB, sem os testes não é permitido compra, venda, trânsito e exportação de bovinos. Além disso, a brucelose traz prejuízos da ordem de US$ 448 milhões no Brasil, estima o instituto paulista. Se identificada a doença, o produtor deve sacrificar o animal, comenta Jordão.

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Por isso, é necessário que os testes tenham alto grau de precisão, sendo necessário o apoio do setor público na produção, segundo Félix: “Nós queremos continuar, pois é um produto com boa aceitação no mercado”.

Jordão complementa: “Não adianta produzir sem confiabilidade, pois não estamos falando só de numero de doses”. Ele explica que em São Paulo o instituto conta com o apoio do governo estadual para a produção, mas que a entidade também está na expectativa de receber recursos federais para aumentar a produção e atender toda a necessidade do Brasil.

Ademais, a falta dos kits pode impactar diretamente a produção de carne e leite brasileira: “Dados indicam a brucelose como a responsável pela diminuição de 25% na produção de leite e de carne e redução de 15% na produção de bezerros. Há ainda estimativas mostrando que a cada cinco vacas infectadas, uma aborta ou torna-se permanentemente estéril. Há estimativas de que animais contaminados percam de 10% a 25% da sua eficiência produtiva, além da perda do prestígio e da credibilidade da fazenda em há casos positivos de tuberculose”, completa Jordão.