Investimento falava em boi gordo, mas não possuía lastro para a quantidade de investidores atraídos pelo negócio| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Doze áreas rurais totalizando 53 mil hectares, que pertenciam à massa falida da Boi Gordo, no Mato Grosso, foram arrematados em leilão pelo dono da cerveja Itaipava, Walter Faria, investigado pela operação Lava Jato, e pelo ex-técnico da seleção brasileira de futebol, Wanderley Luxemburgo, e mais dois grupos empresariais.

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O leilão, que aconteceu dia 14, em São Paulo, bateu o martelo em um valor quase quatro vezes maior do que o preço mínimo, de R$ 18 milhões. Por outro lado, os R$ 67 milhões oferecidos representam um deságio de 62% na avaliação inicial das terras, de R$ 177 milhões. O consórcio vencedor já fez o depósito de 20% do lance e 4,5% de comissão, obrigatórios para validar a transação.

As terras leiloadas são as últimas da Fazendas Reunidas Boi Gordo, empresa que faliu em 2004 deixando um passivo de R$ 4,2 bilhões junto a mais de 32 mil credores, a quem prometia os melhores rendimentos de mercado, com juros de 2 a 3% ao mês. O modelo seguia um sistema de pirâmide financeira, insustentável a médio prazo, em que os novos investidores pagavam o rendimento dos que tinham chegado primeiro.

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Depois de brigar por quase uma hora fazendo mais de 40 lances, quatro empresas decidiram entrar em acordo e formaram o consórcio Zuquetti & Marzola Participações e Representações Ltda, que acabou vencendo o leilão no 43º lance. A disputa, presencial e online, foi intermediada pela Lut Leilões a mando do juiz de Direito da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo, Marcelo Sacramone.

Entre os novos donos das fazendas no município de Comodoro, no Mato Grosso, estão o ex-técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, e o empresário Walter Faria, dono da cervejaria Petrópolis (das marcas Itaipava e Crystal). Faria é investigado pela Operação Lava Jato por repassar dinheiro para a Odebrecht pagar propina e doações a políticos, no Brasil, sendo ressarcido pela empreiteira através de depósitos em contas na Suíça.

Mais dinheiro a caminho

Segundo o promotor de Justiça que acompanha o caso, Eronides Santos, da Promotoria de Justiça de Falência do Ministério Público de São Paulo, o trabalho de encerramento da falência deve durar mais três anos, devido a uma nova fase de busca de bens dos ex-sócios da companhia. “Estamos conseguindo trazer para a massa falida da Boi Gordo esses bens desviados, que serão avaliados e leiloados. Nossa expectativa é que a incorporação desses imóveis, a maioria rurais, traga cerca de R$ 500 milhões a mais em bens à massa falida”, diz Eronides.

A Boi Gordo é a primeira empresa rural que, após falir, ressarcirá seus credores, de acordo com o administrador judicial Gustavo Sauer. Antes, Gallus e Arroba’s também abriram falência, mas não conseguiram pagar todos os credores.

Segundo o administrador, em cinco rodadas de leilão, as fazendas Realeza I e II, em Comodoro, obtiveram retorno de 61% da avaliação total da área, ou seja, R$ 317 milhões de um total de R$ 525 milhões. “Eram fazendas que tinham 135 mil hectares. Isso equivale quase a toda a mancha urbana do município de São Paulo, que tem 150 mil hectares. Tentamos vender tudo junto, duas vezes, mas não deu certo. Daí picamos as áreas e vendemos em 47 áreas”.

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No cálculo do administrador da massa falida, entre o que está em caixa e recebíveis, já foram levantados R$ 400 milhões para pagar os credores da Boi Gordo. O valor corresponde a cerca de 30% do que foi efetivamente investido, e 10% da promessa de lucro nos contratos de engorda dos bezerros.

Como a falência é de 2004, anterior portanto à Lei 11.101/2005, vale a regra antiga para organizar o pagamento dos credores. Primeiramente, o administrador da massa falida pagou todos os créditos trabalhistas da Boi Gordo, assim como honorários de peritos e pessoas que trabalharam no processo – totalizando cerca de R$ 80 milhões. O próximo passo, no primeiro semestre de 2018, será pagar créditos tributários e os credores com garantia real (como bancos). Somente depois chegará a vez dos fornecedores e investidores sem garantia (chamados de quirografários), onde estão milhares de pessoas físicas.