Com origem 100% paranaense, o gado Purunã está perto de cair na boca do povo, literalmente e sem dever nada à concorrência pesada de Nelore e Angus.
Quem diz é o chef Junior Durski, dono e criador do Madero, que ostenta o título de “Melhor Hambúrguer do Mundo”. O chef provou e aprovou a carne do Purunã, tanto que decidiu incluir o boi com RG do Paraná no cardápio da rede.
“Ele gostou principalmente da novilha, do sabor, marmoreio, da capa de gordura. Podemos dizer que a homologação já passou, agora é uma questão de acertar a logística de entrega”, conta o diretor de marketing do Madero, Leandro Lorca, a respeito da parceria que está sendo firmada entre o restaurante, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) - responsável pelo projeto Purunã -, a Associação de Criadores da Raça Purunã (ACRP) e o Frigorífico Padrão Beef, de Cascavel, onde está concentrado o rebanho no estado.
A ideia é que o acordo entre em prática ainda neste ano, com três pratos à base do Purunã: bife de chorizo (contrafilé), picanha e assado de tira (costela). Inicialmente, eles serão servidos apenas na loja Prime, que fica no Largo da Ordem, em Curitiba, mas existe a possibilidade de expandir para as outras. “É uma carne super premium, que briga com os tops de qualidade disponíveis no Brasil. Ela tem uma característica muito parecida com o Angus, pensando no marmoreio e maciez”, salienta Lorca. “Esperamos ter também cortes para hambúrguer. Por enquanto ainda não porque o volume que a gente precisa é muito alto”, acrescenta.
Demanda maior que a oferta
Hoje, aliás, o único impedimento para que o Purunã seja mais explorado são os números ainda limitados do rebanho. “O consumo mensal do Madero é de 200 toneladas e é só carne de primeiríssima qualidade. De cada boi, eles pegam de 20kg a 30kg. Então, precisaríamos de uns mil animais por mês. E não temos volume pra isso”, reconhece o diretor de inovação e tecnologia do Iapar, Tadeus Felismino.
Reconhecida em abril de 2017, depois de três décadas de pesquisa, a raça tem atualmente de 7 mil a 8 mil animais registrados, ou seja, uma representatividade minúscula - 0,004% no melhor dos cenários - em relação às 218 milhões de cabeças de gado no Brasil. Por isso, a parceria com o Madero - rede que chamou a atenção, inclusive, do apresentador e empresário Luciano Huck – é vista como uma das melhores vitrines possíveis para a viabilização do Purunã.
“Nossa meta é viabilizar a raça, foi o que buscamos colocando um ‘pit bull’ atrás da gente”, compara Tadeu Felismino. “Na medida em que temos um potencial de mercado desses, uma demanda tão grande quanto essa, nós mesmos temos que correr.”
Como o caminho a ser percorrido é grande - a meta do Iapar é chegar a 30 mil animais em cinco anos -, o trabalho vem sendo feito em várias frentes. Além da parceria com o Madero, uma empresa paranaense de genética animal, dos Campos Gerais, assumiu o desafio de multiplicar o Purunã. “Se fosse só o Iapar, demoraria muito. Eles estão fazendo um trabalho espetacular, com fertilização in vitro para gerar embriões e, com isso, um processo que demoraria 15 anos para pode levar apenas cinco”, explica Felismino. “Metade do resultado volta para o Iapar e a outra metade vai para a empresa, que é quem vai comercializar com produtores. Nossa parte é manter a base genética da raça e o que tiver de material excedente também forneceremos para o mercado em leilões.”
Tipo exportação
Paralelamente, a associação de criadores – hoje com 42 produtores credenciados – tem atuado na propaganda do Purunã entre criadores do Brasil e até do exterior. “Estive no Canadá conversando sobre colocar o Purunã no mercado internacional. É uma raça que se adapta muito fácil. Temos animais em Palmas, no Sul do Paraná, onde é bastante frio, e no Norte do país também, que é quente. Era algo que já tínhamos em mente durante a criação da raça, mas que agora temos notado a campo”, defende o presidente da ACPR, Piotre Laginski.
A rusticidade já despertou o interesse de criadores do Canadá, Nova Zelândia, Canadá e Turquia. “Eles ficaram muito empolgados, porque são pessoas que conhecem as raças, e quando a gente mostrou a configuração, como foi formado, viram com bons olhos o potencial”, diz Laginski. “Acredito que 2018 vamos ter uma grande expansão.”