O Governo do Paraná encaminhou nesta semana ao Ministério da Agricultura um pedido oficial para suspender a vacinação contra a febre aftosa no rebanho bovino a partir de maio do ano que vem, com vistas a obter o certificado máximo de área livre da doença em 2023.
Na avaliação da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), no entanto, o estado reúne condições de obter esse reconhecimento dois anos antes, em 2021, não havendo necessidade de esperar o fim da vacinação nos outros estados que compõem o Bloco V do Programa Nacional de Erradicação de Febre Aftosa (PNEFA), do Ministério da Agricultura. Além do Paraná, estão no Bloco V Santa Catarina (já livre da vacina), Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
“Fazer parte do Bloco V para retirar a vacina não é estratégico para os produtores paranaenses, pois o estado já tem todas as condições técnicas para isso. O pleito da FAEP e outras tantas entidades do setor é que o Paraná siga, de forma independente, o mesmo cronograma do Bloco I, que seria reconhecido como área livre da doença sem vacinação em 2021”, diz o presidente da FAEP, Ágide Meneguette.
Para Meneguette, a medida colocará o Paraná “em outro patamar global como fornecedor de proteínas animais”. A partir da conquista do novo status sanitário, segundo a instituição, o estado poderá buscar novos mercados que pagam mais pela qualidade da carne. E apesar da espécie vacinada contra a febre aftosa ser a bovina, para a federação os impactos vão se refletir em todas as cadeias de proteínas animal e vegetal, principalmente na avicultura e suinocultura, atividades em que o Paraná é referência nacional e mundial, tanto na qualidade como na quantidade produzida.
Isoladamente, não
Largar na frente como área livre de vacinação contra a febre aftosa não interessa à maioria dos pecuaristas do estado, segundo a Sociedade Rural do Paraná (SRP). Afrânio Brandão, presidente do Conselho da SRP, diz que a integração lavoura-pecuária paranaense depende muito do fornecimento de animais do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. E os vizinhos mandam o gado para cá, tradicionalmente, na entressafra. “No dia em que fechar o Paraná, não poderá haver esse intercâmbio. O que vai acontecer? Não produzimos animais suficientes e não poderemos trazer bezerros de outros estados. Isso vai prejudicar uma quantidade muito grande de pecuaristas”, aponta Brandão.
O pecuarista defende que a suspensão da vacina contra a febre aftosa aconteça de forma conjunta. “Se estiver todo mundo integrado, todos os custos serão diluídos. Daí vamos ser todos livres, e as barreiras serão com outros países e em outros lugares. Não vamos precisar de uma estrutura tão pesada e um custo tão alto, prejudicando os pecuaristas que fazem a integração lavoura-pecuária, que não são poucos”, argumenta. “Veja o sarampo, parecia que estava erradicado, e de repente aparece um foco que assusta todo mundo. É um risco que se pode correr, mas tomá-lo isoladamente é catastrófico”.
Em Santa Catarina, que há onze anos é o único do País livre da vacinação contra a febre aftosa, a preocupação está em garantir um sistema rigoroso de controle sanitário nos estados vizinhos, antes do encerramento da vacinação. Segundo o Instituto Catarinense de Sanidade Agropecuária (Icasa), mantido pelas agroindústrias em apoio à estrutura de defesa sanitária do governo catarinense, ainda falta, no Paraná e em outros estados, um plano para identificação individual dos animais, ou seja, a possibilidade de rastrear a carne até o local de nascimento dos bois abatidos.
“É preciso estar atento, porque, de repente, o pessoal está iludido que é só tirar a vacina. Primeiro tem que aumentar a vigilância e saber onde esse animal nasceu. Controlar só pela emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA) não é suficiente. O Paraná, que tem divisa com o Paraguai, pode colocar em risco todo o sistema se isso não for feito. Como vai garantir que o animal não veio do Paraguai?”, pergunta o presidente do ICASA, Ricardo Gouvêa.
Além do Paraná, o Rio Grande do Sul também busca o status de área livre de febre aftosa, sem vacinação. Durante este período de transição, Santa Catarina deverá aumentar a vigilância sanitária. “Nossa estrutura de defesa não será desmontada de maneira alguma, mesmo que o Paraná seja livre de vacinação. O risco é muito grande, são muitos anos de investimento, milhões de dólares e mercados conquistados a duras penas, não dá para facilitar. Não que a gente não confie, mas são medidas que precisamos tomar para não ficarmos vulneráveis”, enfatiza Gouvêa.
Do outro lado da divisa interestadual, o diretor presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz, defende a estratégia de buscar a suspensão da vacinação do rebanho bovino estadual, de 9,5 milhões de cabeças. Segundo o governo paranaense, o Ministério da Agricultura, em auditoria realizada em janeiro, confirmou que o estado reúne capacidade técnica, financeira e administrativa do serviço de vigilância da sanidade agropecuária para suspender a vacinação a partir de março de 2019. O reconhecimento de Zona Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação seria concedido pelo Ministério da Agricultura em 2020 e, pela OIE, em 2021.
“O Ministério da Agricultura fez uma ótima avaliação do serviço do Paraná. De 27 de agosto a 6 de setembro haverá uma auditoria específica. Se a estrutura for satisfatória, o pleito será iniciado. Se não for satisfatória, não haverá andamento”, diz Kroetz. “Quanto à preocupação dos estados vizinhos”, acrescenta, “ela é recíproca”. “Todo dia sabemos exatamente o que houve de trânsito, de onde veio e para onde foi (o gado). Temos toda a rastreabilidade necessária para o programa de febre aftosa. Se existe alguma preocupação, ela deve ser apresentada formalmente para o órgão competente para verificar isso, que é o Ministério da Agricultura”, afirmou Kroetz.
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