A alimentação é o componente de maior participação no custo de produção animal, exigindo atenção especial dos produtores.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Assim como os humanos, que têm cardápios adaptados à fase da vida e desenvolvimento, a comida das criações não pode ser igual, apesar da abundância de alguns ingredientes como farelo de soja e milho. O rigor com a dieta, por sinal, é até maior entre os bichos porque, afinal, eles comem apenas o que lhes é servido e não têm chance de dar aquelas “escapadas” noturnas para assaltar o armário ou a geladeira.

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Mas o que comem os bichos que nós comemos? Ou, no caso das vacas leiteiras e das galinhas poedeiras, qual é o cardápio daqueles que produzem os alimentos servidos à mesa do homo sapiens?

Uma dieta balanceada e rica em proteína, vitaminas e minerais é a regra na pecuária comercial. Os animais seguem fórmulas “personal diet” prescritas por nutricionistas, além de contar com tecnologias e manejos que visam maximizar o desenvolvimento físico, respeitando o seu bem-estar. Um frango, por exemplo, chega a seguir até cinco dietas diferentes.

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“A alimentação é o componente de maior participação no custo de produção animal, exigindo uma atenção especial dos produtores. Isso implica na escolha cuidadosa dos alimentos, na formulação precisa das rações para o atendimento das exigências em nutrientes e também na correta mistura dos ingredientes”, observa Gustavo de Lima, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.

Essas exigências nutricionais, segundo Lima, variam conforme a espécie, potencial genético, idade, sexo, peso e fase produtiva. O cálculo da quantidade de cada ingrediente da ração é feito com base na sua composição química, digestibilidade e nas exigências nutricionais da categoria de animais a qual se destina. “Deve-se observar também as limitações de alguns alimentos, como problemas de toxidade, manuseio e conservação, além do custo”, esclarece.

Cálculo por computador

Atualmente, os nutricionistas utilizam programas de computador para ajudar a formular a melhor dieta para cada caso, com base em tabelas nutricionais, informações sobre o animal e até no preço dos insumos.

Aves e suínos, por exemplo, assim como o ser humano, têm alta eficiência no processo de digestão, necessitando de dietas concentradas em nutrientes. Ao contrário dos ruminantes, como bovinos e ovinos, que são poligástricos, com o estômago dividido em 4 câmaras, o que lhes confere alta capacidade de fermentação microbiana para digerir alimentos altamente fibrosos, como pastagens e silagens.

No gado leiteiro, a boa alimentação representa até 50% da produção de leite, segundo médico veterinário Stephen Janzen, nutricionista de bovinos da Quimtia. “Há 40 anos uma vaca produzia em torno de 5 litros por dia, hoje ela produz tranquilamente de 30 a 40 litros/dia”, compara. O que revela como a dieta, o manejo e a genética dos animais evoluíram nesse período.

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Por outro lado, uma alimentação deficitária ou em excesso pode fazer baixar a imunidade dos frangos numa ponta, fazendo-os adoecer, e na outra causar até acidose ruminal no caso dos bois. A comida correta influencia até na questão da temperatura do animal, amenizando o calor e melhorando a digestão.

Por fim, a água também é importante e considerada o nutriente mais crítico nos sistemas de produção animal. Por isso, deve ser fornecida sempre à vontade e em bebedouros próprios para cada espécie, sempre fresca e limpa.

Vacas leiteiras

 

Para produzir leite de qualidade e em quantidade as vacas leiteiras recebem uma alimentação que se divide em duas partes: o volumoso e o concentrado. O volumoso é um pasto ou silagem de milho contendo o máximo de proteína e energia. No inverno, por exemplo, o gado recebe silagem de aveia ou azevém, que são ricos em proteína. No comparativo, a pastagem de azevém chega a 24% de proteína, enquanto que a silagem de milho tem em torno de 7%. “Tem que conciliar o teor de proteína e energia de acordo com a fase de produção ou período de lactação. Uma vaca no início de lactação tem exigência maior de energia do que uma mais para o final do período”, explica o veterinário Stephen Janzen, nutricionista de bovinos da Quimtia. Já o concentrado é uma mistura de farelo de soja, farelo de trigo e milho, e um núcleo de contém minerais (cálcio, fósforo, selênio e zinco, entre outros), vitaminas (A, D e E) e aditivos como tamponantes (usados para regular a acidez do rúmen) e adsorventes de micotoxinas (aditivo utilizado para diminuir os impactos negativos causados pelas toxinas produzidas por diferentes tipos de fungos). Na vaca, o período de produção de leite é de mais ou menos 305 dias por ano. Uma boa alimentação garante que a produção seja adequada, de acordo com o período de lactação dos animais, segundo Janzen.

Gado de corte

 
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Da mesma forma que as vacas leiteiras a alimentação do gado de corte consiste em uma mistura de volumoso e concentrado. As quantidades de energia, proteína, vitaminas e minerais são um pouco diferentes. Um animal criado em confinamento recebe basicamente silagem (planta de milho picada) ou outro volumoso disponível, adicionando o concentrado. Se for criado no pasto, a vegetação precisa ser de boa qualidade para que o boi chegue ao abate em no máximo 3,5 anos. A ração deve ser complementada com macro e micro minerais e vitaminas. Isso para regular as funções fisiológicas do animal. Tanto para o gado leiteiro quanto para o gado de corte a água deve ser fornecida à vontade. As exigências nutricionais variam conforme a raça. No caso dos bois e vacas, o excesso de energia (amido) pode ser um problema, causando a chamada acidose ruminal, explica Janzen. Esse problema pode comprometer o desempenho tanto na produção de leite quanto no ganho de peso.

Frango

 

A dieta do frango é muito importante para girar rápido a criação – o ponto de abate do animal é entre 40 e 45 dias. Para isso, os nutricionistas costumam dosar o mínimo necessário de aminoácidos (metionina, lisina, treonina e valina), energia metabolizável, proteínas, carboidratos e outros nutrientes, além de minerais como cálcio, fósforo, sódio, selênio, zinco, cobre, manganês, ferro e iodo. De acordo com a zootecnista Daniely Salvador, coordenadora técnica da Quimtia, um frango chega a ter até 5 dietas diferentes, conforme a fase de crescimento. Como o animal precisa ganhar peso rapidamente ele recebe alimentos como milho, farelo de soja, sal, calcário, aminoácidos sintéticos, farinha de carne e óleo de soja ou de vísceras de aves. A água deve ser limpa, fresca e clorada.

Galinha poedeira

 

Ao contrário do frango, a alimentação de uma galinha poedeira tem menos energia. “Não queremos um animal gordo, queremos que ele tenha uma conformação boa para gerar ovos por bastante tempo”, pontua Daniely Salvador. Para começar a produzir com 17 semanas, a galinha recebe 4 tipos de ração antes de começar a fase poedeira. Depois, para manter o ciclo de produção – e atingir o pico produtivo e mantê-lo pelo maior tempo (até 90 semanas) – recebe outras 4 dietas diferentes. A diferença aqui é a dose de cálcio, que por causa da casca do ovo precisa ser maior que a do frango. Além disso a galinha recebe proteína (aminoácidos), ácido linoleico (influencia no tamanho do ovo), fósforo, sódio, vitaminas e minerais. Um segredo para deixar as galinhas magras é dar farelo de trigo, que por ser um composto com bastante fibra dá saciedade sem gerar ganho de peso. E uma curiosidade: o caroteno presente no milho é responsável pela cor mais amarelada da gema do ovo.

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Suínos

 

Ao contrário do que se imagina, a ração para suínos hoje em dia se concentra mais no desenvolvimento da carcaça do que na engorda do animal, ou seja, ele deve ganhar músculo e não gordura. Para isso, conforme explica o zootecnista da Quimtia José Luiz Schneiders, a alimentação dos suínos se concentra em milho, farelo de soja e aminoácidos, principalmente a lisina. “Os vegetais brasileiros são pobres em microminerais (manganês, zinco, iodo, ferro, cobre e selênio) e vitaminas (A, D, E, K, B1, B2, B6, B12, ácido pantotênico, ácido fólico, niacina e biotina). Então, é preciso que sejam complementados sinteticamente na ração, além de acrescentar calcário, fosfato bicalcio e sal”, observa Schneiders. Um suíno chega ao peso ideal para o abate, entre 100 kg e 110 kg, por volta dos 140 dias de idade. Um animal mais velho come mais ração do que um jovem, por isso ela é mais concentrada em nutrientes no início da fase produtiva, e menos concentrada conforme o crescimento do animal. Em tempo: a hidratação é feita com água à vontade, corrente, fresca e de qualidade, sem excesso de cloro.