O governo federal aproveitou a crise no setor de proteína animal, após a deflagração da Operação Carne Fraca, há quase duas semanas, para atualizar o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa). Entre as mudanças está um aumento de mais de 3.000% na multa aplicada por fraudes.
Apesar de a nova regulamentação ser apresentada no dia em que a anterior completou 65 anos, tentativas de alteração ocorriam há mais de dez anos no Ministério da Agricultura. No entanto, segundo o ministério, o corporativismo de servidores e a resistência de empresas ao aperto da fiscalização impediam as mudanças.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, relatou que o antigo regulamento previa a fiscalização de doenças que nem existem mais hoje, e o atual orientará, por exemplo, a fiscalização de outras enfermidades que surgiram nas últimas décadas, como a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como o “mal da vaca louca”.
O novo decreto, assinado nesta quarta-feira (29) pelo presidente Michel Temer, retira poderes de fiscais do setor, na tentativa de evitar novos casos de corrupção, e ainda amplia punições para empresas que fraudarem o sistema: a multa máxima prevista para fraudes no setor sairá de até R$ 15 mil para até R$ 500 mil.
Na avaliação do secretário executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, feita durante a cerimônia no Palácio do Planalto, o novo decreto acaba com a política de “criar dificuldade para vender facilidade”, uma referência ao amplo poder dado aos fiscais do setor.
Segundo o ministério, a nova regulamentação, apesar de simplificar os procedimentos, não reduzirá as regras para segurança sanitária. Maggi avalia que o decreto torna as normas mais claras, retirando do fiscal o poder de interpretação.
As indústrias que cometerem irregularidades serão punidas com multas mais altas e correrão o risco de perda do selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), necessário para a comercialização de carnes. Haverá três faixas de penalidades: leve, grave e gravíssima.
Caso alguma das empresas sofra três advertências gravíssimas em um ano, o selo será cassado. “Se não tem SIF, não tem como trabalhar”, disse o ministro. Segundo ele, até então frigoríficos eram punidos com interdições que poderiam ser revertidas na Justiça.