Unidade de suínos da Frimesa, em Medianeira: central cooperativa está com 128 caminhões parados entre os diversos bloqueios no país.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Dia 17 de maio o Brasil comemorava a abertura das portas para vender ao quarto maior comprador de carne suína do planeta: a Coreia do Sul autorizava, definitivamente, a entrada do produto brasileiro, retomando parte do mercado perdido após o embargo russo. Agora, as exportações que estariam no oceano, rumo à Ásia, estão paradas nas estradas, devido à greve dos caminhoneiros.

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As quatro plantas autorizadas a exportar para a Coreia ficam em Santa Catarina: Aurora, BRF, Pamplona e Seara. Contudo, elas não são as únicas a sofrer com a ‘parada forçada’. A paranaense Alegra Foods, por exemplo, exporta entre 25% e 30% de sua produção. Dois grandes mercados compradores ficam justamente na Ásia: Hong Kong e Cingapura.

“O cliente até entende em um primeiro momento, quando falamos que atrasou uma semana ou dez dias. Mas como as cargas de navios são semanais, na segunda semana começa a complicar. O detalhe é que pagamos por um espaço vazio nas embarcações, já que as cargas estão paradas”, afirma o superintendente da Alegra, Inovei Durigon.

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Produção de carne suína no Brasil

Os três estados do Sul são líderes na produção de carne suína. Santa Catarina detém 26% dos abates nacionais, seguido por 22% no Paraná e 20% no Rio Grande do Sul. Em relação às exportações, o estado catarinense é responsável pelo envio de 38% das cargas ao exterior. O Rio Grande do Sul representa 30% das exportações nacionais e o Paraná 13%.

A Alegra está, neste momento, com 20 caminhões cheios no pátio da empresa, nos Campos Gerais. “Nossa estocagem está tomada”, afirma Durigon. Outros 20 caminhões estão nas estradas. Os dados valem tanto para veículos destinados ao mercado interno, quanto aos que enviam o produto às exportações.

A cada dia parados nas estradas, o saldo negativo aumenta. Em cinco dias de greve, o prejuízo já soma R$ 3 milhões, estima o superintendente. “O perda vai além da carne: temos pagamentos de funcionários e também alimentação restrita dos animais, que acabam passando stress, redução de peso. Essa é parte mais crítica: manter o bem-estar animal”, afirma Inovei Durigon.

Outra marca paranaense que está vendo sua carne literalmente apodrecer nas estradas é a Frimesa. Ao todo, são 128 caminhões parados entre os diversos bloqueios no país. Dez carretas, aproximadamente, são de carne resfriada. Elias Zydek, diretor executivo da central cooperativa, disse à Gazeta do Povo que essa modalidade de carregamento está ‘perdida’: “Ela dura no máximo oito dias, agora nenhum cliente vai aceitar”.

Produção de carne suína da Frimesa, em Medianeira (PR) 
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Além dos veículos nas estradas, outros 45 caminhões estão parados nos pátios da Frimesa, todos carregados. A produção, realizada em Medianeira e Marechal Cândido Rondon, somaria 8 mil suínos por dia em períodos normais. As exportações representam 15% dessa produção. “Isso significa 4 mil toneladas mês. Já perdemos os embarques da semana”, afirma Zydek.

A exemplo da Alegra, a Frimesa também alegra preocupação com a falta de alimentação para as granjas dos cooperados. “Nem todos estão recebendo ração porque alguns bloqueios, como em Céu Azul, não estavam permitindo a passagem. Temos toda uma equipe técnica ajudando no racionamento. Em uma semana conseguimos segurar, mas o estrago já está grande. Nosso prejuízo passou de R$ 10 milhões. O ano está perdido”, confessa o diretor executivo.

Ambos os executivos cobram uma decisão rápida do governo para resolver o impasse. “A greve se tornou uma questão política, está havendo muito radicalismo e está prejudicando a economia”, afirma Elias Zydek.

“Entendemos a manifestação e o governo precisa tomar decisões mais rápido. A população não está preparada para essa situação, e acreditamos que o movimento já atingiu seu objetivo de mostrar força. Esperamos que até segunda-feira haja um entendimento”, completa Inovei Durigon.

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