Primeiro a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investigou um esquema de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e políticos deu um golpe na credibilidade do mercado. Agora, a delação de Joesley Batista, um dos donos da JBS, que implica diretamente o presidente Michel Temer (PMDB) em um escândalo de corrupção. O ano de 2017 tem sido de reviravoltas para o setor de carnes, que movimenta cerca de R$ 180 bilhões todos os anos e gera mais de 7 milhões de empregos no Brasil (ver gráfico).
A JBS, um dos grupos que detém o protagonismo nesse mercado, é a maior empresa fornecedora de proteína animal do mundo. Esse status foi obtido na última década, principalmente de financiamentos bilionários concedidos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Hoje, as marcas pertencentes a esse grupo chegam a 150 países. São mais de 200 mil funcionários espalhados pelo mundo. Por isso, é impossível descolar o desempenho brasileiro no mercado mundial de carnes do resultado da JBS.
Com as ações da companhia caindo na casa de dois dígitos na bolsa nesta quinta-feira (18), com uma economia cambaleante e com a incerteza política, o que esperar então do segmento de proteína animal no Brasil em 2017?
Incertezas dominam projeções de especialistas
Apesar de o cenário soar com certo ar de tragédia em um primeiro momento, Fernando Henriques Iglesias, analista de mercado da Safras e Mercados, vê um horizonte de certo otimismo para a proteína animal brasileira. “O primeiro aspecto a ser analisado é a paridade cambial, pois com o real se desvalorizando, isso deixa as commodities brasileiras mais competitivas. Além disso, não tem nenhum outro país no mercado internacional capaz de suprir o volume que o Brasil oferta”, aponta. “O que pode acontecer é que o importador deve tentar conseguir preço mais vantajoso, mas de uma maneira geral Brasil vai continuar sendo um player muito forte”, completa.
Maggi: política não atrapalha exportações se empresas mantiverem qualidade
Estadão Conteúdo
Em viagem ao Oriente Médio para reabrir mercados à carne brasileira o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse nesta quinta-feira (18) que a política não deve atrapalhar as transações da JBS, “se eles tiverem produtos”. Ele comentou, porém, que as notícias sobre a delação do dono do frigorífico, Joesley Batista, implicando o presidente Michel Temer, ainda não chegaram à Arábia Saudita, onde se encontra o ministro.
Segundo Maggi, os compradores de carne brasileira têm total atenção sobre a atitude dos produtores. “Vão continuar a entregar matérias primas para eles na confiança? É assim que este negócio funciona. Você vende e recebe depois de 20 a 30 dias”, explicou.
Maggi iniciou na semana passada um giro por países do Oriente Médio para reafirmar a qualidade da carne brasileira, após as dúvidas lançadas pela operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Caio Toledo, consultor de pecuária da INTL FCStone, enfatiza que a insegurança inevitavelmente vai dominar o mercado – especialmente nesses primeiros dias. “Surgem especulações, mas o mercado de carnes não deve ter nenhuma variação pelo envolvimento da JBS nos escândalos. O que pode afetar, sim, seria algo econômico. A volta do desemprego, a queda da renda, isso sim poderia afetar o consumo de carnes. Mas em linhas gerais as pessoas não vão deixar de comer carne porque a JBS está envolvida em um escândalo político”, avalia.
Preços vão baixar, diz coordenador do LapBov
Já Paulo Rossi, zootecnista, coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o LapBov, está mais receoso quanto aos próximos episódios dessa história. Para ele, os preços no mercado interno, inevitavelmente, vão baixar. “Ainda é especulação, mas se a investigação virar para o lado da JBS, a empresa vai ter dificuldade para operar. E o setor já está com dificuldade, o consumo interno está ruim e a exportação segue freada por causa da operação Carne Fraca. Se de repente o maior frigorífico para de operar, ou seja, parar de comprar carne, isso gera problema”, analisa.
Rossi relata que a diminuição no ritmo do mercado também deve partir dos próprios pecuaristas. Ele diz já ter recebido informações de fazendeiros que suspenderam as vendas de gado para o abate à JBS. “Eu particularmente considero um momento para manter a calma. Não acho que uma empresa desse tamanho vai ter um problema da noite pro dia, mas o pecuarista está receoso, até porque o boi é um negócio muito particular. Se você vende hoje, não tem como no outro dia ir lá e desfazer o negócio, o animal já foi abatido, está ‘desmontado’. Esse é um grande problema”, alerta.
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