As notícias não são nada boas para os apreciadores de salmão e amantes de sushi. Um parasita minúsculo, crustáceo conhecido como piolho do mar, está cada vez mais grudado aos salmões criados em cativeiro, levando os peixes à morte ou tornando-os inadequados para o consumo humano. Só em 2016, segundo o jornal britânico The Guardian, o preço internacional do salmão no atacado subiu 50%, enquanto a produção mundial encolheu 9%.
Para piorar o cenário, na semana passada o peixe róseo-avermelhado virou um caso de crime federal nos Estados Unidos. Uma reportagem investigativa da Associated Press mostrou que parte do salmão que os americanos compram na rede Walmart, por exemplo, é produzida por norte-coreanos em regime de semiescravidão na China, subsidiando de forma indireta o programa nuclear do ditador Kim Jon-un – que se apropria de 70% do salário de seus trabalhadores expatriados.
Os trabalhadores coreanos da fábrica de Hunchun, cidade chinesa perto da fronteira com a Coreia do Norte, ganham salário de 46 centavos de dólar por hora, em jornada de 12 horas por dia, seis dias na semana. Eles têm de vestir uniformes azuis, para se diferenciar dos chineses, e não podem deixar a fábrica sem permissão. Também não têm acesso a telefone ou email e são vigiados por monitores para evitar fugas.
Após a publicação da reportagem, o Walmart informou que proibiu os fornecedores de comprarem frutos do mar e salmão processados da fábrica de Hunchun. Cidadãos americanos que importem produtos feitos por norte-coreanos de qualquer parte do mundo estão sujeitos a responder por crime federal, conforme decreto sancionado em agosto pelo presidente Donald Trump.
Fazendas sob ataque
O Brasil não produz salmão, um peixe típico de águas frias, e para abastecer o mercado interno depende de trazer o pescado principalmente do Chile e de países como Canadá, Escócia e Noruega, todos enfrentando agora uma epidemia de parasitas nas fazendas de confinamento.
Medindo pouco mais de um centímetro quando adultos, os copépodes são considerados o maior grupo de organismos pluricelulares do planeta, superando até os insetos. Os parasitas não são problema grave no habitat natural dos salmões, já que, quando o peixe sobe o rio para a desova, os piolhos morrem por não suportar a água doce. Mas nas fazendas de confinamento os piolhos encontram condições favoráveis para infestar os peixes e sugá-los até a morte.
Pesquisadores dos dois hemisférios estudam formas de vencer as infestações de piolhos do mar em peixes como salmão, robalo e tainha. Em entrevista à revista chilena Aqua, a pesquisadora Francisca Samsing, bolsista da Universidade de Melbourne, disse que o foco está no controle por métodos mecânicos, já que o uso de antibióticos e pesticidas não vem mais funcionando, por que os microcrustáceos adquiriram resistência.
O controle mecânico se baseia na fisiologia do parasita e em sua debilidade frente a mudanças bruscas de temperatura ou de salinidade da água. Um desses métodos se chama desparasitação térmica, em que os peixes são colocados em água do mar a altas temperaturas (de 28 a 35 °C) por poucos segundos. “O método é relativamente eficiente para reduzir a população de parasitas, mas há casos em que acaba provocando mortandade dos peixes”, diz Francisca. Outros experimentos, em estágio inicial, envolvem produzir sombra sobre as gaiolas dos peixes, já que os copépodes precisam de exposição à luz para se multiplicar.
Controle natural
A situação é menos problemática no Canadá, na costa do Pacífico, onde a população de salmões em cativeiro é pequena quando comparada aos peixes silvestres que migram todos os anos para o oceano. “Esses salmões silvestres mantém uma população de piolhos do mar que não foram tratados com fármacos antiparasitários, e assim o fluxo de genes silvestres dilui os genes resistentes que podem aparecer nas populações de cultivo. Na criação de salmões no Chile e Noruega, não existe atualmente uma população de refúgio ou não tratada com remédios para manter o efeito de diluição que se observa no Canadá”, afirmou a pesquisadora.
Para completer a maré de azar para o salmão (ou para os apreciadores do peixe), no final de agosto houve ruptura nas telas de uma fazenda próximo de Seattle, nos Estados Unidos, lançando mais de 100 mil peixes de cativeiro no Oceano Pacífico. Oficiais declararam estado de emergência, temendo que os salmões de cativeiro espalhem doenças e enfraqueçam as espécies silvestres, pelo cruzamento. Esses peixes fugitivos já chegaram até a Ilha de Vancouver, na Colúmbia Britânica, onde o governo canadense incentiva os pescadores a retirá-los da água.
“Eles não têm na verdade cheiro de salmão”, disse um índio americano à agência Bloomberg. Apesar de alguns parecerem salmões normais, outros tinham “mandíbulas apontando para direções diferentes”. “Eu não comeria esses peixes”, disse o nativo. As chances de um salmão infestado com piolhos chegar à mesa dos consumidores são pequenas, segundo a reportagem da AP, porque há uma rigorosa inspeção antes de serem embalados. E mesmo que alguém se alimente dos crustáceos parasitas, eles não oferecem ameaça à saúde humana, apenas deixam o peixe hospedeiro fraco e doente – em outras palavras, pouco apetitoso.
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