Entre 2014 e 2016, a temperatura do oceano ficou acima da normalidade durante 14 meses. Foi o maior tempo de El Niño registrado nos últimos 65 anos, causando grande impacto na distribuição e na quantidade de chuvas no Brasil.
No ano passado, para se ter ideia, houve maior volume de chuvas nas regiões Sul e Sudeste, o que favoreceu o acúmulo de água no solo e a recuperação dos recursos hídricos. Entretanto, as anomalias climáticas provocaram forte estiagem na região do Brasil Central, atingindo principalmente os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Como consequência, houve grande prejuízo na safrinha de 2016.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Daniel Pereira Guimarães, os estados mais afetados foram Goiás e Mato Grosso, por isso, ele considera que problema é um indicativo para que os produtores invistam em irrigação. “Muitas vezes o produtor já vende a safra antecipada, antes da colheita, confiando no clima. E quando não chove, há um grande prejuízo. Por isso, os sistemas irrigados apresentam-se como uma das estratégias de mitigação em regiões com déficit hídrico para a produção de grãos”, afirma.
Ele ressalta ainda que atualmente o uso de tecnologias espaciais permite monitorar as condições do clima em todo o planeta. Desde maio de 2016, já ocorre um longo período de estiagem no Espírito Santo, em regiões do Jequitinhonha e norte de Minas Gerais, no sul da Bahia e Vale do São Francisco até o interior do Estado de Pernambuco.
“Estes locais se encontram em condições climáticas severas, com a temperatura bem maior do que a média esperada para o período. As áreas mais afetadas são as pastagens. Há riscos de aumento das áreas queimadas e redução drástica nos recursos hídricos provenientes das lagoas e rios. O produtor precisa se preparar para armazenar água, evitar queimadas e, principalmente, fazer a silagem para alimentar o gado”.
Zoneamento
O zoneamento de risco climático do Ministério da Agricultura apresenta recomendações de épocas de semeadura para o cultivo de milho de sequeiro, na primeira e segunda safras, mas não aborda especificamente períodos de semeadura para o milho irrigado. Mesmo não ocorrendo estresse hídrico, por causa do uso da irrigação, outros elementos do clima afetam a produtividade do milho e, por isso, deve-se avaliar a época mais adequada para o plantio.
Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Milho e Sorgo, para Minas Gerais, buscou determinar, por meio de simulação, o melhor período de semeadura. Foi utilizado o modelo de simulação para milho da suíte de programas Decision Support System for Agrotechnology Transfer (DSSAT), em conjunto com os dados históricos de clima e dados atributos físico-hídricos de perfis de solo.
O trabalho foi liderado pelo pesquisador da Embrapa, Camilo Andrade tinha como objetivo simular o rendimento de grãos e determinar a janela de semeadura do milho, sob irrigação.
O estudo foi realizado em 19 municípios de Minas Gerais para os quais se dispunha de dados completos de clima e solo. Andrade explica que foram simuladas 52 épocas de semeaduras com intervalo semanal. O início do plantio foi em 1° de agosto e o término em 24 de julho. “A pesquisa indicou que o mês de fevereiro é o mais recomendado para a semeadura de milho irrigado, na maioria das cidades. O plantio fora desta época limita a produtividade que, em algumas cidades, pode ser até 30% menor que na melhor data de semeadura”, ressalta.
Eficiência
Para Andrade, os sistemas irrigados são uma alternativa para mitigar os efeitos de estresse hídrico decorrentes de irregularidades no regime de chuvas. “Entretanto, por causa da competição pelo uso da água e dos períodos de escassez hídrica, é preciso adotar estratégias de manejo que otimizem o uso deste recurso”, afirma o pesquisador .
Ele destaca que o período mais amplo de semeadura do milho irrigado foi de 21 de novembro a 5 de junho, em Janaúba, que apresenta condições de temperatura e luminosidade mais estáveis ao longo do ano. Já em Lavras e em Machado, a janela de semeadura foi mais curta, de 16 de janeiro a 20 de fevereiro.
“Não havendo estresse hídrico, os fatores que mais influenciam a produtividade do milho são a insolação e a temperatura do ar. A cultura se desenvolve melhor quando os dias são ensolarados, com temperatura diurna mais alta e temperatura noturna mais amena, que são condições que ocorrem no mês de fevereiro em muitos municípios localizados em altitudes mais elevadas em Minas Gerais”, comenta Andrade.
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