Com a crise do mercado financeiro batendo à porta, o dólar disparou, fazendo os enófilos e apreciadores calcularem melhor suas compras de vinhos importados. Mas por que comprar lá fora a qualidade que se encontra aqui, nesta Terra de Vera Cruz?

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Não é de hoje que a produção vinícola se consolida no país. Foram os italianos que chegaram no começo do século passado, trazendo mudas de vinhas na bagagem, estabeleceram-se na região da Serra Gaúcha e deram o pontapé inicial. Mas os vinhos finos, com qualidade e know-how europeus, só apareceram na década de 1970, quando multinacionais do setor resolveram investir na América do Sul – foi também quando Chile e Argentina descobriram sua vocação para bons vinhos –, aperfeiçoando e financiando as antigas famílias italianas para o plantio de uvas nobres.

Quem conta é o enófilo mineiro e professor Carlos Arruda, que há mais de dez anos se engajou no mundo dos vinhos. Ele traça um mapa da bebida no Brasil, apontando regiões tradicionais, como a Serra e a Campanha Gaúcha (fronteira com Uruguai) e novas apostas como o Planalto Catarinense, que diz ser a nova Meca dos vinhos no país. “Tem saído vinhos muito interessantes dali. Uma região de grande altitude, com chuva e sol intensos nos períodos certos da uva”, diz.

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Arruda afirma ainda que outros destaques brasileiros são o Sul de Minas Gerais – onde os produtores fazem experiências com a uva syrah, invertendo o ciclo vegetativo da planta, para se adaptar ao clima local – e especialmente o Vale do São Francisco, nos estados de Pernambuco e Bahia. “Chama a atenção do mundo todo, pois nunca se produziu vinho nessa latitude, quase no sertão brasileiro”, comenta. As uvas syrah, tempranillo e moscatel são os destaques da região que, com uso da irrigação controlada, chega a ter duas safras e meia por ano. “A França tem 700 anos de cultura vinícola, nós só temos 40. Estamos achando nosso caminho”, diz o enófilo Arruda.

Indicações

O sommelier Fábio Carnielli, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers no Paraná, diz que a grande estrela brasileira é o espumante. “O brasileiro pensa muito em vinhos tintos, porém a grande vocação do Brasil é realmente o branco e o espumante. Este último é dos melhores do mundo, concorre de frente com italianos, espanhóis e portugueses”, conta.

Ele indica três rótulos brasileiros. Os dois primeiros são espumantes do grupo Miolo: o Terra Nova Moscatel, da uva adocicada plantada no Nordeste, com 7,5% de álcool, aromas florais com notas damasco e mel, e o Brut, seco, feito de uvas pinot noir e chadornay. “Tem toques frutados, como abacaxi. Harmoniza muito bem com frutos do mar, como anilhas de lula, camarão e ostras, sejam frescas ou gratinadas”, diz. O terceiro rótulo é o catarinense Villagio Grando Sauvignon Blanc, que Carnielle aponta como o melhor branco brasileiro. “É um vinho extremamente elegante, de aromas florais com leve sabor de maracujá na boca. Sua leve acidez proporciona um frescor ótimo para acompanhar peixes na grelha, uma ótima dica para se beber no verão”, indica.

O enófilo curitibano Kleber Robson Souza aponta a merlot como a uva tinta que mais se destaca na serra gaúcha. “Ela tem taninos bastante aveludados. Um vinho elegante e também com uma ótima complexidade aromática, dentro do perfil que se procura nessa variedade”, diz. Ele indica o varietal merlot da Casa Valduga, um vinho encorpado com 13% de álcool, com aromas chocolate e baunilha e taninos maduros.

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