Restaurantes
Casa de comida no Mercês não tem cardápio fixo e aposta nos ingredientes do dia
Tem algo de domingueiro nos pratos da Central do Abacaxi e no modo como são servidos – a massa do pierogi, por exemplo, é aberta na hora em que a comanda chega à cozinha. As receitas têm origens afetivas, como o curry vermelho inspirado por uma amiga coreana; o pierogi ser receita de avó de Amanda Kosinski e a torta de banana, um prato da mãe de Camila Lovato, sócias e cozinheiras da Central.
O sentimento também aparece na construção de relacionamento: alguns fornecedores de orgânicos trocam seus ingredientes por refeições e todas as panelas e formas da cozinha foram presente de amigos e parentes. Os pratos salgados vêm em louças descombinadas, as porções e sobremesas, em uma peça de azulejo. O café orgânico, comprado de um assentamento sem terra, é mantido em um bule e servido à mesa como se fôssemos visitas. Todo dia é domingo na Central do Abacaxi e tudo na casa inspira intimidade – talvez porque, enquanto reformavam o local, as proprietárias moraram lá por oito meses.

“Não temos cardápio fixo, por isso não chamamos de restaurante, mas de casa de comer. Não tem muita regra. Todo dia tem um sanduíche e um prato com entrada aproveitando ao máximo os ingredientes que recebemos na semana. Os clientes chegam e vamos cozinhando no embalo”, explica Amanda, cozinheira com formação pelo Senac e Universidade Positivo e pós-graduação em pâtisserie e boulangerie pela mesma instituição. Ela e Camila tocam a cozinha sozinhas, com auxílio para o salão. A pegada slow food e o serviço informal, no entanto, não significam lentidão no atendimento.
A Central do Abacaxi abre de quinta a domingo e toda semana há um prato com massa (à moda italiana ou polonesa), peixe nos meses mais quentes e opção vegetariana diária. Os pratos do dia custam entre R$ 25 e R$ 40 e acompanha uma entrada. “Dificilmente a entrada é salada. Quase não compramos alface”, explica Camila, que notou que muita gente deixava as folhas de lado. A solução são petiscos simples como milho verde tostado ou combinações como abacaxi com creme azedo, pepino fresco, gengibre e limão.
Os sanduíches são montados em pães de fermentação natural da Pão de Bixo e da Magrela Laboratório de Pães e vêm com acompanhamento (R$ 20). No dia em que a reportagem esteve no local, o cardápio era arroz com salada de abobrinha e gengibre e peixe com curry vermelho (R$ 27) e o sanduíche era de chutney de berinjela, salsinha, tomate assado e queijo purunga. De sobremesa, torta de banana com doce de leite feito na casa e crosta de aveia (R$ 7 a fatia). Na segunda semana do mês, sexta é dia de pizza com massa de fermentação natural (R$ 40 a unidade) e no sábado, pierogi. Para aperitivar, licor de abacaxi com cataia (R$ 7 a dose); no inverno a bebida muda. A casa também serve chope Xamã, cerveja e suco do dia.

A Central do Abacaxi começou em novembro de 2014, quando a dupla vendeu sanduíches em um evento. De indicação em indicação, pedalaram com botijão de gás e mise-en-place na bicicleta para trabalhar. A comida era de rua: algo que desse para comer em pé, usando uma das mãos – sanduíches, porções, algo na cumbuca.
Quase dois anos depois, em uma dessas pedaladas, Camila subia a Alameda Júlia da Costa e topou com o anúncio de aluguel. Aproveitaram a oportunidade para descer da bicicleta e montar uma cozinha fixa. Inauguraram em outubro de 2016, com festa na calçada. O estar na rua nunca saiu delas: a janela da fachada ganha almofadas e vira um banco com mesa e debaixo da árvore elas esticam uma toalha para quem quer aproveitar a refeição na calçada. Como uma família aproveitando o fim de um domingo.
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